4 de março de 2005

Vi-te...

...ali sentada num banco, tosco, de madeira, num corredor de uma aerogare em obras. Lias atentamente uma revista dessas que dizem ser cor-de-rosa mas que só tratam das desgraças de uns e outros. Dizem que é a vida dos famosos. Sei lá.
Fingi que estava distraído, tu também, ambos sabemos isso. Tive vontade de me chegar para ti abraçar-te e pedir-te desculpa. Não tive coragem. Sou um cobarde com as mulheres, não as trato como merecem. Merda de feitio que me complica tanto a vivência interior. Merda de feitio que me atormenta pelo que não tenho a coragem de dizer e de fazer. Sim! Merda de feitio que para umas coisas parece tão corajoso e noutras, bem simples, se esconde por trás de um manto obscuro de maldade.
Sei que nunca me irás perdoar mas, mesmo assim, peço-te desculpa pelos danos que te causei, pela forma como não fui capaz de te tratar.
Embarcaste no mesmo avião que eu. A fila formou-se mesmo à frente das cadeiras plásticas cor de laranja em que eu estava sentado. Tomaste o teu lugar na fila, compenetrada e distante, fingiste, mais uma vez, que não me vias, eu também. Deixei que entrasses no avião, aproximei-me cautelosamente, vi, pelo canto do olho, onde te sentavas e sentei-me o mais longe que pude.
Mal abriram as portas fugi rapidamente em direcção à porta e nunca mais te vi.

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