Não! Na verdade não
temos turistas em demasia nem a nossa região se pode classificar como um destino
de massas. Mais: quem assim a classifica, sendo os mesmos que reclamam dos preços
altos atingidos nas viaturas de aluguer sem condutor e nos alojamentos, entra
numa contradição. Na verdade, a massificação do turismo ou a “turisficação”,
como agora usam dizer, só o é quando o destino é desbaratado o que, na
realidade, não acontece nos Açores. Ainda!
No entanto, há que
tomar medidas para garantir que não crescemos demasiado rápido e que garantimos
uma consolidação da notoriedade do destino e um bom desempenho social do sector,
o turismo só é um sector interessante se for bom para os residentes, caso
contrário torna-se altamente pernicioso. Ou seja, há que garantir que não
perdemos clientes por deixarmos de ser conhecidos e que este fluxo nos garanta
a venda de bens e serviços que permitam uma remuneração dos profissionais de
turismo e do chamado canal “horeca” capaz de nos tirar da situação embaraçosa
em que as nossas finanças regionais se encontram e capaz de garantir um bom
nível de vida a esses trabalhadores e cidadãos em geral.
O turismo é uma indústria
da contemporaneidade, quase todos opinam sobre ela mas poucos a conhecem e
poucos têm dela uma visão geral capaz de olhar com honestidade intelectual e
distanciamento suficientes para fazer uma análise crítica. Até mesmo muitos
operadores, hoteleiros, animadores e guias têm opiniões diferentes sobre o
assunto, uns sabem bastante outros nem por isso e outros ainda nem fazem ideia
do que estão a fazer nesta indústria.
Uma das questões que
mais preocupa o sector e todos os sectores económicos dos Açores é a falta de
mão-de-obra, tenho-o ouvido por todo o lado onde ando e saibam que ando mesmo
por todo o lado e falando com todos os sectores. Até há uns anos dizia-se que faltava
de mão-de-obra qualificada e houve uma aposta forte nessa qualificação, estão
em Londres no Luxemburgo, em Toronto ou nos arredores de Boston. Saíram, na sua
grande maioria, na crise de 2008 e durante a intervenção da troika depois da
bancarrota de José Sócrates e Teixeira dos Santos. Triste sina a deste país que
segue procrastinado. Hoje, já nem se fala de gente sem qualificações, fala-se
mesmo é de falta de gente. Até no sector público há falta de trabalhadores e
candidatos, principalmente para tarefas sazonais mesmo que com garantias de
terem direito ao fundo de desemprego na ápoca baixa. A SATA, por exemplo, teve
dificuldades de contratação de pessoal para os aeroportos das ilhas mais
pequenas para a sua operação de verão. Isso era impensável há pouco mais de
três anos.
Alguns entendem que
temos que importar mão-de-obra. Não acredito numa solução dessas. Não é a opção
e seria um passo para a tal massificação. O que precisamos é de consolidar e
crescer com exigências de qualidade para podermos viver todos melhor.
Uma larga maioria do
investimento efetuado neste sector nos últimos anos, desde qualificação de ativos,
promoção do destino, construção de unidades hoteleiras, restaurantes, carrinhas,
autocarros, infraestruturas e mais e mais, foi financiado por fundos da região
e da união europeia, ou seja, são fruto de uma intervenção macro do
estado/região. Há quem reclame mais investimento e mais apoios públicos para
potenciar mais investimento, o Partido Socialista por exemplo tem “cavalgado”
essa ideia, nada de mais errado. Continuar a promover investimento em novas
unidades hoteleiras e novos restaurantes é continuar no caminho do empobrecimento
de uma larga maioria da população e ao enriquecimento medíocre de uns poucos.
Foi esse caminho que o socialismo da chamada terceira via seguiu e que nos
trouxe ao estado de endividamento em que nos encontramos e que periga inclusive
a própria autonomia regional. É preciso mudar para que os resultados sejam
diferentes.
A única via de consolidarmos
o sector e garantirmos um crescimento sustentável economicamente,
ambientalmente e socialmente é abrandando o nível de subsidiação às empresas e
ao investimento. As empresas, tal como os indivíduos, também se viciam em subsídios
e essa é a nossa realidade, temos um sector empresarial dependente do erário
publico. Só abrandando esse nível de investimentos se garante que haverá
crescimento da procura nas ilhas que ainda têm capacidade de alojamento e só
abrandando teremos números que nos permitam avaliar sobre as políticas de qualificação
e valorização do trabalho. De outra forma estaremos apenas empurrar para diante
um problema que alguém mais tarde não só nos irá cobrar como não terá reverso
possível. A escolha é nossa, saibamos fazê-la.
In jornal Diário Insular edição de 4 de outubro de 2022
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