Em quase tudo nas nossas vidas há um
ponto de equilíbrio que procuramos, ou deveríamos tentar encontrar. Equilíbrio que
permita soluções, não só consensuais, como, acima de tudo, razoáveis.
Na economia, em especial na gestão e quando
temos que fazer opções de investimento na esfera pública, essa busca do que é possível,
do que é equilibrado e do que é razoável deve ser permanente. As opções erradas
(que todos tomamos nas nossas vidas privadas e com os nossos recursos) tarde ou
cedo são pagas, mas isso acontece à nossa custa, à custa dos nossos mais
diretos familiares e ninguém tem absolutamente nada que ver ou a haver com
isso.
Porém, no domínio da gestão da coisa pública
exigem-se escrupulosas escolhas e assertivas opções; que não sejam perdulárias,
pois os erros são pagos por todos e, quase sempre, esses erros beneficiam
alguns, quase sempre, uns poucos… muito poucos!
É, por isso, importante um permanente
escrutínio e uma escrupulosa avaliação do custo versus benefício de uma medida
– o que em gestão se chama: equilíbrio. Este equilíbrio é sempre difícil, particularmente
entre a eficácia e eficiência. Semanticamente semelhantes, tais substantivos
têm, economicamente, significados bastante diferentes. Um dos exemplos que uso,
recorrentemente, para explicar tal distinção é o do avião Concorde (os mais
novos façam o favor de googlar). Essa aeronave transportava à velocidade mach2,
passageiros entre a Europa e a América e era capaz de fazer um voo de Paris
para Boston em metade do tempo de um Boeing 747 (Jumbo) que, à altura, era
considerado o avião mais avançado desde sempre construído. Ora, o objetivo de transportar
passageiros de forma rápida entre um ponto e o outro do planeta foi conseguido
com o Concorde. Era, pois, um avião eficaz. No entanto, o custo da operação e o
próprio custo da construção destas aeronaves vieram a revelar que este projeto
não tinha qualquer viabilidade económica porque não era eficiente… Aquilo que
proporcionara em eficácia não era obtido em eficiência. O projeto, que se
iniciou em 1965, foi assim abandonado em 1978 e os últimos aviões construídos
operaram até 2003.
Por cá, nestas ilhas abençoadas pela Natureza,
mas tantas vezes maltratadas pelos Homens, a relação entre eficácia e
eficiência torna-se ainda mais relevante, atendendo a que a Região é muito
parca em recursos, para não dizer mesmo pobre.
A grande maquia dos recursos que
consumimos, quer para investimento, quer para despesa corrente, provem de uma
espécie de esmolas recebidas, por um lado, da “mão amiga” de Lisboa, através da
Lei de Financiamento das Regiões Autónomas, e, por outro lado, ao abrigo do
designado estatuto de ultraperiferia.
Quando damos uma esmola na rua e a vemos
mal utilizada pelo recetor pensamos de imediato que não a merecia. Essa é a
forma com que, quer os centralistas de Lisboa, quer os burocratas de Bruxelas,
olham para uma Região como a nossa, porque passados muitos milhões de esmolas
não conseguimos sair da situação de mão estendida. Isso porque os poderes de um
passado ainda recente e os de agora se comportaram e comportam como aquele
indigente que circula na baixa de Ponta Delgada, que pede para comer, mas gasta
em bebidas ou drogas; que diz que tem fome, mas, na verdade, tem vícios.
Ora uma Região cujos governos se
perderam e perdem nas eficácias imediatistas do eleitoralismo, em lugar de
prevenir as eficiências de longo prazo; uma Região onde foi mais rápida a
preocupação de substituir uns, de um Partido, pelos outros, dos outros três
partidos, do que reformar a administração pública; uma Região onde foi mais
fácil determinar encerrar empresas públicas sem estudar as soluções futuras,
para fingir que se reforma; uma Região onde se derrama dinheiro nos problemas
em lugar de o usar a prevenir esses problemas… será sempre uma região de pedintes,
cada vez mais olhados com desconfiança por quem ainda vai dando as tais
“esmolas”.
Assim, estamos como antes, mais do
mesmo, com uma subtil diferença: os executantes são diferentes, mas que parecem
pensar muito pior.
E se o socialismo é uma impossibilidade,
o socialismo disfarçado é uma impossibilidade ainda maior.
In Jornal Diário Insular, edição de 26 de julho de 2022
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