29 de julho de 2022
27 de julho de 2022
Uma questão de equilibrio
Em quase tudo nas nossas vidas há um
ponto de equilíbrio que procuramos, ou deveríamos tentar encontrar. Equilíbrio que
permita soluções, não só consensuais, como, acima de tudo, razoáveis.
Na economia, em especial na gestão e quando
temos que fazer opções de investimento na esfera pública, essa busca do que é possível,
do que é equilibrado e do que é razoável deve ser permanente. As opções erradas
(que todos tomamos nas nossas vidas privadas e com os nossos recursos) tarde ou
cedo são pagas, mas isso acontece à nossa custa, à custa dos nossos mais
diretos familiares e ninguém tem absolutamente nada que ver ou a haver com
isso.
Porém, no domínio da gestão da coisa pública
exigem-se escrupulosas escolhas e assertivas opções; que não sejam perdulárias,
pois os erros são pagos por todos e, quase sempre, esses erros beneficiam
alguns, quase sempre, uns poucos… muito poucos!
É, por isso, importante um permanente
escrutínio e uma escrupulosa avaliação do custo versus benefício de uma medida
– o que em gestão se chama: equilíbrio. Este equilíbrio é sempre difícil, particularmente
entre a eficácia e eficiência. Semanticamente semelhantes, tais substantivos
têm, economicamente, significados bastante diferentes. Um dos exemplos que uso,
recorrentemente, para explicar tal distinção é o do avião Concorde (os mais
novos façam o favor de googlar). Essa aeronave transportava à velocidade mach2,
passageiros entre a Europa e a América e era capaz de fazer um voo de Paris
para Boston em metade do tempo de um Boeing 747 (Jumbo) que, à altura, era
considerado o avião mais avançado desde sempre construído. Ora, o objetivo de transportar
passageiros de forma rápida entre um ponto e o outro do planeta foi conseguido
com o Concorde. Era, pois, um avião eficaz. No entanto, o custo da operação e o
próprio custo da construção destas aeronaves vieram a revelar que este projeto
não tinha qualquer viabilidade económica porque não era eficiente… Aquilo que
proporcionara em eficácia não era obtido em eficiência. O projeto, que se
iniciou em 1965, foi assim abandonado em 1978 e os últimos aviões construídos
operaram até 2003.
Por cá, nestas ilhas abençoadas pela Natureza,
mas tantas vezes maltratadas pelos Homens, a relação entre eficácia e
eficiência torna-se ainda mais relevante, atendendo a que a Região é muito
parca em recursos, para não dizer mesmo pobre.
A grande maquia dos recursos que
consumimos, quer para investimento, quer para despesa corrente, provem de uma
espécie de esmolas recebidas, por um lado, da “mão amiga” de Lisboa, através da
Lei de Financiamento das Regiões Autónomas, e, por outro lado, ao abrigo do
designado estatuto de ultraperiferia.
Quando damos uma esmola na rua e a vemos
mal utilizada pelo recetor pensamos de imediato que não a merecia. Essa é a
forma com que, quer os centralistas de Lisboa, quer os burocratas de Bruxelas,
olham para uma Região como a nossa, porque passados muitos milhões de esmolas
não conseguimos sair da situação de mão estendida. Isso porque os poderes de um
passado ainda recente e os de agora se comportaram e comportam como aquele
indigente que circula na baixa de Ponta Delgada, que pede para comer, mas gasta
em bebidas ou drogas; que diz que tem fome, mas, na verdade, tem vícios.
Ora uma Região cujos governos se
perderam e perdem nas eficácias imediatistas do eleitoralismo, em lugar de
prevenir as eficiências de longo prazo; uma Região onde foi mais rápida a
preocupação de substituir uns, de um Partido, pelos outros, dos outros três
partidos, do que reformar a administração pública; uma Região onde foi mais
fácil determinar encerrar empresas públicas sem estudar as soluções futuras,
para fingir que se reforma; uma Região onde se derrama dinheiro nos problemas
em lugar de o usar a prevenir esses problemas… será sempre uma região de pedintes,
cada vez mais olhados com desconfiança por quem ainda vai dando as tais
“esmolas”.
Assim, estamos como antes, mais do
mesmo, com uma subtil diferença: os executantes são diferentes, mas que parecem
pensar muito pior.
E se o socialismo é uma impossibilidade,
o socialismo disfarçado é uma impossibilidade ainda maior.
In Jornal Diário Insular, edição de 26 de julho de 2022
19 de julho de 2022
Entre São Bento e o Raton.
Desculpem-me os mais sensíveis, mas para o peditório de
diabolizar os juízes do Tribunal Constitucional eu não dou. Por uma razão
simples e que quem me lê e ouve há anos já terá percebido. Não temos outro
texto constitucional que nos proteja dos apetites autoritárias e das derivas
fascistas, sejam elas de que tipo forem e mesmo que sanitárias, como temos
vindo assistir (Já agora, era tempo de acabar com as máscaras nos transportes
públicos).
Goste-se ou não, é no Palácio Raton que residem as nossas
garantias da separação de poderes, e é também nesse Tribunal que nos podemos
estribar para vivermos, de facto e de direito, num Estado liberal, democrático
e do direito. Os Juízes do Tribunal Constitucional são os fiscais da
constitucionalidade das leis, são por isso o nosso último reduto, a nossa
última guarda. Já bem basta a enorme quantidade de portarias e despachos que
não lhes passam pelo crivo e que atropelam, diariamente, os nossos direitos,
liberdades e garantias. Na realidade, zurzir nas decisões desses magistrados,
sem antes fazer uma análise do processo legislativo, é a parte mais fácil e a
que todos os politiqueiros e fazedores de opiniões fáceis, sem exceção, recorreram.
Na verdade, o centralismo está um pouco por todo o lado nas
instituições, é um tumor que corrói o sistema político português. Desse
centralismo, queixam-se as autonomias como se queixam outras regiões do país,
assim como reclamam, dentro das Autonomias constitucionais insulares, os de umas
ilhas em relação aos de outras ilhas. A ideia - muito europeia – da aplicação
do princípio da subsidiariedade dos poderes e dos apoios, que derrama por cima
para que chegue abaixo - como escrevi aqui a semana passada - está
absolutamente errada, por ser ineficaz e até ineficiente. Os resultados estão à
vista de qualquer um mais ou menos atento.
No caso em apreço, o da gestão partilhada do mar português, a
questão a discutir, é mesmo o centralismo plasmado no texto constitucional. De
nada serve “espernear” contra os juízes se eles apenas interpretam a lei
fundamental, mesmo que tenha levado voto de vencido o seu Presidente, o que diz
muito mais da figura em causa do que do conjunto dos seus pares, isso nunca
pode servir de argumento para responsabilizar o Tribunal Constitucional. A
nossa constituição é, de certo modo, centralista em relação a muitos aspetos
que importam às autonomias constitucionais, que assim se chamam precisamente
por serem decorrência desse texto.
O centralismo está, como se pode comprovar, no texto
constitucional a autonomia que nos deram não foi uma concessão, foi apenas um rebuçado
embrulhado em papel colorido reluzente com o qual nos contentamos mas que já
não serve - se é que alguma vez serviu -
convenientemente os interesses do Povo Açoriano. É, por isso, urgente rever a
constituição para conferir mais e melhores poderes às regiões autónomas. No
entanto, isso só se faz com o acordo do PSD e do PS, esses são, na verdade, os
dois partidos responsáveis pela existência de travões e entraves às autonomias,
esses são os verdadeiros centralistas e disso não se podem esconder nem escapar
por mais que queiram ou que lhes dê jeito eleitoralista. Viram-se contra os
juízes. Pois é levar!
O verdadeiro e mais pernicioso centralismo está nos Deputados
do PSD e do PS na Assembleia da República, os únicos que já podiam ter mudado o
rumo de Portugal, mas não o fazem. O centralismo está em São Bento não está no
Palácio Raton,
Haja saúde.
13 de julho de 2022
E vergonha Sr. Ministro?
António Costa e Silva foi apresentado à nação como uma
espécie de guru que nos ia salvar a todos, de todos os males do “lock down
covidesco”. Corria ainda o mês de junho de 2020, três meses apenas passados e
já os estados-membros da União Europeia - essa organização internacional
esdruxula - se apercebiam do preço que todos iriamos pagar pela cómoda decisão
do “fique em casa pela sua suade”, tarde ou cedo essa máxima se transformaria
no fique sem casa, sem emprego, sem trabalho. Rapidamente trataram de desenhar
um programa de assistência económica e financeira que redundou naquilo que
sempre redundam esses planos da União. Derramar dinheiro nos problemas, mas
sempre de cima para baixo e bem peneirado que é para fazer jus à tal teoria da
subsidiariedade que a Europa tanto propala, mas que não passa de um sistema de
distribuição pelos que mais têm para tentar chegar à base depois de bem
joeirado. Até mesmo a subsidiariedade nas competências tem tido esse resultado.
Mas nas questões financeiras e económicas, a joeira tem a malha tão fina que na
base os remediados estão a chegar ao ponto de serem quase indigentes. É um
facto, apesar dos triliões de euros que os Estados-membro têm distribuído em
apoios ao investimento e até à perca de rendimento, na base da pirâmide está um
conjunto alargadíssimo de cidadãos para quem esses euros não passam de uma
miragem e uma promessa vã.
O plano de Recuperação e Resiliência não é exceção a esse
processo de dependência e redutora distribuição de recursos no seio da União
Europeia.
Em debate radiofónico no Programa 2 Margens da Açores TSF,
decorria junho desse ano 2020 sobre o PRR, Eu e o Pedro Arruda, na altura
dissemos precisamente que ia acontecer isto que agora está a acontecer. O
dinheiro do PRR não chegará sequer às empresas e muito menos às famílias. Apenas
2% das verbas não foram, até agora, gastas pelo Estado. Somos governados por
medíocres porque os melhores não estão disponíveis para participar na vida
pública.
Este Plano de Recuperação e Resiliência é um logro, uma
mentira, é um plano de recuperação para uns poucos e de resiliência para a
grande maioria dos portugueses onde se incluem os açorianos.
O tal António Costa e Silva, guru dos planos extraordinários
que nos iriam fazer recuperar e que agora é ministro da economia veio dizer, entretanto,
aos açorianos que o PRR foi desenhado sem ter em conta a dimensão das nossas
empresas e a realidade das nossas Ilhas. Obrigado, António Costa e Silva por
assumir o erro. Mas isso não nos traz mais pão para a boca, bem pelo contrário,
retira algum.
Esse foi que mesmo António Costa e Silva que desenhou o PRR. Foi
o incompetente, o incapaz que nos “venderam” como se fosse uma águia da gestão
e da administração. Aliás esse facto,
mais comercial do que real, seria, de imediato, razão para a desconfiança de
todos os Portugueses. Na verdade, os poderes, têm andado a “vender-nos” Dons
Sebastião desde Alcácer Quibir e cada um é sempre pior que o outro.
Haja saúde.
In jornal Diário Insular, edição de 13 de julho de 2022
5 de julho de 2022
Uma tempestade perfeita
A escalada das taxas de juro, a subida
das matérias-primas e a quebra das cadeias logísticas internacionais são
fatores que, associados à estagnação do rendimento das famílias, constituem
aquilo que se pode chamar de uma conjuntura potenciadora de instabilidade em
uma boa parte da humanidade. Há depois ainda uma parte dela – dessa humanidade –
que não sente os reflexos destas crises e conjunturas: é o mundo mais pobre, habituado
a viver com pouco, a viver com quase nada daquilo que consideramos básico; é o mundo
que sobrevive muito abaixo dos nossos padrões de pobreza extrema. É aquela
parte do mundo que conta muito nos discursos dos altos-comissários e dos secretários-gerais
das organizações internacionais, mas que, no fim das contas e desses
palavreados fáceis e bonitos, conta com poucos recursos, os que deveriam chegar
para essa gente ter um pouco mais de alimento e esperança. As organizações
internacionais gastam-se nas suas estruturas burocráticas de tal forma que não
lhes resta para cumprir o objeto da sua existência. Certo é que neste mundo
ocidental em que vivemos, com especial atenção para a Europa que vai da
Lusitânia aos Urais, isso pouco interessa desde que se mantenham as prebendas
do status-quo. Dois fatores vieram revirar do avesso a vida pacata e ilusoriamente
próspera em que vivíamos até 2008: a crise do subprime, com um abalo estrondoso
do Bears Stearnes, um gigante do crédito
hipotecário Norte americano e o colapso do Lehman Brothers e a crise das dívidas
soberanas. O banco criado no século XIX pelos irmãos Lehaman era o 4.º maior
dos Estados Unidos da América. A regulação internacional decorrente dos acordos
de Basileia tinha imposto aos bancos centrais regras de concessão de crédito
que limitavam muito os mercados, incentivando o garantismo das hipotecas imobiliárias.
Ora se só havia no sistema financeiro dinheiro disponível para a habitação e
consumo e para as dívidas soberanas foi precisamente aí que os bancos privados
investiram. Ao invés do que ousam dizer os defensores da regulação, não foi por
falta de regulação que o setor imobiliário cresceu especulativamente, nem, por
isso, que os bancos faliram. Foi precisamente porque os bancos centrais os
encaminharam para esse beco.
Na decorrência da crise financeira e na
esteira da falta de liquidez dos mercados andavam os estados mais pobres a
gastar por conta do futuro e a crise financeira rapidamente pôs a nu as
chamadas dívidas soberanas. Desde então, aquilo a que chamamos mundo ocidental não
mais recuperou, pois da crise financeira foi preciso tratar e a escolha dos
estados foram medidas cada vez mais reguladoras e impostos, em vez de liberdade
de empreender. Nalguns casos, como o português, aumentar impostos é como
ordenhar uma vaca já seca: o que dela mais se pode esperar é um coice!
Foi mesmo isso que aconteceu. Os
mercados não aguentaram as empresas e da crise financeira rapidamente passamos à
crise económica e dai à crise social. Perderam-se milhares de postos de
trabalho de cidadãos que hoje estão a produzir riqueza em países mais liberais
como os Estados Unidos, o Canadá ou a Reino Unido. Dessa crise, de 2008, ainda
não nos safamos, inventamos alguns bodes expiatórios, é certo, mas sair dela
ainda não saímos – se bem que agora não estamos na fase financeira da crise, já
chegamos à fase económica o que é muito mais difícil de resolver. O que se
espera dos governos de hoje é rigor nos gastos e seriedade nas políticas
laborais, de modo a recuperarmos a gente que perdemos e com isso fazermos
crescer a nossa economia. Sem crescimento económico não há riqueza e sem
riqueza não há estado. E é ao estado a que todos clamam nas horas difíceis.
Haja saúde!
In Jornal Diário Insular, edição de 05 de Julho de 2022