Partilho esta reflexão, nesta altura,
também a propósito da ideia de transporte marítimo de passageiros interilhas,
nomeadamente a denominada “Linha Amarela” (que, sazonalmente, no verão, ligou
as ilhas das Flores a Santa Maria) e que alguns defendem, reclamando ter sido
esquecida pela atual maioria parlamentar.
Comecemos, então, precisamente pelo transporte
marítimo de passageiros e por uma declaração de interesses: Particularmente e
em termos empresariais, a “Linha Amarela” dava-me imenso jeito. Fui um grande
utilizador daquele serviço, de maio a outubro, e seria um enorme beneficiado do
mesmo, se acaso ainda existisse. Essa realidade, acrescenta à minha pessoa uma relativa
superioridade moral para defender o seu fim, pois, egoisticamente, deveria
estar do lado dos que defendem a manutenção do sistema. Só que, na verdade,
esse serviço sazonal revelou-se um descalabro financeiro e económico. Redundou na
exportação de muitos milhões de euros em alugueres de navios e na aquisição de
combustíveis, em pouco contribuiu para a coesão económica e social e teve um incremento
enorme na pegada ambiental. Tudo isso para uma ocupação e uma utilização que
não ultrapassou os 18%. Milhões a mais para transportar gente a menos! Acresce o facto de que, em alguns anos, o
prejuízo com aquela linha ter ascendido aos 12 milhões de euros, numa Região
onde falta dinheiro para meios complementares de diagnóstico e terapêutica,
onde os cidadãos ficam à espera mais de três meses por um exame médico, por
falta de capacidade, quer no público, quer no privado, e onde as escolas caem
aos bocados por falta de investimento e manutenção. São as prioridades que alguns,
sempre os mesmos bem acomodados do regime, acham que têm direito. Provavelmente
os mesmos que fazem os exames no privado, que recorrem à cunha para marcar
exames médicos ou os que defendem o ensino privado para apenas lá meterem os
seus filhos e netos… São os parasitas do regime, que criaram um sistema social
e económico incapaz de tirar da pobreza os que já lá se encontravam e que tem
lançado nela muitos que se remediavam.
Todo esse desperdício de recursos e esse
esforço financeiro foi feito durante anos e, ao mesmo tempo, em que o transporte
aéreo era desprezado. Esbanjaram-se milhões em barcos gregos deixando a nossa companhia
aérea – a que verdadeiramente nos une – à beira de ter que fechar por via de
experimentalismos em rotas internacionais perdulárias e aviões que,
comprovadamente, não serviam as rotas consolidadas da empresa.
O preço a pagar por esses desmandos do
acionista/governo será caríssimo e está a ser empurrado para diante também pelo
atual governo de coligação PSD/CDS/PPM, lá para finais de 2025, ou seja, para
depois das próximas eleições regionais (realizem-se elas no prazo previsto ou
antecipadamente).
A SATA é um símbolo da perseverança e
empreendedorismo de alguns açorianos micaelenses, principalmente do Dr. Augusto
Rebelo Arruda. Surgiu como forma de combater a periferia da ilha de São Miguel
face às ligações aéreas internacionais. A SATA Air Açores é a via para o nosso
desenvolvimento, é o único instrumento de coesão entre os diferentes
territórios insulares, e esse instrumento tem que ser verdadeiramente salvo, mas
de forma racional. Para isso é preciso reestruturar, de facto, a companhia e estancar
a sangria de recursos que tem sido a Azores Airlines (SATA Internacional). Contudo,
não podemos continuar nem com experimentalismos nem a acumular dívida em cima
de dívida, como tem acontecido nos últimos anos.
Boas Sanjoaninas!
In Jornal Diário Insular, edição de 21 de junho de 2022
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