13 de fevereiro de 2006

Estranho.

Estranho bastante mesmo que, num país onde até há pouco mais de 30 anos se vivia uma ditadura atroz, malfazeja, bolorenta e com cheiro a sacristia, seja preciso a direita democrática (que até há bem pouco era apelidada de pouco democrática) a organizar manifestações pela liberdade de expressão. Parece mentira mas aconteceu neste nosso país descrente das mais amplas liberdades, descrente dos mais importantes valores democráticos, descrente do sistema político, descrente da justiça, dos média, dos médicos, dos condutores da carris, um país obcecado com teorias da conspiração só pode ser um país perigoso, onde o caminho para uma espécie de ditadura da letargia parece cada vez mais perto. Onde uma atitude de "deixar fazer, deixar passar", começa a tomar conta das mentes.
É estranho, muito estranho que na Europa das democracias e das liberdades que uma certa esquerda ajudou (bastante) a construir e nesta mesma Europa de todas as tolerâncias, haja uma outra esquerda, por sinal pouco democrática, que aplaudiu de pé, e bem, um certo cartoon com o falecido João Paulo II exibindo um preservativo no nariz e se escandalize, e mal, com um outro cartoon de Maomé com uma bomba com rastilho arder na cabeça, ou em pé, em cima de uma nuvem a gritar "There is no more virgins".
Parece-me que a esta esquerda, radical e irresponsável, apenas interessa ver a Europa lançada no caos. O caos é o único ambiente em que radicais, de esquerda e de direita, podem recrudescer.

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