Decorria o Ano da Graça de 2009 quando pela chancela da Princeton University Press deu aparição aos escaparates das
melhores e mais prestigiadas livrarias do mundo o ensaio de Cass Sunstein “ On Rumors: How Falsehoods Spread, Why We Believe Them, What Can Be Done.” Nessa obra extraordinária de
apenas cem páginas do prestigiado advogado, especialista em direito
constitucional e filósofo das leis que foi ainda, durante a Administração
Obama, Administrator of the Office of Information and Regulatory Affairs, o leitor pode percorrer do ponto de
vista do direito e da ética, como se espalham os boatos, o porquê de muitos
agentes políticos usarem esse mecanismo e ainda da propensão que alguns grupos
têm para acreditarem e multiplicarem esses rumores ou boatos de forma a deles
tirarem benefícios políticos e eleitorais quer para garantir a conquista de
pequenos ou grandes poderes, quer na tentativa de os perpetuar. Ao processar
uma qualquer informação, as pessoas e os grupos de pessoas, tendem a acreditar no
que querem e deixam-se influenciar não só pelas suas emoções como também pelos
seus preconceitos. No mundo globalizado das redes sociais que já não estão
sequer à distância de um click no desktop como estavam quando Sunstein
escreveu o referido ensaio, mas sim à distância de um deslizar de dedo quase em
qualquer lugar do mundo contemporâneo, esse fenómeno é ainda mais fácil de
proliferar e de promover. No entanto, a técnica de lançar um boato continua a
ser promovida pelos mais conservadores de forma encapotada e sem deixar rasto.
Normalmente passa por dizer: Não contes a ninguém e ninguém pode saber que fui
eu que te disse isto, mas… . Daí até à mentira, o boato, o rumor rolar pelas
redes sociais e pelos grupos de WhatsApp, numa empresa, numa instituição e no
resto do mundo vai um ápice de cabo de fibra ótica. Na política açoriana nos
últimos dias, semanas e meses, a técnica dos incapazes tem sido essa. Lançar
rumores e suspeições, mesmo através dos órgãos de comunicação social
tradicionais, sobre factos e acontecimentos para alterar, ou o sentido das
coisas, ou para que tudo fique na mesma mudando qualquer coisinha. Essa é a
arma dos incapazes e dos que, mesmo com ideias não as sabem executar ou
falta-lhes coragem para o fazer. Para reformar é preciso assumir ruturas,
quebras de preconceitos e desenvolver novas políticas e ter coragem para se
assumir os resultados dessas mesmas reformas e mudanças. Não basta, agitar uma
bandeirinha, esse é o trabalho dos conspiradores, dos pequeninos, dos
reacionários. É necessário reformar modelos e revolucionar soluções. Os que
chegaram agora ao poder não têm nem a capacidade para reformar, nem a coragem
de assumirem os resultados dessas revoluções. Foi então que redescobriram uma
nova técnica, deixar tudo como está e empurrar para depois de 2024 as mudanças
necessárias. Será tarde. Será muito tarde e estaremos ainda mais enterrados em
dívida, pobreza e acomodamento. E então, partidos políticos, corporações e
cidadãos incomodados, partem para a técnica dos rumores, das mentiras lançadas
à boca pequena e para o boato fácil dito nos corredores das instituições, que
se pretende e urge reformar, ou no café onde os reacionários tratam de
propagandear a mentira em que acreditaram por assim o quererem e estarem
predispostos. Podiam até fazer isso relativamente a ideias, conceitos,
políticas, mas não, resolveram fazer relativamente a nomes, escolhas de pessoas
e supostas vinganças pessoais. Tal tristeza, gente que seria capaz de agir
apenas assim e acha que todos são iguais. No fundo são uns miseráveis incapazes
de pensar com nobreza e serenidade a gestão da coisa pública porque se
habituaram a ver, em cada esquina, um fantasma do jeito ao amigo, do nepotismo,
da cunha e da perseguição e acham que somos todos iguais. Lamento desiludir,
mas não somos todos iguais. Enquanto uns se perdem nos rumores e nos boatos e
discutem pessoas e lugares outros estão mais preocupados em discutir políticas
e soluções e em remendar o que se vai fazendo de malfeito. Podem inventar os
rumores que quiserem, o que não conseguem fazer é desmontar, tecnicamente, as
reformas que propomos e as soluções que apontamos.
Haja saúde