30 de agosto de 2022

Mini entrevista ao Jornal Diário Insular 2022.08.26

 
Diário Insular- Esteve na Terceira numa visita de dois dias. O que mais o impressionou de positivo e de negativo?

Nuno Barata - O que mais me impressiona na Terceira e em todas as demais ilhas por onde a IL tem vindo a desenvolver o seu trabalho é a falta de mudança nas políticas seguidas na Região. Mudou-se o Governo com a expetativa da tal mudança de paradigma anunciada por José Manuel Bolieiro, mas, no fundo, só se mudaram os protagonistas. É preciso mudar de políticos e de políticas. Em face disso, concretamente na ilha Terceira, continuamos a assistir a discursos divisionistas, a ouvir prometer falácias, como aliás tenho escrito e alertado e a não fazer nada de diferente dos 24 anos de poder absoluto socialista. Temos uma obra no Porto de Pipas que faz que anda, mas não anda, correndo o risco de ruir em caso de algum temporal; temos um problema de contaminação de solos e aquíferos do qual agora só ouvimos falar de 6 em 6 meses quando se realiza uma reunião da Comissão Bilateral do Acordo das Lajes, sem que tenha existido qualquer desenvolvimento prático no processo de descontaminação e limpeza da pegada ambiental; os empresários clamam por mão de obra, quando se continuam a registar milhares de pessoas em situação de desemprego, ocupadas, em programas de estágios ou a viver de prestações sociais; no eixo porto-aeroporto nada de novo, apenas promessas de lhes atirar dinheiro para cima sem que haja uma definição clara sobre o que se pretende obter, do ponto de vista económico e financeiro; a lavoura está em crise; a administração pública continua a crescer com nomeações estranhas todos os dias; do hospital só se ouvem reclamações (algumas graves e, por isso, lamentáveis), para além de que está há meses com um presidente demissionário e não há forma de o substituir; as pragas, nomeadamente gaivotas e ratos invadem a ilha, nos centros urbanos e meios rurais. O que se passa na Terceira é significativamente semelhante ao que se verifica nas outras ilhas. Não podemos continuar a dizer uma coisa e a fazer outras. A Terceira tem potencialidades extraordinárias que foram marginalizadas pelos socialistas, mas que se mantém no mesmo saco da marginalização por este novo Governo, mesmo apesar de alguns dos seus protagonistas terem sido os arautos de tais profecias no passado de oposição. Agora, no poder, nada se vê de diferente.

Diário Insular - O conjunto Aeroporto das Lajes-Porto da Praia não explode como plataforma de desenvolvimento. Já percebeu as razões?

Nuno Barata - Já. Há muito tempo. Das primeiras reuniões que promovi na Terceira depois de ter sido eleito, foi precisamente no porto da Praia e com os autarcas e Câmara de Comércio. Continuam apenas preocupados com o que se passa em outras ilhas, em vez de assumirem a defesa acérrima daquilo que devem conseguir para a valorização dos seus ativos. Com a desgraça dos outros, todos nós podemos bem. No Aeroporto estou preocupado com a saturação e com as respostas que se estão a pensar dar. No Porto da Praia, penso que todos já perceberam a posição da Iniciativa Liberal que é a única que não diz mentiras e acena quimeras: defendemos, com realismo, que o Porto da Praia deve ser um dos pontos de entrada e saída de mercadorias nas ligações com o exterior e ponto de distribuição para as demais ilhas. Mas para isso não é bastante a infraestrutura ou crescer mais uns metros ou fazer mais um molhe. O que falta é, precisamente olhar uma solução na procura e não na oferta. Costumo dar o exemplo do aeroporto de Santa Maria que do lado da oferta(infraestrutura) é extraordinário, mas se não há procura (mercado) de nada serve. No caso do porto da Praia, é preciso do lado da procura, encontrar formas de apoiar as empresas de tráfego local a modernizarem as suas frotas e é preciso colocar gente competente nos cargos de administração de tão importantes infraestruturas que saibam desenhar processos e operacionalizar esses processos. As empresas do SPER não podem ser plataformas de lançamento de concursos públicos de empreitadas ao serviço do eleitoralismo do governo, têm que ser muito mais do que isso, têm que ser instrumentos de desenvolvimento de novas políticas.

Diário Insular - Há na Terceira quem gostasse de ver no parlamento, nesta legislatura, o candidato local da IL, que arrecadou muitos votos. Essa substituição vai acontecer?

Nuno Barata - Essa é uma pergunta que, em primeiro lugar, deve ser dirigida à pessoa em causa que já teve essa oportunidade e não a conseguiu concretizar, o que inclusive me obrigou a fazer um plenário em convalescença de uma intervenção cirúrgica onde foi óbvio, para todos os que assistiram, que não estava em pleno. Esta substituição já não aconteceu porque o candidato local entendeu prosseguir com a sua formação superior de segundo ciclo e iniciar a sua carreira profissional que, neste momento, é de enorme sucesso como, aliás, seria de esperar, mas que, até pelas incapacidades da Região, não passa pelos Açores. Eu espero poder alterar essa forma de governar os Açores para que jovens como o José Luís e os seus irmãos não tenham que trabalhar fora da Região, não tenham que emigrar. Mas, não posso deixar de registar, com lamento, este discurso populista que alguns setores fazem na Ilha Terceira, apenas para continuar a alimentar esses divisionismos bacocos e altamente falaciosos contra outras ilhas. Os terceirenses saberão que não é pela desgraça dos outros, nem sequer pela eventual fortuna dos outros, que conseguirão mais ou menos. O problema é que o Nuno Barata tem sido o único a dizer a verdade aos terceirenses e os partidos do poder não gostam que as suas teias de populismo serôdio sejam postas em causa. Já lá vai o tempo em que dividir para reinar era estratégia para tentar seja o que for...

Diário Insular - O que é necessário, objetiva e factualmente, para aprovar a próxima proposta de Plano e Orçamento e, nas mesmas circunstâncias, em que circunstâncias votará mesmo contra?

Nuno Barata - A IL assinou um Acordo de Incidência Parlamentar com o PSD. E fê-lo só com o PSD porque, erradamente, mas à partida, estávamos cientes que os perigos das visões comunistas jamais partiriam do CDS ou do PPM. Também nos enganamos! Cumpram o que assinaram com os parceiros e cumpram com a mudança de paradigma que prometeram aos açorianos e não existirão motivos para temerem votos contra. Caso contrário, sujeitam-se a falhar com os Açores e os Açorianos e isso é falhar em toda a linha. Nós não estamos cá para isso, não estamos cá para falhar, mas sim para contribuir para uma mudança e para retirar da pobreza e da estagnação milhares e milhares de açorianos que a ela foram obrigados nos últimos anos. 


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