13 de maio de 2019

Tempos difíceis para Homens Livres.


“O Homem é propenso à dominação; atacamos os direitos dos Reis absolutos e, em geral, todos desejamos ter o poder brutal do Czar da Rússia” acabo de transcrever um parágrafo da obra Casaca Azul, que visitei  já vão longe os anos 80 do século XX numa caserna mofenta  do também saudoso e desaparecido Esquadrão de Lanceiros de Ponta Delgada enquanto cumpria o Serviço Militar obrigatório. A obra autobiográfica de Henrique Escrich - novelista Valenciano que viveu e morreu e se eternizou em Madrid na segunda metade do século XIX – é constituída por um conjunto de novelas que se aproximam de ensaios de filosofia social e politica. Perez Escrich vaticinava assim a revolução bolchevique que viria a ocorrer 25 anos após a sua morte bem como previa o resultado da mesma, mais absolutismo exercido por gente diferente que apenas ambicionava os poderes de Nicolau Terceiro na senda de Pedro o Grande.
Na verdade, todos os processos revolucionários do século XX redundaram na instalação de novos regimes autoritários e sanguinários, mudaram os déspotas mas os métodos não. A Revolução Russa redundou num processo sanguinário e numa das mais duras autocracias de toda a história da Humanidade. A pretexto do assassinato de Serguei Kirov, Estaline desencadeou a partir de 1934 uma purga, a Grande Purga, que eliminou cerca de dois terços dos quadros do próprio Partido Comunista Soviético e cerca de cinco mil oficiais do exército vermelho considerados opositores do regime, ao todo José Estaline liquidou mais russos do que Hitler executou judeus e isso tudo foi só há menos de um século.
As revoluções hispano-americanas produziram ditadores, à esquerda e à direita, que fizeram de povos livres e ricos, legiões de escravos famintos enquanto os seus lideres e herdeiros, ainda hoje, se passeiam pelos corredores perfumados e alcatifados das instâncias internacionais ofendendo os verdadeiros bastiões das liberdades como se, esses sim, fossem as forças perniciosas.
Em África as coisas não se passaram de maneira diferente, basta olharmos o nosso processo de descolonização e os seus produtos mais diretos como Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos isso para nos determos apenas na maior e mais poderosa das nossas ex-colónias.
 Hoje, por cá, neste amontoado de “umbiguismos” reféns de falta de horizontes, vivemos, ou sobrevivemos entretidos a empobrecermos, navegando num  outro tipo de absolutismo.  O garrote sobre o verbo, sobre a liberdade de expressão e sobre as mais básicas liberdades individuais deixou de ser feito com recurso a prisões e leis especificas da censura e passou a ser exercido com jeito e malicia pelas forças ocultas do estado omnipotente e omnipresente, do “regulamentozinho”, da “portariazinha” muitas vezes feita com interesses enviesados e outras tantas com justificações  ad hominem que provocam a pior das reações, a autocensura que é bem pior do que a propriamente dita ação do lápis azul.  A nova tortura é a exclusão e a fome e aos novos revolucionários não os espera um heroico regresso num qualquer comboio da liberdade mas só e apenas a emigração como espécie de exilio por convite sem direito a bilhete de regresso.

In Jornal Diário dos Açores, edição de 12 de Maio de 2019.

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