Nesta
mesma rubrica e na passada semana, com a ligeireza que a limitação de
caracteres e a paciência do leitor exigem, abordei as questões do exercício da cidadania
europeia como um veículo para garantirmos a nossa maior representatividade nos
órgãos decisórios da União.
Essa
representatividade nunca foi tão importante como agora, Na verdade, a simples
possibilidade de vir a acontecer um Hard
Brexit, desperta sensibilidades e faz soar campainhas de alarme por toda a
Europa unida. A carta de Macron aos europeus da semana passada é bem um
elucidário dos tempos que nos esperam e dos desafios que teremos que
ultrapassar na construção da Europa tal como a desejaram os seus fundadores.
Na
política caseira os poderes vão se descentralizando mas nem por isso se tornam
mais hábeis ou mais democráticos ou, sequer, perdem os tiques de um centralismo
metropolitano de outrora. Da São Caetano à Lapa, o PSD passou para a Guerra
Junqueiro no Porto, mas nem por isso deixou de ser um partido centralista com o
mesmo respeito pelas Autonomias constitucionais e pelos órgãos autónomos do
próprio partido que tem um gato por um cão morto.
O
PSD Açores não vai, pela primeira vez, ter um deputado europeu. Não vem
qualquer mal ao mundo por isso, entre 1994 e 1999 o PS-Açores não teve um
Deputado Europeu tendo delegado no então líder sindical José Manuel Torres
Couto a função de representar os interesses dos Açores no PE, com recurso,
inclusive, a um aluguer de casa de fachada em Ponta Delgada para, à boa maneira
da construção de novas narrativas do socialismo autóctone, manter o fingimento.
Torres Couto abandonou a política em 1999 por suspeitas de abusos na obtenção
de verbas do Fundo Social Europeu, tendo sido absolvido, assim como todos os
outros arguidos, já em finais de 2009 quando o processo chegou ao fim. A Ética
republicana que enche a boca de muitos dos políticos de agora, naquela altura
tocava nas consciências. Há coisas que não melhoraram com o tempo.
Recorde-se
que, a falta desse deputado dos Açores no Partido Socialista Europeu não
impediu o PS Açores, liderado por Carlos César a partir do final desse mesmo ano,
de ganhar as eleições regionais que ocorreram sensivelmente dois anos depois na
saudosa data de 13 de Outubro de 1996. Dai, a ideia de que esta foi uma pesada
derrota para Alexandre Gaudência ser mais um wishful thinking da máquina socialista do que uma mera
possibilidade.
Os
Açores, não por serem periféricos, não por serem pobres, não por serem uma autonomia
constitucional, não por ser Mota Amaral, apesar de também por isso tudo,
deveriam estar representados sempre, em nome do interesse nacional, nas duas
maiores famílias políticas do parlamento Europeu, o Partido Popular Europeu e o
partido Socialista Europeu.
Essa
“gentalha” que governa em Lisboa ou no Porto de olhos postos e boca aberta no
Mar dos Açores, nas fontes hidrotermais, na mineração do mar profundo, na
expansão da plataforma continental, na nossa posição geográfica como mais-valia
para a nação na sua afirmação na economia azul, no espaço, na guerra nas
alterações climáticas e todas essa demais parangonas que ao Povo dizem quase
nada, sempre que tem uma oportunidade de tratar os Açores com desprezo fá-lo
sem qualquer pejo.
O
PSD dos Açores ameaça não fazer campanha eleitoral e não receber os candidatos,
temo uma abstenção elevadíssima, vamos a votos, vamos nem que seja votar em
branco para, tal como desafiei na passada semana, assim afirmarmos que aqui, no
meio de Atlântico, tal como em 1975, somos uma aldeia de irredutíveis
resistentes ao centralismo.
Não
citarei Ciprião de Figueiredo neste particular até porque a feliz frase tomada
pela Autonomia não é senão uma afirmação centralista, mas que o fogo abrase
aqueles que se julgam acima dos Açores.
In Jornal Diário dos Açores edição de 17 de Março de 2019
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