Diário dos Açores- Depois de um ano repleto de casos políticos na nossa região, o que perspectiva para 2019?
Nuno Barata - Na verdade o ano de 2018 poder-se-ia classificar como o “annus horribilis” para a governação de Vasco Cordeiro e para a liderança do Partido Socialista nos Açores.
Desde o anúncio da suspensão da laboração da fábrica da SINAGA ainda no final de 2017 até à mais recente, atribulada e atabalhoada reestruturação do sector publico empresarial regional (SPER) passando pelos não menos inusitados episódios com a SATA e a ATA, o decurso do ano de 2018 foi um tormento para o Presidente do Governo dos Açores.
No entanto, não se pode aferir que passadas essas adversidades venham por aí melhores noticias, bem pelo contrário. As práticas continuam as mesmas, os atos de gestão continuam os errados, as opções na administração da coisa publica e a partidarização do SPER e da estrutura administrativa da Região são, hoje, uma parelha das ainda recentes mas já passadas. Assim, na decorrência das mesmas práticas, não se podem esperar resultados diferentes. Considerando válidos esses pressupostos, perspectivo para 2019 um ano em que o sector privado, insipiente e dependente do orçamento da Região, vai ter que se adaptar à redução da despesa pública e em que apenas o sector do retalho deverá sentir algum crescimento na medida em que o aumento de cerca de 3,5% do Ordenado Mínimo Nacional e Regional associado à baixa dos combustíveis, irá deixar as famílias mais pobres com maior disponibilidade financeira o que, certamente, se refletirá no aumento do consumo.
Diário dos Açores- O novo ano será a antevéspera de ano eleitoral de 2020. Considera que vamos assistir a uma espécie de campanha eleitoral antecipada, com o recrudescer da luta política?
Nuno Barata - Sem dúvida. As novas lideranças, nacional e regional, do PSD terão um teste decisivo já nas Legislativas Nacionais do próximo Outubro para as quais os governos regional e da república entraram já em campanha eleitoral. Na realidade, o orçamento de estado para 2019 reflete isso mesmo. Se dúvidas existissem, as aberturas dos Governos para a reversão do congelamento das carreiras dos professores foram disso um exemplo paradigmático do que são os orçamentos como instrumentos eleitoralistas. A solução encontrada, apesar de suscitar dúvidas de constitucionalidade junto do Presidente da República por violar princípios e conceitos na Constituição plasmados como o da equidade e da igualdade de oportunidades, deixou clara a intenção do Governo e do Partido Socialista de minimizar os danos que as centrais sindicais possam causar no processo eleitoral, nomeadamente os sindicatos federados na FENPROF e afetos à CGTP-IN.
A luta partidária pelo poder político nos Açores a partir de 2020, começa também nesta próximas eleições nacionais e não será de estranhar um radicalismo de discursos e um populismo de ações tendentes à vitória de um ou de outro. Vasco Cordeiro e o PS-Açores cuja lista deverá, sem surpresas, ser encabeçada por Carlos César, têm a tarefa facilitada mas, estão obrigados, no entanto, a ganhar as eleições. Já Gaudêncio tem antes um problema mais complicado para resolver, a própria escolha do Cabeça de Lista. Para lá desse, terá que atingir uma percentagem eleitoral acima dos 36% conseguidos em 2015 por Berta Cabral sob a liderança de Duarte Freitas.
Diário dos Açores - E como é que Vasco Cordeiro e Alexandre Gaudêncio vão tentar convencer os açorianos a votarem neles para a liderança do novo governo de 2020? Ambos irão apresentar propostas diferentes ou serão semelhantes?
Nuno Barata - Se atentarmos ao que foi o percurso do PS-Açores depois de 2004 com especial significado a partir de 2008 até hoje, não se pode esperar que façam muito diferente do que até agora. Na verdade, PS e PSD nos Açores, e se quisermos também o CDS com a atual liderança, são partidos ideologicamente muito próximos, com os mesmo “tiques” e com as mesmas ideias sobre as funções do Estado/Região e o seu papel no desenvolvimento das nossas ilhas. Partilham dos mesmos receios e atavismos, estão tomados pelo mesmo tipo de aparelho e encerram nas suas fileiras uma boa maquia de meros carreiristas da coisa pública. Aliás, a omnipresença do Governo Regional e das suas instituições em toda a vida social e política dos Açorianos é demasiado bem aceite e talvez por isso mesmo o papel das oposições seja tão difícil nas nossas Ilhas.
A situação de pobreza atinge, nos Açores, proporções muito expressivas, quer do ponto de vista da carência económica quer do ponto de vista da carência das condições básicas necessárias à manutenção de um padrão de vida dignificante. 31% da população está em risco de entrar naquilo a que se convencionou chamar de limiar da pobreza, quando a média nacional desse mesmo indicador é 17% já de si muito elevada se tivermos em consideração a média dos países da Zona Euro.
Vasco Cordeiro, enfrentando esses números e essa realidade terá que convencer os Açorianos mais pobres e, principalmente aqueles que estão na porta de entrada dessa condição, de duas coisas: A primeira é que essa condição a que eles chegaram não é da sua responsabilidade, o que é difícil de fazer considerando que o Partido Socialista já governa há mais anos do que governou o PSD Açores, e a segunda é que a sua Estratégia Regional de Combate à Pobreza e Exclusão Social 2018-2028 tem argumentos suficientes para inverter essa tendência o que também é difícil se tivermos em consideração o grau de descrença dos cidadãos face ao estado/região e aos seus agentes. Já ninguém acredita em papéis, todos esperamos ações consequentes.
Alexandre Gaudêncio tem, nesse campo, a vida mais facilitada. Apesar do seu conselho ser um dos que regista o maior número de pobres de toda a Região, é bem verdade que as responsabilidades em relação ao tratamento dessas questões é maior por parte dos Governos Regionais do que das Autarquias.
O combate político, tendo por base a pulverização de soluções que vão entretanto aparecendo aqui como um pouco por toda a europa, vai travar-se nesse campo fértil que são os mais desfavorecidos, sendo que nos grupos sociais mais estáveis financeiramente as espingardas já estão contadas. De onde podem advir algumas surpresas é do eleitorado mais urbano e mais esclarecido e que pode fazer alguma diferença. Esse é terreno adubado para o Bloco de Esquerda, o CDS se conseguir renovar-se e ainda para as novas forças politicas como o PAN o Aliança ou o Iniciativa Liberal.
2019 pode, de facto, ser um ano de grandes alterações no xadrez politico nacional que poderá ter reflexos nas estruturas partidárias regionais e consequentemente na campanha eleitoral rumo às regionais de 2020.
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