16 de março de 2018

Coluna Liberal - Jornal Diário dos Açores 16 de Março de 2018


Não foram essas as palavras utilizadas pelo governante que tutela a agricultura, foram outras, mas o significado é absolutamente o mesmo.
Falta carne nos talhos de São Miguel, dizem as notícias replicando as queixas dos prezados talhantes. É o mercado diz o governante da tutela.
Dizem por aí que eles são do Socialismo, eu cá acho é que eles não são de coisa alguma, a não ser da falta de vergonha.
Não, não é o mercado, porque o mercado não funciona na fileira da carne porque o Governo que o Sr. Eng. João Ponte integra é tudo menos pela economia de mercado, é um governo socialista de manhã ao acordar, totalitário à tarde quando é hora de governar e liberal à noite quando chega a hora de justificar os fracassos e quando as coisas correm mal.
Na verdade, não há fileira e sector mais regulado e regulamentado e subsidiado do que o da carne e não há fileira onde o Governo intervenha mais do que nesta. Aliás é isso mesmo que o Governo anuncia quando as coisas correm de feição. Portanto, tudo o que corre mal é culpa tão só do governo, socialista e nada liberal. Não é uma questão do mercado, é uma questão de intervenção do estado que falseia todo o mercado e altera todas as suas premissas.
A intervenção do estado começa logo nos apoios ao transporte de fertilizantes para o uso na agricultura, dizem que é uma medida de elementar justiça fundamentada na ultraperiferia. Até pode ser. Mas que desvirtua as leis do mercado disso não haja a menor sombra de dúvida. Depois vem a ajuda aos bovinos machos, paga com os impostos dos alemães mas a mando dos Senhores de cá, mais uma medida que me dizem é justíssima e também ela alicerçada no discurso sobre a distância aos mercados. Até pode ser, admito-o. No entanto, ela funciona em contraponto às leis do próprio mercado.
Esta fileira recebe ainda que indiretamente apoios do POSEIMA para a importação de cereais para produzir alimentos para animais. Medida esta que serve, para além de enriquecer ainda mais industriais com os impostos dos pobres, desvirtuar os custos de produção e assim alterar as leis do mercado.
Uma outra ajuda de estado/região, desvirtua de tal ordem o mercado que nunca um governante regional poderia dizer o que disse João Ponte sem que  fosse de imediato chamado ao Parlamento para se explicar (isso se ainda tivesse peso para continuar governante). Trata-se da ajuda à exportação de produtos Açorianos.
Esta ajuda prevê apoios muito significativos ao transporte, armazenamento e comercialização de produtos  dos Açores em mercados fora da região. São elegíveis, de acordo com a portaria em vigor, despesas com transporte das ilhas de Santa Maria, Graciosa, São Jorge, Pico. Faial, Flores e Corvo para as restantes ilhas do arquipélago e de todas as ilhas para o exterior da Região;  Despesas com a comercialização e distribuição em grandes superfícies comerciais, no exterior da Região;  Despesas com a logística e armazenamento, no exterior da Região;  Despesas com seguros de mercadoria e seguros de expedição;  Juros com o acesso a linhas de crédito para efeitos de realização de operações de expedição.
Ainda este ano o Governo pela Boca do mesmo responsável governamental anunciou um investimento de 15 milhões de euros na rede de abate regional para melhorar as condições e valorizar a carne açoriana nos mercados externos à mesma.
São exportadas quase 100% das carcaças de vacas abatidas para o mercado espanhol  e 90% dos vitelões para o mercado continental especialmente para a marca Pingo Doce, ficando na Região uma parte residual dos animais abatidos para consumo local.
Por outro lado, para satisfazerem a elevada procura de carne na restauração e consumo domésticos, são importadas muitas centenas de toneladas de carnes nobres, lombos, vazias e picanhas, oriundas da América do Sul (países terceiros) que entram na União através de importadores da Ilha da Madeira e como tal não são  contabilizadas estatisticamente como importações de carne para os Açores. Do prado ao prato é um slogan de grande valor, mesmo que, na prática, seja das Pampas ao prato.
Estes apoios não só desvirtuam o mercado como fomentam de tal ordem a sua exportação  de produtos da Região que os mesmos começam a escassear cá dentro.
Poderia fazer desfilar por aqui um enorme rol de ajudas de estado e da união que desvirtuam este e outros mercados esta e outras fileiras. Na verdade,  É disso que falamos hoje, quando repensamos a Europa. Aliás, é o envelope financeiro que irá caber a cada um no quadro das perspetivas financeiras da União , o único momento de debate que esta proporciona a nível nacional e regional. O quadro regulador das ajudas e os seus montantes são a única coisa que nos interessa discutir sobre a Europa. É pouco!

Jornal Diário dos Açores, edição de 16 de Março de 2018

Sem comentários:

Arquivo do blogue