20 de janeiro de 2018

Coluna Liberal- Diário dos Açores -2018.01.19


Diz o Povo a que me orgulho de pertencer, do alto da sua enorme sapiência, que “de boas intenções está o inferno cheio”. Na verdade, não basta os governantes apregoarem o fim disto ou daquilo, esta ou aquela estratégia para seja o que for, se por outro lado, os indicadores que vão dando e as medidas que vão tomando são em sentido contrario.

Portugal é neste momento um pais em descalabro social, onde as desigualdades sociais são gritantes, as diferenças  no acesso a bens essenciais são assustadoras e onde o estado trata com paninhos quentes os que já estão aquecidos deixando a tremer de frio os que estão regelados.

Podem vir os números fantásticos do défice e a escolha do Ministro Centeno para o Eurogrupo para amenizar o clima de crise; pode o governo transformar a austeridade descarada de Passos Coelho numa austeridade encapotada da esquerda caviar; pode esta maioria “geringonçada” dar as cambalhotas que der, uma coisa é inegável: Portugal e em especial as suas zonas periféricas está a envelhecer, a desertificar, a empobrecer e a entrar numa espiral de recessão que levará rapidamente a uma insustentável miséria.

O regulador (Banco de Portugal) ou seja, o Estado,  acaba de aprovar regras ainda mais apertadas para a concessão de crédito às pequenas e médias empresas e às famílias indo mais além do que as diretrizes dos sucessivos acordos de Basileia. Afinal quem é que vai além daquilo que dizem e recomendam as instituições internacionais?

As restrições de acesso ao crédito são uma das medidas que mais tem constituído para o aumento das desigualdades sociais e para a redução drástica das oportunidades de quem pouco ou nada tem de material mas encerra em si mesmo uma enorme vontade de fazer coisas. Agora, mais do que nunca, só há crédito para quem não necessita dele e só tem acesso a financiamento público quem já é rico. Assim, não há estratégia de combate à pobreza e à exclusão que chegue.

Não há fim da pobreza e da exclusão sem criação de emprego e distribuição de riqueza através da economia. Não há criação de riqueza sem investimento, não há investimento sem pequenos e médios empresários e estes não serão capazes de se imporem se lhes for vedado o acesso a meios de financiamento.

O Capitalismo destronou o Feudalismo dos grandes senhores através da liberdade de comerciar, produzir, realizar sonhos. O socialismo endeusou uma espécie de  feudalismo de Estado, com novos atores que não deixam de ser os novos senhores todo-poderosos sentados na longa mesa do orçamento publico que é posta com o resultado dos impostos de todos os pobres do país.

A anunciada estratégia de combate à pobreza e à exclusão social nos Açores, que pretende erradicar a mesma até 2028, é simplesmente o claro assumir do falhanço estrondoso do regime agonizante que se instituiu nas nossas Ilhas desde 1975 e das políticas de investimento publico e de distribuição do bolo do orçamento regional de forma a satisfazer clientelas económicas que redundaram em mais pobreza e mais desigualdades apesar de um aparente bem-estar social.

O Estado Social, em contraponto ao Estado Liberal, falhou e contribuiu enormemente para a construção da sociedade que temos hoje e que não se pode dizer seja uma sociedade Justa. O Estado de Bem-estar Social, construiu uma narrativa falaciosa que tenta a todo o custo convencer os contribuintes que também são eleitores que foi o Liberalismo o causador do descalabro e confunde  a teoria socialista e socializante com a organização de oligarquias que permitem retirar aos mais pobres para engordar os mais ricos.

De quando em quando essa gente, todo o regime, lembra-se que existe Povo, eleitores, massa produtora,  e toca de se apresentar como  toda muito preocupada, como sendo socialista, social-democrata ou enchendo a boca com as parangonas retiradas da Doutrina Social da Igreja. Numa espécie de sacrifício massacrante, o regime   sai à rua e fala com a gente, promete mundos e fundos e garante isto e aquilo. Distribui beijos, abraços, “selfies” e outras coisas que não dão pão para a boca do Povo faminto. Normalmente isso acontece até Outubro e de quatro em quatro anos. Passado esse período, em que o Povo é centro de todas as atenções, os mesmos que no meio dele andaram, escolhem para passar o Natal e o Ano Novo destinos como o Rio de Janeiro, Londres ou Nova Iorque, desde onde se exibem nas redes sociais desavergonhadamente.

Merecemos políticos melhores.


Nuno Barata Almeida e Sousa

Jornal Diário dos Açores Edição de 19 de Janeiro de 2018

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