Diz o Povo a que me orgulho de pertencer, do alto da sua
enorme sapiência, que “de boas intenções está o inferno cheio”. Na verdade, não
basta os governantes apregoarem o fim disto ou daquilo, esta ou aquela
estratégia para seja o que for, se por outro lado, os indicadores que vão dando
e as medidas que vão tomando são em sentido contrario.
Portugal é neste momento um pais em descalabro social, onde
as desigualdades sociais são gritantes, as diferenças no acesso a bens essenciais são assustadoras e
onde o estado trata com paninhos quentes os que já estão aquecidos deixando a
tremer de frio os que estão regelados.
Podem vir os números fantásticos do défice e a escolha do Ministro
Centeno para o Eurogrupo para amenizar o clima de crise; pode o governo
transformar a austeridade descarada de Passos Coelho numa austeridade encapotada
da esquerda caviar; pode esta maioria “geringonçada” dar as cambalhotas que
der, uma coisa é inegável: Portugal e em especial as suas zonas periféricas
está a envelhecer, a desertificar, a empobrecer e a entrar numa espiral de
recessão que levará rapidamente a uma insustentável miséria.
O regulador (Banco de Portugal) ou seja, o Estado, acaba de aprovar regras ainda mais apertadas
para a concessão de crédito às pequenas e médias empresas e às famílias indo
mais além do que as diretrizes dos sucessivos acordos de Basileia. Afinal quem
é que vai além daquilo que dizem e recomendam as instituições internacionais?
As restrições de acesso ao crédito são uma das medidas que
mais tem constituído para o aumento das desigualdades sociais e para a redução
drástica das oportunidades de quem pouco ou nada tem de material mas encerra em
si mesmo uma enorme vontade de fazer coisas. Agora, mais do que nunca, só há
crédito para quem não necessita dele e só tem acesso a financiamento público
quem já é rico. Assim, não há estratégia de combate à pobreza e à exclusão que
chegue.
Não há fim da pobreza e da exclusão sem criação de emprego e
distribuição de riqueza através da economia. Não há criação de riqueza sem
investimento, não há investimento sem pequenos e médios empresários e estes não
serão capazes de se imporem se lhes for vedado o acesso a meios de
financiamento.
O Capitalismo destronou o Feudalismo dos grandes senhores
através da liberdade de comerciar, produzir, realizar sonhos. O socialismo
endeusou uma espécie de feudalismo de
Estado, com novos atores que não deixam de ser os novos senhores todo-poderosos
sentados na longa mesa do orçamento publico que é posta com o resultado dos
impostos de todos os pobres do país.
A anunciada estratégia de combate à pobreza e à exclusão
social nos Açores, que pretende erradicar a mesma até 2028, é simplesmente o
claro assumir do falhanço estrondoso do regime agonizante que se instituiu nas
nossas Ilhas desde 1975 e das políticas de investimento publico e de
distribuição do bolo do orçamento regional de forma a satisfazer clientelas económicas
que redundaram em mais pobreza e mais desigualdades apesar de um aparente
bem-estar social.
O Estado Social, em contraponto ao Estado Liberal, falhou e
contribuiu enormemente para a construção da sociedade que temos hoje e que não
se pode dizer seja uma sociedade Justa. O Estado de Bem-estar Social, construiu
uma narrativa falaciosa que tenta a todo o custo convencer os contribuintes que
também são eleitores que foi o Liberalismo o causador do descalabro e
confunde a teoria socialista e
socializante com a organização de oligarquias que permitem retirar aos mais
pobres para engordar os mais ricos.
De quando em quando essa gente, todo o regime, lembra-se que
existe Povo, eleitores, massa produtora, e toca de se apresentar como toda muito preocupada, como sendo socialista,
social-democrata ou enchendo a boca com as parangonas retiradas da Doutrina
Social da Igreja. Numa espécie de sacrifício massacrante, o regime sai à rua e fala com a gente, promete mundos
e fundos e garante isto e aquilo. Distribui beijos, abraços, “selfies” e outras coisas que não dão pão
para a boca do Povo faminto. Normalmente isso acontece até Outubro e de quatro
em quatro anos. Passado esse período, em que o Povo é centro de todas as
atenções, os mesmos que no meio dele andaram, escolhem para passar o Natal e o
Ano Novo destinos como o Rio de Janeiro, Londres ou Nova Iorque, desde onde se
exibem nas redes sociais desavergonhadamente.
Merecemos políticos melhores.
Nuno Barata Almeida e Sousa
Jornal Diário dos Açores Edição de 19 de Janeiro de 2018
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