28 de outubro de 2017

Coluna Liberal-Diário dos Açores-2017.10.27



Quando o Estado passa de mínimo a máximo falha e quando isso acontece ele, Estado, falha no mínimo e no máximo. Por isso, é corriqueiro ouvir-se a frase, lugar-comum, de que quanto mais Estado pior Estado. Na verdade, para as nações como para os indivíduos, quanto mais é diversificada a sua área de atuação menor é o seu grau de especialização e menos é a sua capacidade de intervir com rigor numa determinada área. Se nos casos dos indivíduos essas práticas lhe dão ferramentas de adaptação a diferentes circunstâncias já para as Nações/Estado as coisas são bem diferentes.
Voltemos à doutrina da construção do estado e aos contratualistas. O Homem é, por natureza, imperfeito, cruel, mau e não raras vezes cobarde. Dai a necessidade desta entidade a que hoje chamamos estado e do contrato social, ou seja da relação contratual entre o individuo, livre, em estado natureza e o estado.
Hobbes quando nos fala da necessidade de ceder-mos alguns dos nossos apetites, interesses individuais, ao estado explica:
A única forma de constituir um poder comum, capaz de defender a comunidade das invasões dos estrangeiros e das injúrias dos próprios comuneiros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante seu próprio trabalho e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda a força e poder a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir as suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade”.
No entanto, essa vontade única tem limites essencialmente assentes na proteção dos homens dos apetites de outros homens. Nunca podemos deixar de vista que Hobbes  entende o Homem como Lobo do Homem. Por isso,"a obrigação dos súditos para com o soberano dura enquanto e apenas enquanto dura também o poder mediante o qual ele é capaz de protegê-los
 Esse ser gigante a que Hobbes deu o nome de Leviatã, que engloba todos os poderes e a quem cedemos algumas das nossas liberdades individuais é aquilo a que se chama hoje o Estado, uma entidade abstrata construída por Homens para Homens e para sua proteção.
Chegou então a altura de, de forma séria e tendo por base a filosofia politica e essencialmente a construção do Estado Moderno, refletirmos  sobre as tragédias que ocorreram no pais nos últimos meses e onde falhamos.
Desde logo falhamos porque cedemos ao Estado algumas das nossas liberdades individuais para que o estado nos proteja mas logo passamos a exigir do estado coisas para as quais ele não está vocacionado. Fizemo-lo por demissão dos mais básicos deveres de cidadania, fizemo-lo por comodismo e por egoísmo. Mas, sobretudo, fizemo-lo porque escolhemos para constituir o Estado não os melhores dos Homens, nem os mais capazes mas sim aqueles que nos dizem aquilo que queremos ouvir através da sua eloquência oratória e da sua persuasão.
O Estado Contemporâneo, versão mais atual do Estado Moderno, no caso Português, deixou de investir os seus recursos na proteção dos cidadãos e dos seus bens e propriedades, para ocupar espaços onde não deveria estar. O estado é banqueiro, comerciante, industrial e até pai de família mas deixou ao abandono o comum dos cidadãos.
Abandonou milhares de pequenos povoados no interior do país de onde retirou as esquadras da Guarda deixando as populações envelhecidas à mercê de hordas de criminosos romenos e a quem lhe aponta o dedo chama de xenófobo.
Fechou centenas de escolas obrigando as famílias a deslocalizarem-se para centros urbanos maiores promovendo, assim, o abandono do meio rural.
Encerrou centros de saúde de proximidade patrocinando a deslocalização de doentes e respetivas famílias para centros urbanos maiores e deixando ao abandono milhares de pequenas aldeias e povoações.
Desinvestiu e desmantelou a Corpo da Guarda Florestal que era um dos pilares da prevenção dos fogos florestais, acabou com os cantoneiros, com os guarda-rios e com mais uma série de agentes do estado  que estavam junto das populações, faziam parte das comunidades e faziam parte do meio rural confundindo-se muitas vezes a profissão com as suas próprias vidas no bom sentido que isso pode ter.
Tudo isso foi feito nas barbas do cidadão pagante, do cidadão contribuinte que viu assim diminuída a sua segurança, a proteção devida à sua propriedade apesar de , cada vez mais, ser vitima da entrada do Estado na sua esfera privada.

Tudo isso foi feito em nome da economia de meios da sobrevivência das instituições e toda essa poupança foi investida (dizem eles) a salvar bancos  e o sistema bancário. Para isso houve sempre recursos, só não há recursos quando se trata do estado cumprir a sua verdadeira função, proteger os cidadãos e a sua propriedade.
Um estado que não o faz, é um Estado à beira do falhanço, e não digo que é um Estado falhado porque este é um conceito mais restrito e tecnicamente muito bem definido.




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