Nestes dias de Agosto em que uns
vão de férias e outros nem por isso, dias em que, no plano da gestão da polis, se passa pouco coisa ou coisa nenhuma tenho me perdido em
cogitações sobre a campanha eleitoral que se avizinha e o respetivo ato de
escolha dos novos e velhos autarcas por estas nossas Ilhas.
Nesta pré-campanha, pelo menos
até agora, só se ouve ruido, ruido nos ataques e anúncios estéreis mas
estridentes, ruido dos festivais e festas e festarolas de apropriações pouco
claras e idóneas de festejos populares, a chamada silly season (prefiro chama-la de estação tontinha) quando
conjugada com eleições autárquicas, transforma os Açores em particular e
Portugal no geral num autêntico pagode.
Os autarcas concorrem uns com os
outros a ver quem conquista os melhores músicos (que nem sempre são de facto os
melhores mas o que captam mais votos) pagando e promovendo festas e festivais a
cada dois dias que passam. Pagam os contribuintes, os mesmo que fruem, é
verdade, mas também os mesmos que durante o resto do ano reclamam das más
condições das ruas, das faltas de água, dos esgotos, da recolha dos RSUs,
enfim, os mesmos que reclamam de coisas realmente importantes não se importam
que se gaste o dinheiro deles em coisas de importância relativa e necessidade
duvidosa. Panem et circenses. Sendo
que o pão é pouco e o circo de fraca qualidade.
Os artistas, esses, esfregam as mãos
de contentes, num mercado altamente competitivo, com uma oferta muito maior do
que a procura, e com qualidade mais do que comprovadamente má, não há nada
melhor do que um ano de eleições para equilibrar as finanças. É só mais uma
atividade artístico/económica sustentada pela máquina registadora do Ministério
das Finanças.
O povo, esse, clama por mais
liberdade, vilipendia os seus detratores mas amarra-se definitivamente
hipotecando o seu futuro e o das gerações vindouras a troco de pequenos
momentos de alienação. Pão e circo é melhor que liberdade, é assim desde a
Antiga Roma.
Há, no entanto, uma maioria
silenciosa que condena estas práticas e que vai votar, no dia da verdade,
espécie de juízo final para os políticos carreiristas, vai ciente de que andou
a pagar a campanha eleitoral de alguns dos seus autarcas. Essa maioria
silenciosa vota conscientemente, vota sabendo que a escolha dos mesmos só pode
redundar em resultados idênticos. O espaço confinado entre biombos e a
distância entre a caneta e o boletim de voto são o nosso lugar de liberdade.
Faltam pouco menos de dois meses para irmos a votos mas parece que,
para alguns dos autarcas, estamos em campanha há já mais de um ano, para outros
a vida é uma campanha eleitoral.
Autarcas e membros do governo deitam
mão da coisa pública para usaram como meio de propaganda que é como dizer em
benefício próprio. Pode-se questionar a licitude de atos como publicar um
Boletim Municipal a um mês das eleições com divulgação de suposta obra feita;
pode questionar-se da legalidade de promover uma viagem com idosos pelos Açores
a fora; pode questionar-se da licitude de promover festas e festarolas
populares gastando o erário publico em “violas e Brasileiras” em lugar de o
gastar na recolha do lixo ou no saneamento básico.
É nesta época de eleições que
todos os políticos se poem de acordo quanto às leis do mercado e ás suas
virtudes. Na verdade, o mercado (eleitores) pede música e eles dão-lhes música.
É o mercado eleitoral que regula a oferta do potencial eleito.
Pode-se questionar sobre a lei e a norma e,
certamente, vamos concluir que essa gente nada faz de ilegal. Já se os
critérios da nossa avaliação forem do domínio da ética as coisas são bem
diferentes, nem tudo o que é legal é eticamente certo e nem tudo o que está certo
é totalmente legal.
Tenham todos umas ótimas férias,
em liberdade.
In Diário dos Açores edição de 5
de Agosto de 2017
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