A primeira diferença que as low cost fizeram foi a de aumentar a liberdade de muita gente. Pois aumentou o leque de escolhas de ações que temos o poder de levar por diante.
Assim, do lado de cá, já não é apenas a classe média alta que pode ir passar uma semana a Londres
(depois de se juntar dinheiro para o alojamento), ou dar um pulo ao Dragão para
ver um jogo do FCP.
Do lado de lá, para uma família lisboeta que planeie a
viagem com antecedência, vir passar uns dias a S. Miguel já não custa o triplo
de os ir passar à capital inglesa.
O que permite, de novo do lado de cá, a muitos jovens
a escolha de não emigrarem para Inglaterra. E a bastantes dos respetivos pais a
escolha de voltarem a trabalhar, depois da suspensão das grandes obras públicas
e habitacionais, e do encerramento de tantas representações comerciais.
Aqueles de nós que assumimos a liberdade como primeiro
valor político sempre discordámos assim da sucessão de governos regionais e da
república, ora do PS ora do PSD, que durante décadas mantiveram um monopólio
dos transportes aéreos entre os Açores e o exterior. Primeiro, da TAP, depois,
concertado entre essa companhia e a SATA. Pois era óbvio que essa liberalização
contribuiria para o aumento da liberdade de muitos… obstaculizando apenas os
interesses privados dos membros de algumas corporações – mas estes interesses
causam urticária a todos quantos defendemos o Estado de Direito.
Falta a discussão da liberalização do espaço aéreo
inter-ilhas.
Mas, enquanto essa discussão não avança, é bom que não
nos descuidemos de uma outra. E a começar já na campanha eleitoral autárquica
que se avizinha.
Das atuais liberdades micaelenses acima apontadas, a
primeira é em parte sustentada pela terceira; e esta é sustentada pela decisão
dos turistas continentais e estrangeiros de precisamente optarem pelos Açores –
se deixarem de vir, pode bem voltar o desemprego e a emigração locais, encurtando
o leque das ações que podemos levar por diante.
Ou seja, para mantermos aquelas liberdades é preciso,
de um lado, que continue a liberalização do espaço aéreo, e, do outro, que os
visitantes satisfaçam os objetivos que os trouxeram a estas ilhas.
Se porém na Vista do Rei houver sempre tanta gente que
só alguns consigam chegar à berma, para os restantes deixa de ser “vista” do
que quer que seja. Se tomar banho na Poça da Beija só ao colo uns dos outros, servirá
apenas quem procurar mais calor humano que o da água. Se os trilhos forem para
se fazer em filas contínuas, ficará mais em conta ir subir e descer escadas no
centro comercial mais próximo.
Mas talvez pior: não adianta aumentar aos açorianos a
liberdade de passarem 2 semanas noutro sítio, se nas restantes 54 semanas do
ano se lhes reduzir a liberdade de viverem numa terra que sintam como sua. Como
acontece quando a procura turística inflaciona o custo das casas nos centros
das cidades, ao ponto de daí expulsarem os habitantes locais para periferias
(“gentrificação”), de onde virão, aos turnos, servir os novos senhores dessa
terra.
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