Ou um hipótese de nação.
Tamanho título poderia ser o de uma tese
de mestrado ou de um mero ensaio filosófico mas não é. É apenas o título desta
minha crónica semanal no jornal que me acolheu pela primeira vez nos idos de março de 1983. A crónica é o género literário que melhor se enquadra
nestes dias depois da nona de dezembro
e do resultado que a Front National de
Marine le Pen obteve na primeira volta
das regionais em frança. Na verdade, não é tempo (cronos) de falar de outra
coisa. Na França a extrema-direita na Grécia a extrema-esquerda e um pouco por
toda a parte se vão manifestando inquietantes sinais de fim do regime, de vontade
de mudar. Por todo o lado surgem
preocupantes sinais de violência, instabilidade e intolerância que culminam,
invariavelmente na retirada de liberdades individuais em prol de poderes
reforçados dos estados. O Estado-moderno é, na verdade, o grande inimigo da
liberdade.
Quando nos debruçamos sobre as teorias
filosóficas dos contratualistas, nomeadamente sobre Rousseau, conseguimos identificar
inequivocamente como é que a sua teoria da “Vontade Geral” nos pode conduzir a
uma enorme perca de liberdades individuais, ficamos Escravos, cedemos direitos,
apetites individuais, opções e escolhas morais
e tudo isso em nome desse
desiderato a alcançar, em nome de uma coisa a que chamamos de “bem comum” mas
que não sabemos bem o que é. Essa chamada “Vontade Geral”, tantas vezes evocada
pelos assaltantes de poderes por esta Europa fora, e pelas massas ululantes, é
perigosamente usada como conjunto do “argumentário” para o coartar das
liberdades individuais. A liberade é, como tantas outras coisas, um bem ao qual
só damos valor depois de o perdermos. Mas que, perdida, dificilmente é
recuperável.
Obviamente,
só os seres livres, de pensamento livre e capazes de pensar a construção de uma
nação, seja ela a que for, são capazes de analisar e repensar a devolução de liberdades
como um meio para a construção de uma nação melhor. Os restantes, os que vivem
obcecados com a regulação, a legislação e com a ação do estado são incapazes de
admitir a falência desse sistema (desde logo por ignorância a seu respeito) e
agitam o fantasma do liberalismo e do neoliberalismo como se de coisa
perniciosa se tratasse. Na verdade, esse é o grande paradoxo do socialismo,
moderado e radical, por um lado diz-se democrático, defensor do estado-social,
garante e às vezes “dono” da liberdade, mas culpa o liberalismo e o
neoliberalismo de todos os males da humanidade. Essa espécie de jacobinismo
serôdio, tem sido, de facto, o grande entrave ao desenvolvimento de sociedades
mais justas e mais equilibradas. O fosso entre ricos e pobres não se cavou mais
fundo por causa das liberdades mas sim, ao invés, pela falta delas. Foi a obsessão
da regulação que destruiu a possibilidade de criar riqueza a partir de muito
pouco ou de quase nada. Foi a regulação que acabou com a possibilidade dos chamados
“self made man”. Foi o jacobinismo bacoco e serôdio que condenou os novos
empreendedores, criadores de riqueza e consequentemente de postos de trabalho
tantas e tantas vezes apelidando-os de novos-ricos e patos-bravos e que os
perseguiu com leis e regulamentos que acabou lançando toda essa gente no
desespero e a abandonar o tecido empresarial. Foi a regulação, o “regulamentozinho”,
a “regrazinha”, a “fiscalizaçãozinha”, a “invejasinha”, a pequena “corrupção”,
que potenciaram a concentração de riqueza e não a defesa das liberdades de
estabelecimento, a proteção da propriedade privada e o comércio livre. Enfim, o
socialismo interventivo na economia condicionou, regulou, regulamentou a vida
dos cidadãos com tal complexidade que tornou o tecido económico dependente do
próprio sistema político, talvez fosse esse mesmo o desiderato, tornar-nos
todos dependentes de um qualquer Diretor Geral ou Secretário de Estado como se
de Senhores Feudais se tratassem. No entanto, não se julgue este regime eterno.
Tal como escreveu
Popper, Newton enterrou o determinismo teológico do medievo substituindo-o por
um determinismo naturalista que Marx e Hegel substituíram por um determinismo
histórico. Hoje o determinismo teológico está reduzido ao extremismo islâmico e
o determinismo histórico às fábricas da nova china. As vozes em defesa de um
Homem verdadeiramente livre têm cada vez mais eco.
Mesmo nos
países mais socialistas, onde até na formatação das opiniões o estado tende a
intervir, não há meio nem forma de condicionar o pensamento e as opções éticas
de cada um. É nas liberdades individuais, nas opções e escolhas éticas que
reside a essência da nação e não no Estado. A nação é o conjunto alargado das
opções livres dos cidadãos o Estado é o conjunto das cedências que cada um de
nós faz dessas liberdades. Quanto mais pode o estado menos podem os cidadãos e
quanto menos podem os cidadãos menos livre é a nação. O regime busca e
necessita de fazer um “reset”.
Diário dos Açores, 13 de Dezembro de 2015
2 comentários:
O determinismo naturalista, que nega a realidade de qualquer livre-arbítrio, encontra-se hoje nos fortes argumentos da psicologia evolucionista, da biosociologia, e das neurociências em geral. Talvez o seu maior calcanhar de Aquiles seja a constatação de que a existência de tais teorias, e das pessoas e instituições que as têm desenvolvido, se não implica algum desmentido delas - no reconhecimento de algum livre-arbítrio - pelo menos sugere-o. Pois é quando as sociedades funcionam como se os indivíduos fossem relativamente livres que elas mais e melhor produzem, inclusive teorias científicas heterodoxas!
Obrigado pelo comentário e pela leitura atenta.
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