30 de janeiro de 2020

Brexit



Se há incontornáveis filósofos políticos na história da modernidade,  metade deles medraram no Reino Unido. Para confirmarmos essa preponderância britânica e a sua dedicação às grandes questões da humanidade bastaria citar nomes como Hobbes, Locke ou Hume, porventura o mais importante pensador do Iluminismo Britânico, ou até Hayek que, nascido austríaco, se naturalizou britânico e em Londres desenvolveu grande parte das suas teorias económicas e monetárias. Ainda recentemente perdemos Scruton que em 1998 trouxe aos escaparates An Intelligent Person’s Guide to Modern Culture” obra que nos ajuda a perceber um conservador-liberal. A Rainha Vitória e Churchill são outras duas referências nas relações internacionais. Também Boris Johnson, é uma lufada de ar fresco nas Ilhas Britânicas desde o desaparecimento de Margaret Thatcher. Um conservador-liberal, irreverente, um intelectual de referência e um jogador da alta política que leva o Reino Unido à porta de saída da União Europeia e deixa essa transformada numa espécie de Vénus amputada.

In, jornal Açoriano Oriental, edição de 28 de Janeiro de 2020

22 de janeiro de 2020

Lagoa do Fogo



Falhei, inadmissivelmente, as primeiras duas crónicas do ano. Não porque não tenha havido assunto para escrever mas por manifesta falta de tempo. Primeiro a família, depois o trabalho que me poe o pão na mesa e depois o resto. Nesse resto, que não é nem pouco nem desprezível, cabem os meus Açores, onde nasci, escolhi viver e acima de tudo ser cidadão ativo e “irrequieto”. É difícil viver nos Açores assim, sempre foi difícil viver nos açores onde até os ricos são pobres e onde o poder, desde sempre, tende a assumir laivos de arrogante totalitarismo ou, no mínimo, tende ao pensamento único. O poder vai agora, só depois de instalada a polémica pública, ouvir o Povo, numa abertura feita de palavras mais do que de atos, acerca do que agora chamam de estudo prévio mas antes era projeto de um novo miradouro, cheio de contemporaneidade e materiais importados, retretes e afins, ali para os lados da Lagoa do Fogo. Bravo, seria um ato louvável, não fora ele feito apenas a reboque das criticas publicas e tal como faz o “cachorro vagabundo” ganindo e com o rabo metido entre as patas traseiras escondendo as partes escassas da sua virilidade.


In Jornal Açoriano Oriental edição de 21 de Janeiro de 2020

2 de janeiro de 2020

Diário dos Açores 2020.01.01


1 - Do que vivemos em 2019, sente que 2020 vai ser muito diferente nos Açores, no plano geral, em termos económicos e políticos?

2020 é ano de fim de quadro comunitário e de eleições regionais , supostamente seria um ano de muitas metas e de muitos desígnios, convulsões até. O orçamento regional vai ser maior do lado da receita por força do aumento das transferências da república ao abrigo da Lei de financiamento das Regiões Autónomas. Na decorrência desse aumento da receita, apesar do mesmo indiciar o arrefecimento da economia em 2018, havendo mais alguma disponibilidade financeira e orçamental e sendo a economia dos Açores muito dependente do orçamento regional, é natural que se registem pequenas evoluções na economia das nossas ilhas. No entanto, o grande problema económico da nossa comunidade política continua a ser a debilidade do tecido empresarial que ainda ficou mais fragilizado depois das crises económica e financeira que vivemos à escala mundial. As pequenas e médias empresas que resistiram à crise ficaram muito descapitalizadas e as que desapareceram não foram substituídas nem é possível que venham a sê-lo. A regulação não permite que os empresários retomem a atividade económica, ou  se reformam, ou vão para o desemprego e a indigência e tornam-se trabalhadores por conta de outrem. Na verdade, perde-se muita criatividade e empreendedorismo por via da regulação demasiado apertada e desnecessária. O Estado/Região é obsessivamente regulador, está-lhe no ADN. Uma economia altamente regulada e centrada no estado, e um sector de investimento e inovação “keynesino” assente em subsídios estatais cuja atribuição é só por si um instrumento regulador pernicioso, não cresce sustentávelmente, promove enormes desigualdades sociais e impossibilita uma franja significativa da sociedade de ter acesso às mais diversas oportunidades. As decisões políticas condicionam demasiado o plano económico. Uma coisa é certa, há um crescimento do sector terciário e uma certa consolidação dos subsectores da hotelaria e restauração e isso poderá aliviar um pouco os números do desemprego no próximo ano e consequentemente terá reflexos nos números relativos à pobreza. Mais investimento público menos desemprego, menos pobreza, é o que se espera em 2020, ano de ir a votos nos Açores.


2 - As eleições regionais são acontecimento incontornável neste 2020. Qual a sua perceção em termos de estratégias dos partidos e da mobilização dos eleitores?

Analisando em jeito aligeirado o que poderá acontecer nos Açores no próximo ano do ponto de vista político digamos que há uma meia dúzia de análises que se podem fazer sendo que todas elas passam, incontornavelmente pelas eleições regionais de outubro próximo. Na realidade, 2020 é um ano importante para a democracia e para a autonomia dos Açores. Temos eleições regionais lá para Outubro e as eleições são a festa da democracia sendo as regionais a grande festa da autonomia constitucional. A próxima legislatura será a última em que o Partido Socialista pode indicar Vasco Cordeiro, o maior ativo político que o PS detém no momento na Região, para o cargo de Presidente do Governo dos Açores uma vez que por via da lei de limitação de mandatos Vasco Cordeiro será o primeiro Presidente dos Açores a não ter a possibilidade de cumprir uma quarta legislatura. A implantação que o Partido Socialista  já tem nos Açores, mercê de clientelas políticas que foi construindo e consolidando ao longo dos últimos 23 anos de poder e o capital político do seu líder, deixam claro quem será o grande vencedor das eleições do final do ano. Não pode, no entanto, o Partido Socialista tomar isso como certo. Há, na verdade, idiossincrasias locais que podem alterar radicalmente o sentido de voto e há algumas franjas do eleitorado esclarecido, mais urbano  e mais volátil que manifestam já algum descontentamento com a governação socialista. Basta um descuido e o PS pode perder deputados numa ou duas ilhas das mais pequenas e mais um ou dois nas ilhas maiores. Cabe à oposição fazer também o seu trabalho. Vasco Coreiro parte com muita vantagem para esta corrida desigual, “nos primeiros cinquenta metros leva cem de avanço”.

Do lado da oposição a novidade é que vamos assistir a um PSD, com uma nova liderança. Desejado pelos militantes, empurrado pelo aparelho, levado ao colo pelos parceiros, José Manuel Bolieiro tem a responsabilidade de liderar o maior partido da oposição e de fazer pontes com os autarcas e restantes forças partidárias, rumo a 2024, não lhe é exigido que ganhe eleições agora, seria injusto fazê-lo. O Bloco de Esquerda aproveitará a boa performance eleitoral nacional para tentar, nos Açores, conquistar a condição de 3ª força política e posição de charneira caso o PS tenha algum desaire eleitoral que, só pode acontecer, por razões excepcionais como já referi. O Bloco ultrapassará assim o CDS, de onde se podem esperar ainda algumas surpresas nos próximos tempos com o congresso marcado e adiado para este início de ano.
Surpresas podem também vir das novas forças políticas emergentes, PAN, CHEGA, ALIANÇA, INICIATIVA LIBERAL e LIVRE, sendo que os únicos, destes novos partidos, que estão minimamente organizados nos Açores são o Aliança e o PAN, todos os outros carecem encontrar figuras e construir estruturas para poderem alcançar o objectivo de eleger deputados.
O fator surpresa pode funcionar, por exemplo em São Miguel, se um qualquer destes partidos, mais à direita, confirmando-se a falta de habilidade do CDS em recuperar o seu eleitorado perdido, conseguir um cabeça de lista com peso eleitoral significativo e uma equipa minimamente aceitável e assim alcançar o desiderato de eleger um Deputado.

De resto, não se podem esperar grandes surpresas, o eleitorado corresponderá à chamada quanto mais os partidos da oposição demonstrarem vontade e apresentarem alternativas, caso contrário teremos Vasco Cordeiro num passeio tranquilo até Outubro de 2020 e um Partido Socialista empenhado em encontrar, ou perdido em lutas fratricidas, pela sucessão ao “Gigante da Covoada”.


In Jornal Diário dos Açores, edição de 01 de Janeiro de 2020.

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