1 - Do que vivemos em 2019, sente que 2020 vai ser muito diferente nos
Açores, no plano geral, em termos económicos e políticos?
2020 é ano de fim de quadro
comunitário e de eleições regionais , supostamente seria um ano de muitas metas
e de muitos desígnios, convulsões até. O orçamento regional vai ser maior do
lado da receita por força do aumento das transferências da república ao abrigo
da Lei de financiamento das Regiões Autónomas. Na decorrência desse aumento da
receita, apesar do mesmo indiciar o arrefecimento da economia em 2018, havendo
mais alguma disponibilidade financeira e orçamental e sendo a economia dos
Açores muito dependente do orçamento regional, é natural que se registem
pequenas evoluções na economia das nossas ilhas. No entanto, o grande problema
económico da nossa comunidade política continua a ser a debilidade do tecido empresarial
que ainda ficou mais fragilizado depois das crises económica e financeira que
vivemos à escala mundial. As pequenas e médias empresas que resistiram à crise
ficaram muito descapitalizadas e as que desapareceram não foram substituídas
nem é possível que venham a sê-lo. A regulação não permite que os empresários
retomem a atividade económica, ou se
reformam, ou vão para o desemprego e a indigência e tornam-se trabalhadores por
conta de outrem. Na verdade, perde-se muita criatividade e empreendedorismo por
via da regulação demasiado apertada e desnecessária. O Estado/Região é
obsessivamente regulador, está-lhe no ADN. Uma economia altamente regulada e
centrada no estado, e um sector de investimento e inovação “keynesino” assente
em subsídios estatais cuja atribuição é só por si um instrumento regulador
pernicioso, não cresce sustentávelmente, promove enormes desigualdades sociais
e impossibilita uma franja significativa da sociedade de ter acesso às mais
diversas oportunidades. As decisões políticas condicionam demasiado o plano
económico. Uma coisa é certa, há um crescimento do sector terciário e uma certa
consolidação dos subsectores da hotelaria e restauração e isso poderá aliviar
um pouco os números do desemprego no próximo ano e consequentemente terá reflexos
nos números relativos à pobreza. Mais investimento público menos desemprego,
menos pobreza, é o que se espera em 2020, ano de ir a votos nos Açores.
2 - As eleições regionais são acontecimento incontornável neste 2020.
Qual a sua perceção em termos de estratégias dos partidos e da mobilização dos
eleitores?
Analisando em jeito aligeirado o
que poderá acontecer nos Açores no próximo ano do ponto de vista político
digamos que há uma meia dúzia de análises que se podem fazer sendo que todas
elas passam, incontornavelmente pelas eleições regionais de outubro próximo. Na
realidade, 2020 é um ano importante para a democracia e para a autonomia dos
Açores. Temos eleições regionais lá para Outubro e as eleições são a festa da
democracia sendo as regionais a grande festa da autonomia constitucional. A
próxima legislatura será a última em que o Partido Socialista pode indicar
Vasco Cordeiro, o maior ativo político que o PS detém no momento na Região,
para o cargo de Presidente do Governo dos Açores uma vez que por via da lei de
limitação de mandatos Vasco Cordeiro será o primeiro Presidente dos Açores a
não ter a possibilidade de cumprir uma quarta legislatura. A implantação que o
Partido Socialista já tem nos Açores,
mercê de clientelas políticas que foi construindo e consolidando ao longo dos
últimos 23 anos de poder e o capital político do seu líder, deixam claro quem
será o grande vencedor das eleições do final do ano. Não pode, no entanto, o
Partido Socialista tomar isso como certo. Há, na verdade, idiossincrasias
locais que podem alterar radicalmente o sentido de voto e há algumas franjas do
eleitorado esclarecido, mais urbano e
mais volátil que manifestam já algum descontentamento com a governação
socialista. Basta um descuido e o PS pode perder deputados numa ou duas ilhas
das mais pequenas e mais um ou dois nas ilhas maiores. Cabe à oposição fazer
também o seu trabalho. Vasco Coreiro parte com muita vantagem para esta corrida
desigual, “nos primeiros cinquenta metros leva cem de avanço”.
Do lado da oposição a novidade é
que vamos assistir a um PSD, com uma nova liderança. Desejado pelos militantes,
empurrado pelo aparelho, levado ao colo pelos parceiros, José Manuel Bolieiro
tem a responsabilidade de liderar o maior partido da oposição e de fazer pontes
com os autarcas e restantes forças partidárias, rumo a 2024, não lhe é exigido
que ganhe eleições agora, seria injusto fazê-lo. O Bloco de Esquerda
aproveitará a boa performance eleitoral nacional para tentar, nos Açores,
conquistar a condição de 3ª força política e posição de charneira caso o PS
tenha algum desaire eleitoral que, só pode acontecer, por razões excepcionais
como já referi. O Bloco ultrapassará assim o CDS, de onde se podem esperar
ainda algumas surpresas nos próximos tempos com o congresso marcado e adiado
para este início de ano.
Surpresas podem também vir das
novas forças políticas emergentes, PAN, CHEGA, ALIANÇA, INICIATIVA LIBERAL e
LIVRE, sendo que os únicos, destes novos partidos, que estão minimamente
organizados nos Açores são o Aliança e o PAN, todos os outros carecem encontrar
figuras e construir estruturas para poderem alcançar o objectivo de eleger
deputados.
O fator surpresa pode funcionar,
por exemplo em São Miguel, se um qualquer destes partidos, mais à direita,
confirmando-se a falta de habilidade do CDS em recuperar o seu eleitorado perdido,
conseguir um cabeça de lista com peso eleitoral significativo e uma equipa
minimamente aceitável e assim alcançar o desiderato de eleger um Deputado.
De resto, não se podem esperar
grandes surpresas, o eleitorado corresponderá à chamada quanto mais os partidos
da oposição demonstrarem vontade e apresentarem alternativas, caso contrário
teremos Vasco Cordeiro num passeio tranquilo até Outubro de 2020 e um Partido
Socialista empenhado em encontrar, ou perdido em lutas fratricidas, pela
sucessão ao “Gigante da Covoada”.
In Jornal Diário dos Açores, edição de 01 de Janeiro de 2020.