"(...)Não há nada que assuste mais as pessoas do que a criatividade, nada que apavore mais que a diferença. A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais(...)"
António Lobo Antunes
Visão 2017.07.20
21 de agosto de 2017
Coluna LIberal
A primeira diferença que as low cost fizeram foi a de aumentar a liberdade de muita gente. Pois aumentou o leque de escolhas de ações que temos o poder de levar por diante.
Assim, do lado de cá, já não é apenas a classe média alta que pode ir passar uma semana a Londres
(depois de se juntar dinheiro para o alojamento), ou dar um pulo ao Dragão para
ver um jogo do FCP.
Do lado de lá, para uma família lisboeta que planeie a
viagem com antecedência, vir passar uns dias a S. Miguel já não custa o triplo
de os ir passar à capital inglesa.
O que permite, de novo do lado de cá, a muitos jovens
a escolha de não emigrarem para Inglaterra. E a bastantes dos respetivos pais a
escolha de voltarem a trabalhar, depois da suspensão das grandes obras públicas
e habitacionais, e do encerramento de tantas representações comerciais.
Aqueles de nós que assumimos a liberdade como primeiro
valor político sempre discordámos assim da sucessão de governos regionais e da
república, ora do PS ora do PSD, que durante décadas mantiveram um monopólio
dos transportes aéreos entre os Açores e o exterior. Primeiro, da TAP, depois,
concertado entre essa companhia e a SATA. Pois era óbvio que essa liberalização
contribuiria para o aumento da liberdade de muitos… obstaculizando apenas os
interesses privados dos membros de algumas corporações – mas estes interesses
causam urticária a todos quantos defendemos o Estado de Direito.
Falta a discussão da liberalização do espaço aéreo
inter-ilhas.
Mas, enquanto essa discussão não avança, é bom que não
nos descuidemos de uma outra. E a começar já na campanha eleitoral autárquica
que se avizinha.
Das atuais liberdades micaelenses acima apontadas, a
primeira é em parte sustentada pela terceira; e esta é sustentada pela decisão
dos turistas continentais e estrangeiros de precisamente optarem pelos Açores –
se deixarem de vir, pode bem voltar o desemprego e a emigração locais, encurtando
o leque das ações que podemos levar por diante.
Ou seja, para mantermos aquelas liberdades é preciso,
de um lado, que continue a liberalização do espaço aéreo, e, do outro, que os
visitantes satisfaçam os objetivos que os trouxeram a estas ilhas.
Se porém na Vista do Rei houver sempre tanta gente que
só alguns consigam chegar à berma, para os restantes deixa de ser “vista” do
que quer que seja. Se tomar banho na Poça da Beija só ao colo uns dos outros, servirá
apenas quem procurar mais calor humano que o da água. Se os trilhos forem para
se fazer em filas contínuas, ficará mais em conta ir subir e descer escadas no
centro comercial mais próximo.
Mas talvez pior: não adianta aumentar aos açorianos a
liberdade de passarem 2 semanas noutro sítio, se nas restantes 54 semanas do
ano se lhes reduzir a liberdade de viverem numa terra que sintam como sua. Como
acontece quando a procura turística inflaciona o custo das casas nos centros
das cidades, ao ponto de daí expulsarem os habitantes locais para periferias
(“gentrificação”), de onde virão, aos turnos, servir os novos senhores dessa
terra.
9 de agosto de 2017
40 anos a empobrecer.
Nós tínhamos um banco micaelense que se transformou em
Açoriano e foi-se;
Nós tínhamos uma companhia de Seguros micaelense que se
transformou em Açoriana e foi-se;
Nós tínhamos uma SATA micaelense que se transformou em
Açoriana e foi-se; (ainda não deram por isso?)
Nós tínhamos um Porto de Ponta Delgada que se transformou em
Açoriano e corre o risco de se ir.
No caso endémico, a união desfez a força.
7 de agosto de 2017
6 de agosto de 2017
Coluna LIberal
Nestes dias de Agosto em que uns
vão de férias e outros nem por isso, dias em que, no plano da gestão da polis, se passa pouco coisa ou coisa nenhuma tenho me perdido em
cogitações sobre a campanha eleitoral que se avizinha e o respetivo ato de
escolha dos novos e velhos autarcas por estas nossas Ilhas.
Nesta pré-campanha, pelo menos
até agora, só se ouve ruido, ruido nos ataques e anúncios estéreis mas
estridentes, ruido dos festivais e festas e festarolas de apropriações pouco
claras e idóneas de festejos populares, a chamada silly season (prefiro chama-la de estação tontinha) quando
conjugada com eleições autárquicas, transforma os Açores em particular e
Portugal no geral num autêntico pagode.
Os autarcas concorrem uns com os
outros a ver quem conquista os melhores músicos (que nem sempre são de facto os
melhores mas o que captam mais votos) pagando e promovendo festas e festivais a
cada dois dias que passam. Pagam os contribuintes, os mesmo que fruem, é
verdade, mas também os mesmos que durante o resto do ano reclamam das más
condições das ruas, das faltas de água, dos esgotos, da recolha dos RSUs,
enfim, os mesmos que reclamam de coisas realmente importantes não se importam
que se gaste o dinheiro deles em coisas de importância relativa e necessidade
duvidosa. Panem et circenses. Sendo
que o pão é pouco e o circo de fraca qualidade.
Os artistas, esses, esfregam as mãos
de contentes, num mercado altamente competitivo, com uma oferta muito maior do
que a procura, e com qualidade mais do que comprovadamente má, não há nada
melhor do que um ano de eleições para equilibrar as finanças. É só mais uma
atividade artístico/económica sustentada pela máquina registadora do Ministério
das Finanças.
O povo, esse, clama por mais
liberdade, vilipendia os seus detratores mas amarra-se definitivamente
hipotecando o seu futuro e o das gerações vindouras a troco de pequenos
momentos de alienação. Pão e circo é melhor que liberdade, é assim desde a
Antiga Roma.
Há, no entanto, uma maioria
silenciosa que condena estas práticas e que vai votar, no dia da verdade,
espécie de juízo final para os políticos carreiristas, vai ciente de que andou
a pagar a campanha eleitoral de alguns dos seus autarcas. Essa maioria
silenciosa vota conscientemente, vota sabendo que a escolha dos mesmos só pode
redundar em resultados idênticos. O espaço confinado entre biombos e a
distância entre a caneta e o boletim de voto são o nosso lugar de liberdade.
Faltam pouco menos de dois meses para irmos a votos mas parece que,
para alguns dos autarcas, estamos em campanha há já mais de um ano, para outros
a vida é uma campanha eleitoral.
Autarcas e membros do governo deitam
mão da coisa pública para usaram como meio de propaganda que é como dizer em
benefício próprio. Pode-se questionar a licitude de atos como publicar um
Boletim Municipal a um mês das eleições com divulgação de suposta obra feita;
pode questionar-se da legalidade de promover uma viagem com idosos pelos Açores
a fora; pode questionar-se da licitude de promover festas e festarolas
populares gastando o erário publico em “violas e Brasileiras” em lugar de o
gastar na recolha do lixo ou no saneamento básico.
É nesta época de eleições que
todos os políticos se poem de acordo quanto às leis do mercado e ás suas
virtudes. Na verdade, o mercado (eleitores) pede música e eles dão-lhes música.
É o mercado eleitoral que regula a oferta do potencial eleito.
Pode-se questionar sobre a lei e a norma e,
certamente, vamos concluir que essa gente nada faz de ilegal. Já se os
critérios da nossa avaliação forem do domínio da ética as coisas são bem
diferentes, nem tudo o que é legal é eticamente certo e nem tudo o que está certo
é totalmente legal.
Tenham todos umas ótimas férias,
em liberdade.
In Diário dos Açores edição de 5
de Agosto de 2017
Subscrever:
Mensagens (Atom)