O Muro de Berlim tem a si
associado a divisão da humanidade em dois blocos: O bloco ocidental, dito
capitalista, liderado pelos Estados Unidos da América e um outro bloco,
dominado pela Rússia socialista. A queda do também denominado como um dos “Muros da Vergonha” é também símbolo da queda da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas, berço e laboratório da economia planificada.
Apesar da tentativa de
ocidentalização da economia e da política em geral levada a cabo por
Gorbatchev, a Glasnost
(transparência) e a Perestroika
(reestruturação) não foram suficientes nem atempadamente implementadas para que
a URSS sobrevivesse à sua premonitória decadência autofágica. Assim, 1989 deixou
a nu todas as fragilidades do regime comunista e da economia planificada da ex-União
Soviética. Em contraponto com a abundância, a qualidade ambiental e o
crescimento da economia industrial do outro lado do muro, ficaram a ser
conhecidas as fragilidades dos regimes socialistas soviéticos, a pobreza, o
desamparo de doentes e crianças, os asilos e depósitos de velhos e inválidos, o
abandono dos idosos no campos à sua sorte e sobretudo uma sociedade cheia de
contradições, desigualdades e dominada por oligarquias de estado. Nada há de
mais pernicioso e injusto do que um sistema fiscal e redistributivo que tira aos
que menos têm para alimentar, mesmo que parcamente, aqueles que melhor vivem.
Enquanto alguns, os mais
carenciados, permaneciam nas filas de racionamento pelo pão, pela carne, pelo
leite, pelo petróleo e até pelo carvão para o aquecimento, as mais altas
patentes do Estado iam enriquecendo e fazendo crescer o seu património e
moviam-se pelos corredores do Kremlin em altas sessões gastronómicas quase sempre,
acompanhadas de poderosíssimas cargas etílicas naquilo que parecia uma herança
da corte da Rússia Czarista decadente. Este era o resultado visível dos mais de
setenta anos de economia planificada resumida numa única palavra: Pobreza.
A Rússia, continua a ser uma
terreno fértil para a construção de oligarquias e de desigualdades, apesar de se
ter aberto um pouco mais ao ocidente e das suas fronteiras já não serem
intransponíveis, a economia continua a ser planificada, altamente dependente de
decisões burocráticas e potenciadoras da construção de novas mas nem por isso
diferentes tipos de oligarquias.
E nós por cá? Quais as principais
consequências da planificação da nossa economia?
Para estas duas perguntas existem
duas respostas: Pobreza e desigualdades.
A planificação da nossa ecomimia
faz-se, não através de planos quinquenais mas de um plano de médio prazo, aprovado em
sede do Parlamento Regional, mas sobretudo através de um sistema de incentivos
ao investimento e à perca de rendimento dos agentes económicos de alguns
sectores que perverte por completo a atividade económica e potencia o aumento
das desigualdades.
Um sistema de incentivos que
deixa de fora, deliberadamente e por decreto,
os pequenos investidores, os self-made-men
e aqueles que não têm capital, ostraciza e marginaliza uma faixa muito grande
da sociedade. Mas a grande perversão nem está nesse facto. A grande contradição deste socialismo regulador
e regulamentador, deste estado burocrático, deste Estado Administrativo
como apelidei num artigo passado recente, em que vivemos é que ele está
funcionar como um Robin dos Bosques mas em sentido inverso ao verdadeiro homem
de sherwood. Na verdade, quem financia esse suposto crescimento económico e
esse logro publico encapotado e chamado de investimento privado são os
contribuintes que para isso vão ficando cada vez mais pobres.
Atentemos num exemplo abstrato. A
construção de um Hotel em cima de uma casa velha comprada a um banco regatado e
nacionalizado ao preço da Uva Mijona.
O antigo proprietário dessa casa velha era um contribuinte pequeno empresário
que detinha um também pequeno negócio que foi à insolvência pela voracidade dos
bancos e dos políticos que despoletou a crise financeira e económica deste
início de século. A casa reverteu para o banco, (o contribuinte ainda apagou
mais valias sobre essa venda judicial porque o Estado Socialista é ainda mais voraz do que os bancos. A
instituição financeira entretanto foi
nacionalizada, vendida em duas partes, uma boa a um outro banco e uma má que
está a ser suportada por todos os contribuintes inclusive aqueles que tudo perderam
para essa mesma instituição (eufemismo).
Os ditos contribuintes, incluindo
o do insolvente continuam a pagar os seus impostos e verem o seu património ser
desbaratado e adquirido a preços módicos por aqueles a quem os seus impostos
protegem, os agiotas, os jogadores de bolsa e os investidores financeiros que
entretanto foram transformados, em lesados deste e daquele banco.
Enquanto o sistema e o regime
protegem estes últimos que vão enriquecendo ainda mais, vai depauperando os
que, a muito custo, vão sobrevivendo com reformas e parcos vencimentos e
pagando impostos cada vez maiores e mais eficazes. E assim crescem as
desigualdades sociais num regime socialista e socializante, apoiado por dois
partidos comunistas. E um dia alguém ainda me vai dizer que isso é tudo culpa
dos liberais.
Publicado em Diário dos Açores, Ponta Delgada 7 de Julho de 2017
Publicado em Diário dos Açores, Ponta Delgada 7 de Julho de 2017
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