Diário dos Açores -
Como analisa esta vitória do PS?
Embora abaixo das sondagens conhecidas e das projeções à boca das urnas, a
vitória do Partido Socialista nestas eleições Regionais vem no seguimento do
que era esperado nos meios políticos da Região. No entanto, há a salientar o
facto do Partido Socialista não se ter superado relativamente a 2012. Apesar da
conjuntura favorável que vem de Lisboa, O PS perdeu 9500 votos, cerca de 18% do
seu eleitorado, e um mandato relativamente às eleições de 2012. Parabéns a Vasco Cordeiro que soube, ao
longo dos últimos 4 difíceis anos, aguentar uma boa parte do seu eleitorado e aproveitar a onda de crescimento do PS
nacional.
Diário dos Açores - O que vai acontecer
ao PSD depois desta derrota?
O PSD, perdeu nestas eleições 6 760 eleitores, um mandato e tal como o PS
18% do seu eleitorado. Apesar de ter feito uma tentativa de renovação interna
que eu classificaria de “depuração”
necessária, não foi suficientemente convincente e não foi clarificador
relativamente às questões ideológicas. O PSD Açores continua sem saber onde se
vai posicionar dentro do espectro ideológico da politica doméstica, se mais
liberal onde pode ocupar um espaço vazio e que deixou órfãos muitos eleitores
especialmente em São Miguel, se mais social-democrata onde encontra no Partido
Socialista um claro vencedor e um adversário difícil de combater.
O PSD, para seu bem, não pode continuar a “queimar” lideres à razão de um
em cada dois anos sob pena de se esvair em prolongadas noites de facas longas.
Por ultimo é de salientar o facto de ter ganho novo folego recuperando a
liderança da Ilha do Faial onde foi um claro e inequívoco vencedor ainda mais
sendo a lita do PS encabeçada pela até agora Presidente da Assembleia
Legislativa Regional dos Açores..
Diário dos Açores - Nos restantes partidos,
o que mais o surpreendeu?
Foi dos chamados partidos mais pequenos que veio a grande resposta, a
resposta mais assertiva e onde o Povo
Açoriano manifestou a sua racionalidade e cultura democráticas. Os pequenos
subiram todos sem exceção, fazendo assim pensar que há espaço para todos e que
a qualquer momento podem vir surpresas eleitorais de projetos como o PAN ou o PURP que subiram bastante as suas votações e
poderão chegar, já em 2020 a uma representação parlamentar.
A CDU apesar de ter crescido e ter garantido a vitória no círculo da Ilha
das Flores, não conseguiu garantir a eleição do seu coordenador e pode entrar
num período de debate interno que leve à substituição de Aníbal Pires na sua
liderança. O Bloco de Esquerda é um dos justos vencedores entre os vencidos uma
vez que conseguiu, pela primeira vez eleger diretamente a sua coordenadora pelo
circulo de São Miguel consolidando a sua posição de 3ª força política na Ilha,
assim como também é vencedor o CDS que passou a segunda força politica na Ilha
de São Jorge relegando o Partido Social Democrata para a 3ª posição e viu
aumentado o número de Deputados eleitos apesar de ter falhado a eleição de um
deputado pelo circulo eleitoral de São Miguel objetivo no qual se empenhou como
nunca havia sido visto até agora.
Diário dos Açores - E a abstenção?
A abstenção, retirada a chamada abstenção técnica que deverá rodar os 20
pontos percentuais, entre o
recenseamento automático as ausências no estrangeiro e a desatualização dos
cadernos eleitorais por óbito não declarado de cidadão sem o respetivo cartão,
deverá ficar-se nos 40% o que se aproxima bastante dos valores que se registam
nas maiores e mais consolidadas democracias mundiais como o Reino Unido ou os
Estados Unidos da América.
Há , no entanto, que considerar a enorme responsabilidade dos dois maiores
partidos nessa percentagem de gente que não deseja expressar o seu voto, e essa
responsabilidade fica clara quando analisamos os números e constatamos que, em
relação ao ato eleitoral anterior, o
número de abstencionistas aumentou precisamente na mesma dimensão dos votos que
os dois maiores partidos perderam. São os eleitores descontentes com as
promessas por cumprir, com a indefinição ideológica dos dois maiores partidos e
desencantados por entenderem e expressarem a ideia de que o seu voto em nada muda
porque seja quem for que para lá vá fica tudo na mesma. Felizmente não é assim
e já existiram provas de que assim não é.
Por outro lado, os partidos mais pequenos, têm sido os grandes responsáveis
pelo envolvimento de pessoas novas e de novas ideias no sistema e isso
reflete-se nas suas proporcionais subidas. Por último e ainda em relação à
abstenção, muitas vezes apontada como o grande mal da democracia, convém sempre
lembrar os mais desatentos que abster-se, em qualquer circunstância, tem que
ser encarado como um direito e nunca como uma displicência, todos temos o
direito de não nos revermos em qualquer projeto e de querermos assim expressar
o nosso desencanto. No entanto, o exercício do voto secreto e universal é a
única “arma secreta” que possuímos para nos defendermos dos supostos abusos de
quem nos possa governar com recurso a esses mesmos abusos. Por isso, votar é um
garante das nossas liberdades individuais, bem esse que apenas valorizamos quando
o perdemos. A bem da democracia e do debate mais plural e construtivo é salutar
que a abstenção baixe e que a representatividade aumente. Para isso todos temos
que fazer um esforço em vez de apontarmos sempre o dedo aos partidos como os
causadores de todos os males. Mudar depende de cada um de nós, mesmo dentro dos
partidos, se nos abstivermos de lutar pelo que acreditamos resta-nos aceitar o
que outros decidam por nós.
Publicado no Diário dos Açores de 2016.10.18
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