Alguns analistas mais incautos caíram na
tentação de interpretar as palavras de Cavaco Silva para Pedro Passos Coelho
como uma espécie de favor ao líder do seu partido. Ao invés dessas mentes
maldosas, pareceu-me claro o que Cavaco Silva exigiu a Passos Coelho mandatando-o
para “iniciar diligências para
procurar uma solução governativa que assegure a estabilidade política e a
governabilidade do país”. Ora parece-me que não havendo uma maioria absoluta no
parlamento o que Cavaco quis dizer com isso foi: procure o PS e entendam-se que
eu quero uma solução de governo estável. O PS não percebeu o recado, ou não
quis perceber, e abriu conversações com o PCP ainda antes de falar com Passos
Coelho entrando numa espécie de jogo de poker em que ninguém tem uma boa mão e
todos fazem bluff.
A enorme responsabilidade que o Partido
Socialista tem como garante da estabilidade politica e da manutenção de Portugal
na ordem internacional - Cavaco Silva também advertiu que essa solução
governativa “deverá dar aos portugueses garantias firmes de que
respeitará os compromissos internacionais assumidos pelo Estado português” - é a única razão
que justifica o facto de António Costa não se ter demitido, em coerência com o
seu discurso passado, logo nas primeiras horas depois de confirmados os
resultados eleitorais de 4 de outubro. Na verdade, cheguei a acreditar que
estava perante um político com sentido de estado. No entanto, à primeira
hipótese tratou imediatamente de agitar as águas e sentar-se à mesa de Jerónimo
de Sousa que, não querendo nem por nada ser Governo se aprontou a encostar o PS
às políticas de direita assim por ele denominadas.
Obviamente decorre da Constituição da
República, se PSD e CDS não garantirem o apoio do PS Cavaco Silva não terá
alternativa senão convidar o PS em conjunto com as restantes forças de
esquerda, a procurarem uma segunda solução governativa.
Nessa altura veremos de que fibra é
feita essa esquerda que até aqui tem defendido o rompimento de alguns
compromissos internacionais. Convém sempre lembrar os mais esquecidos que o
Mundo vive tempos atribulados a que Portugal não está alheio e que o Bloco de
Esquerda e o PCP defendem a saída de
Portugal da OTAN, o regresso ao Escudo e até a saída da União Europeia, mesmo que
para tal seja necessário romper o mais importante principio do Direito
Internacional Publico de que os tratados são para se respeitar (pacta sunt servanda). Eles, no fundo,
sabem que nada disso é possível de se operacionalizar, mas agitam as massas,
felizmente umas massas feitas de tempera diferente da dos Gregos.
O Partido Socialista está refém da sua
tática, ou se chega ao centro e corre o risco de perder o eleitorado de
esquerda ou se chega à esquerda e perde todo o eleitorado do grande “centrão”.
Correio dos Açores , 9 de Outubro de 2015
Nuno Barata
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