"Este editorial do Diário Insular é uma vergonha," diz o Nuno
Mendes no Facebook acerca do texto
abaixo transcrito e que vem hoje
publicado no matutino Terceirense. Reafirmo Eu aqui que além de ser uma vergonha
explica muito o que vai nas cabeças ( ou o que não vai) das supostas elites da
Ilha Terceira de Nosso Senhor Jesus Cristo . Não, a culpa não é dos políticos,
é precisamente dessas supostas elites
que pensam dessa maneira e que vivem numa cegueira contra São Miguel que
nem percebem que cavam as suas covas que depois clamam que alguém as venha
fechar e ateiam os seus fogos clamando
que outrem os venha apagar.
Um editorial deste teor roça a xenofobia. Tenho pena de não ter lido um
único cidadão da Ilha Terceira se insurgir contra tal bestialidade.
Por fim quero deixar aqui uma nota
apenas. As forças politicas e a sociedade Micaelenses nada fizeram para
que os seus reclusos fossem enviados para uma outra Ilha ou para o Continente.
Bem pelo contrário. Vimos, nos últimos 30 anos, a nossa cadeia superlotada e sem
condições e vimos os investimentos nessa
área em São Miguel preteridos em favor de outros, pelo visto, pouco desejados.
Há mais de 30 anos que os Micaelenses clamam por uma nova cadeia, já foram
cedidos terrenos e edifícios para o efeito e o Ministério da Justiça e a Direcção
Geral dos Serviços Prisionais nunca deram ouvidos a essas pretensões.
Por outro lado, ao primeiro clamor de reclamação vindo da Terceira, Zás!
aqui vai um novo estabelecimento prisional para a Terra Chã. Até nisso a
Terceira está dependente de São Miguel, não fora o sacrifício redobrado dos
prisioneiros micaelenses terem de ir para longe das suas famílias e “ecossistemas”
ter servido de fundamento para a construção de uma nova cadeia em Angra e a
cadeia da Terceira estaria a menos de metade da sua ocupação ou nem teria sido construída.
As “elites” da Terra Chã insurgiram-se contra essa construção mas a restante “inteligência”
da Ilha queria uma cadeia nova primeiro do que em São Miguel. Conseguiram.
Aliás, como disse o Dr. Moreira das Neves, um daqueles que não precisou de
aqui nascer para aqui viver e saber aqui morrer, “a cadeia da ilha Terceira não pode substituir a
construção de um novo estabelecimento prisional na ilha de São Miguel”, foi o
primeiro micaelense (com sotaque continental é certo mas com alma Micaelense) a
dizê-lo.
A seguir transcrevo o referido editorial (eufemismo) com as necessárias anotações entre parêntesis,
a negrito e a azul.
Dormir na forma dá nisto... (e não andaram
sempre a dormir à sombra dos feitos das tropas de D. António o Prior do Crato?)
Enquanto a Terceira anda entretida a discutir o sexo dos anjos - por
exemplo, transformar uma base militar norte-americana numa alavanca de
desenvolvimento da ilha...( sempre na
esperança que alguém resolva os problemas com pós de perlimpimpim) -,
São Miguel vai aproveitando para exportar para a cadeia situada na Terra-Chã,
arredores de Angra do Heroísmo, alguns dos seus piores criminosos. Com cerca de
oitenta por cento de toda a população criminal açoriana e com uma cadeia a
abarrotar, São Miguel não coloca os seus presos no continente, aproveitando as
boas condições da cadeia da Terceira para aqui concentrar os indesejáveis. (São Miguel não coloca presos, essa é uma
competência do Governo Central, da justiça e dos serviços prisionais e até de
alguns serviços como é o caso da reinserção social que tem muitíssimo mais peso
na Terceira)
Faz uma enorme diferença colocar os presos de São Miguel na Terceira ou no
continente - sendo, porém, certo que os reclusos micaelenses deveriam ficar em
São Miguel, junto das famílias e do ecossistema (ecossistema?)que tão bem conhecem e do qual
são produto. Mas acabando por sair de São Miguel - o que não deveria acontecer,
note-se -, tais reclusos só poderiam ir para o continente. Porquê? A questão
tem a ver, em boa parte, com as saídas da cadeia. Os reclusos saem por pequenos
períodos, por liberdade condicional e por fim da pena. Já está percebido que os
reclusos micaelenses que aportam à Terceira vão ficando por cá, sem famílias,
habitando bairros sociais que por si só já são um problema. Perceba-se que eles
já representam outro tanto dos criminosos locais condenados (uma rotulagem inadmissível, depois de ordem de
soltura o individuo, civilmente, é um cidadão de plenos direitos e requer apoio
da sociedade para a sua reinserção, e regresso à vida cívica, não precisa de rótulos
para tal). Ou seja, o potencial de crime na ilha duplica quando eles
são postos em liberdade provisória ou definitiva. Já no continente, se eles
decidirem por lá ficar a sua presença diluir-se-á em dez milhões e não nas
cinquenta e poucas mil pessoas que vivem na Terceira. O impacto nem sequer é
comparável. É a diferença entre zero e uma colónia penal e pós-penal.
Tudo isto ocorre com
silêncios cúmplices. Aliás, só nos começamos a aperceber da dimensão do
problema quando - imagine-se! - um amigo norte-americano, militar, nos
telefonou avisando que um avião militar que estava nas Lajes com prisioneiros
era português, o destino era a Terceira e não Guantánamo. (Claro que percebemos
a piada...) (que não tem piada nenhuma).
Até os nossos inquilinos dão pelo que se passa, mas os nossos políticos, esses
estão a leste do paraíso. A Terceira pode ser transformada numa colónia penal;
os bairros sociais podem transformar-se no apêndice da cadeia; a ilha pode
arder... Eles continuam a viver no seu estranho mundo. Nem sequer se lembraram
de levantar a voz. De perguntar "Porquê?" e de dizer "Não!, nós
não queremos!", "Isto não pode acontecer!"
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