14 de março de 2009

Os seguidistas.

Todos os grandes líderes precisam de imbecis. Que servem entre muitas outras coisas para lhes abrirem a porta dos carros, carregarem as pastas e debitarem opiniões consensuais. E que têm de entre todas as suas imensas virtudes a suprema vantagem de não servirem absolutamente para nada. Por isso aceitam berros como se de afagos se tratasse, humilhações como elogios e reprimendas com a exacta bonomia dos ruminantes. Atentos e eternamente disponíveis os seguidistas querem-se em muitos lados. Dá sempre jeito ter um à mão que cumpra com zelo as instruções mais bizarras, que anime o chefe com gracejos convenientes e que lhe faça eternamente a vontade. No questions asked. Dos seguidistas não reza a História, porque eles ao contrário dos caracóis não deixam rasto, são pedaços de si mesmos, amorfos como um soporífero e desinteressantes por convicção. Riem das piadas do dono, ladram aos seus inimigos, hesitam ao primeiro baque e vergam na esquina da contrariedade. Sabem de cor o que pensa o chefe, os timbres do seu humor e as modulações da sua voz. Como o cão de Pavlov salivam perante a campainha da sua presença. Dão muito jeito é certo, mas valem pouco no mercado transaccional. São muito parecidos dentro dos partidos, nas associações, nas mesas administrativas, nos corredores dos poderes. É fácil conhecê-los e ainda mais fácil detestá-los. Com eles não se aprende nada e corre-se sempre o risco de contágio. Porque o seu gesto sibilino procura vítimas que possam sucumbir aos seus perniciosos encantos. Que invariavelmente têm um único fito: a defesa inamovível do chefe perante toda e qualquer adversidade. A pouca inteligência que lhes resta permite-lhes vislumbrar que deste compromisso nasce o seu seguro de vida e a garantia da sobrevivência da espécie.
Um excelente texto da Deputada Regional e cronista Claudia Cardoso.

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