1 de outubro de 2024

Sazonalidade é mitigável

     

    A sazonalidade no sector do Turismo é uma inevitabilidade, todo o sector sabe disso, sejam agentes de viagens, hoteleiros, restauração, sector dos transportes, animação turística e afins. No entanto, há vias para a mitigação desse problema começando desde logo por um esforço de estender para lá de 30 de setembro algumas atividades que captam públicos diferentes e que procuram mais do que sol e paisagens verdejantes. Em algumas ilhas, mais do que noutras, esse problema agrava-se com as distâncias aos centros decisórios e mercados emissores.

    Correndo o risco de deixar alguns de fora que não são menos importantes, vou apenas mencionar eventos como o Trail da Fajãzinha na Ilha das Flores, O Bravos Trail na Ilha Terceira ou o SMAT na Ilha de Santa Maria, O Quebra Pernas na Ilha de São Jorge, ou ainda os já consagrados Triangle Adventure que se realiza nas Ilhas Pico, São Jorge e Faial, o Ultra Blue Island que se realiza no Faial ou ainda os Ecologic Trail Run e EPIC trail Run que se realizam em São Miguel, todos eles realizados  ou em extensão do verão ou imediatamente antes do período de maior procura,  são excelentes exemplos de como minimizar os efeitos da sazonalidade no sector emergente que é o Turismo e provavelmente o único sector em que estamos a conseguir inovar e que tem gerado enorme procura nos mercados emissores tradicionais e em novos mercados.

    É de louvar o esforço das organizações desses eventos que envolvem um enorme número de voluntários e pequenos patrocinadores, com recursos parcos, uns mais do que outros pois casos há em que os municípios e o Governo Regional já perceberam a importância dos eventos que contribuem para a notoriedade do destino e para a mitigação da sazonalidade.

    Veja-se, o excelente exemplo do profissionalismo e da eficácia do Azores Trail Run que tem trazido atletas dos 4 cantos do mundo para correrem nas nossas Ilhas. Atente-se ainda na jovialidade da equipa do Bravos Trail que soube potenciar os apoios que, em boa hora, as Câmaras de Angra e Praia e o Governo Regional, optaram por dar e têm sabido também acatar sugestões de atletas e operadores experientes, melhorando de edição para edição, quer as marcações quer os percursos e ainda a componente social como só na Ilha Terceira sabem fazer. Talvez por isso, o Bravos Trail, edição de 2024, tenha esgotado as inscrições nos primeiros meses o que revela uma boa campanha de promoção das provas que o compõem.

    Estes eventos, a par de outros no Golfe, na Equitação, no Big Game Fishing, no Windsurf e restantes desportos náuticos devem ser acarinhados pelos municípios pois é esse o mais importante papel do Poder Local na captação de mercados emergentes do sector do turismo fora das épocas de maior procura.

    A deslocação a feiras de um vereador ou de um técnico de comunicação de uma autarquia tem um custo, muitas vezes, do dobro do apoio que é dado a esses eventos e a sua eficácia fica muito aquém do que pode ser alcançado por um evento desportivo da natureza dos que aqui tratamos, até porque é dificil de quantificar, enquanto nos acontecimentos desportivos se pode avaliar com exatidão o seu impacto. Temos assistido a deslocações de equipas inteiras, com famílias a acompanhar que, não raras vezes, uma pequena equipa gasta, na ilha e em passagens, tanto como o valor que uma determinada autarquia apoia a organização do evento.

    Por mim, irei sempre que possivel promover estas atividades e dar delas a notoriedade necessária para contribuir para o seu crescimento e maturação, a bem do desporto, da prevenção de maus hábitos como as toxicodependências e da mitigação da sazonalidade que, como iniciei este artigo, não vai acabar nunca mas pode ser atenuada.

Publicado nos Jornais Diário Insular e Diário dos Açores edições de sexta-feira dia 28 de outubro de 2024.

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