18 de abril de 2024

Hoje à 182 anos nasceu Anthero de Quental



Hoje há 182 anos nasceu em Ponta Delgada Athero Tarquinio de Quental. Um dos vultos mais importantes da poesia e da filosofia da prodigiosa e irrequieta geração de 70. Anthero, um académico revolucionário e racionalista cujo pensamento social e político alguns se apropriam e dizem-no socialista. No entanto, o “Santo” Anthero, exprime por volta de 1862, dez anos antes das famosas Conferências do Casino, o seu mais liberal sentimento e diz: “não é tudo a liberdade, mas é o primeiro passo para que tudo se alcance, é a primeira condição de tudo que é justo e santo”.

É assustadoramente atual o assunto e a sua reflecção na Segunda Conferência do Casino, “As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos”, recentemente trazida aos escaparates pela mão da Artes e Letras e à venda no estabelecimento Leya na SolMar do José Carlos Frias, o mais antigo livreiro de Ponta Delgada e talvez o único a quem se pode, de facto e de direito, atribuir esse epiteto .
Hoje publico um dos seus sonetos mais bem conseguidos. Se me pedissem para graduar eu, que não sou sequer aprendiz de anteriano nem tão pouco académico, diria que está em terceiro lugar das minhas preferências sendo o preferido O Palácio da Ventura e em segundo lugar Na Mão de Deus.
Evolução
Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo...
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo...
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...
Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.
Anthero de Quental in "Sonetos"

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