Diário Insular - Acaba de visitar a ilha Terceira durante uma semana. O que mais o impressionou?
Nuno Barata - Sai impressionado
com duas realidades diferentes, uma marcadamente negativa e outra
esperançosamente positiva. Em primeiro lugar vim encontrar, no sector público,
na educação - que é o principal sector impulsionador da mobilidade social
- escolas em estado lastimoso, mesmo
aquelas que são mais novas, com 10 a 12 anos, por exemplo, que apenas funcionam
porque existe uma enorme boa vontade das pessoas, corpo docente e não docente e
restante comunidade escolar. Por outro lado, vim encontrar no sector privado,
desde a agricultura à construção civil um grande dinamismo, inovação e
empreendedorismo que só não é maior porque esbarra em burocracia e na lentidão
do Estado/Região.
Diário Insular - O conjunto
Aeroporto das Lajes-Porto da Praia da Vitória continua a ser uma espécie de
elefante branco civil. Em sua opinião, o que condiciona o desenvolvimento
daquele complexo?
Nuno Barata - Em primeiro lugar
há que dissociar essas duas infraestruturas. Apélo à comunidade que não insista
em quimeras e falsas promessas, olhem as infraestruturas com pragmatismo e
sentido de oportunidade. As infraestruturas, por si só, não trazem
desenvolvimento, basta olhar o exemplo do Aeroporto de Santa Maria para se
perceber que a infraestrutura está lá, tem imensas valências, imensas
potencialidades, mas neste momento não passa de um ponto geográfico. Desse modo
penso que o mesmo acontece quando se insiste em falar de um eixo Lajes-Cabo da
Praia. Prefiro pensar as potencialidades das infraestruturas separadamente. O
Porto da Praia da Vitória e a Baia da cidade têm um potencial enorme para
desenvolver atividades náuticas e para a recuperação e até construção naval. O
Porto tem espaço, e os terraplenos circundantes são enormes. Nenhuma outra
estrutura portuária dos Açores tem tanto potencial de crescimento, os que se passou
foi que os políticos andaram a agitar bandeiras e quimeras em vez de se meterem
ao trabalho. O Porto da Praia precisa de pensamento estratégico. O resto vem
por acréscimo.
Diário Insular - O que
encontrou de mais negativo na Terceira?
Nuno Barata - Não se pode dizer que tenha encontrado coisas muito negativas, como disse acima, é transversal, vim encontrar o parque escolar degradado e um corpo docente muitas vezes envelhecido e a não se imaginar com 67 anos a trabalhar nas condições que tem hoje. De resto o que tem constituído para alguns atrasos estruturais da Ilha Terceira é não trilhar o seu caminho, as suas elites estão sempre focadas no concelho vizinho, na ilha vizinha e em soluções para lá de ótimas esquecendo que o ótimo é inimigo do bom e que enquanto olham para a carroça do vizinho não fazem o seu caminho e vão caindo nos buracos que o vizinho se foi desviando.
Diário Insular - Sente-se a
orfandade dos tempos de ouro da Base das Lajes como uma espécie de entrave a
ideias de desenvolvimento?
Nuno Barata - Todas as Ilhas
tiveram momentos áureos e momentos menos bons, a “época de ouro” da aeronáutica
civil em Santa Maria não volta, assim como não voltam as companhias do cabo
submarino à Horta, não haverá navios a parar no meio do Atlântico para
abastecer porque a companhias investiram em autonomia. Precisamos encontrar nichos
de mercado para explorar e eles existem e são muitos e bastante lucrativos. O
futuro não se constrói com os olhos postos no passado, faz-se procurando
soluções no presente e para o futuro. A Base
terá altos e baixos, isso dependerá da necessidade que a NATO venha a
ter deste ativo ou não, mas a Terceira não pode viver estribada nas Lajes sob
pena de definhar.
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