25 de maio de 2022
Inesgotabilidade
24 de maio de 2022
Em busca da quimera perdida
No
princípio dizia-se que os Açores eram uma terra rica e de grande prosperidade.
Do mar, da pesca e da Base das Lajes viria toda a nossa fortuna. Seríamos, num
ápice, todos ricos sem necessidade de trabalharmos. Assim nos venderam a ideia
de Autonomia político-administrativa. Seríamos ricos e governaríamos as nossas
ilhas ditando o nosso destino.
Alguns,
os mais céticos, mais racionais e pragmáticos, logo desconfiaram que coisa tão
boa não seria de acontecer nestas ilhas, de onde já haviam visto partirem os
seus mais próximos, pais, avós, tios, irmãos e primos, rumo à outra margem do
Atlântico.
Hoje,
alguns, líricos, românticos, deslumbrados com o poder, embora sem sequer o vislumbrarem,
continuam alimentando na busca de quimeras vãs as soluções para o dia de
amanhã. Da pesca, da vaca e do leite, do mar profundo e do espaço, como uma
família endividada que se perde em jogos de fortuna e azar à espera de um
milagre.
Entretanto,
a Região segue endividada, cada vez mais endividada… vai perdendo os seus principais
ativos e os seus principais centros de decisão. Enredeados por um regime que se
revela incapaz de se reformar e por um poder que anuncia ser aquilo que não é!
O regime se não se
reforma, se não se adapta ao tempo, num processo rápido e eficaz, acabará pondo
em causa a sua própria sobrevivência, pela emergência de populismos serôdios e
totalitarismos indesejáveis.
Num regime democrático
e liberal, parlamentar por essência, como é o nosso, o poder legislativo tem sempre
um papel preponderante na fiscalização da observância das elementares regras
democráticas, por forma a garantir que o poder executivo não perpetra
sobre os cidadãos pressões e formas totalitárias e autoritárias de poder.
Quando nós, cidadãos, nos demitimos de escolher os melhores entre os nossos
pares, deixamos essa decisão nas mãos de outros. Quando nós, cidadãos,
desacreditamos os diretamente eleitos damos força aos que, não tendo a mesma
legitimidade democrática, têm mais poder de mudar as nossas vidas.
Para uma reforma, que
se entende necessária da Autonomia, concorrem além das nossas vontades e apetites,
as instituições nacionais e da União Europeia. Na verdade, as questões
relativas à nossa Autonomia decidem-se, cada vez mais, em Lisboa ou em Bruxelas
e, cada vez menos, nos Açores. Na realidade, o financiamento fundamental ao
funcionamento das nossas instituições, decide-se mais no eixo entre o
Terreiro do Paço e a Rue de la Loi, do
que no eixo longitudinal Horta-Angra do Heroísmo-Ponta Delgada.
Carece, assim, a
nossa Autonomia, de uma reforma ampla, que permita aproximar os eleitores dos
eleitos para que os primeiros se sintam de veras representados pelos segundos.
Caso contrário, o presente quadro parlamentar não está a prestar um bom serviço
ao regime, bem ao invés contribui para a sua degradação. E não vale a pena
continuarmos em busca de quimeras perdidas!
In jornal Diário Insular, edição de 24 de maio de 2022
22 de maio de 2022
Poeta em Angra
Comerciei fazendas na Rua de São João,
Fui saltimbanco no adro da Sé,
Em São Pedro fui sapateiro
Fui Donatário, Capitão-general,
Fui poeta na memória.
Amei uma prostituta no Pátio da Alfândega
Embarquei numa caravela do Gama
Rumo às Índias Orientais
Cheio de esperanças e quimeras
Tive escorbuto sede e fome
Dias dificeis carecem de estadistas não de populistas
Ao ler a edição do passado sábado do Jornal que a partir de hoje me acolha às terças-feiras nas suas páginas, deparei-me com duas tomadas de posição dos Senhores Deputados da República sobre os Açores e ambas dedicadas à Ilha Terceira em particular. Desde que o Dr. José Lourenço me convidou a colaborar com o Diário Insular tenho adiado esta participação, mas eis que hoje, os Senhores Deputados que nos representam em Portugal ajudaram nesse difícil pontapé de saída. As posições dessas figuras também podiam ter servido de inspiração a um qualquer humorista ou cartoonista.
Fiquei para aqui perdido em cogitações sobre esses dois grandes
partidos que nos têm governado cá e lá e que nos têm representado lá, em Portugal,
alternando poderes entre uns e outros, entre o socialismo puro e duro do PS e o
socialismo requentado de um PSD que não se consegue assumir liberal e assim se libertar
do pensamento estatista que os seus fundadores nos Açores lhe conferiram por necessidade
estrutural.
Paulo Moniz desenterra o assunto do GNL, Vânia Ferreira - atual
Presidente de Câmara da Cidade da Praia da Vitória – havia desenterrado a
questão do HUB Logístico Internacional no lançamento da sua campanha autárquica.
Já Sérgio Ávila, nem especifica, pergunta ao atual Ministro Costa e Silva o que
devemos fazer e o que reserva Portugal para os Açores. Pois é levar isso tudo
com muita paciência que essa gente nem sabe do que fala e muito menos sabe o
que quer para esta terra quase à beira de se tornar ingovernável pelo sucessivo
adiamento de políticas estratégicas, de veras, estruturantes e capazes de fazer
crescer e consolidar o tecido económico e empresarial.
Na verdade, esses
Partidos centralistas continuam a dizer inverdades aos açorianos e em especial
aos Terceirenses para nos embalar a todos numa teia de enredos que vai levando
a Terceira ao definhamento e à perda de importância quer em termos internos
quer em termos internacionais. Continuar a alimentar a questão do GNL (Gás
Natural Liquefeito) e do HUB Internacional é adiar soluções, adiar importância
e fingir que estão com a Terceira e os Terceirenses. Meus Caros conterrâneos da
Ilha de Jesus Cristo, acreditai que quem vos diz a verdade não é bairrista nem
tem absolutamente nada contra o desenvolvimento da Ilha, bem pelo contrário, o
que defendo é um crescimento económico de todos para, dessa forma, todos sermos
mercado uns dos outros e todos termos dias melhores num futuro próximo. O que
defendem os outros que se dizem amigos e preocupados, são soluções desenquadradas,
quimeras vãs e mitos urbanos sobre a importância geoestratégica dos Açores e o
nosso desenvolvimento assente nessa mera geografia.
Os dias que se seguem não se coadunam com romantismos bacocos
ou lirismos, os dias que se seguem carecem de gente capaz de decidir de forma
pragmática e realista, os dias difíceis carecem de homens de Estado, não de
populistas sejam eles dos partidos ou
das outras corporações costumeiras, sejam eles da esquerda , da direita ou do
centro, sejam eles do Estado, da Região, das autarquias ou sejam eles até das associações empresariais ou das
empresas, dos sindicatos ou dos trabalhadores.
In Jornal DIário Insular, edição de terça-feira 17 de maio de 2022