O Deputado da Iniciativa Liberal na Assembleia Legislativa dos Açores, Nuno Barata, sublinha as contradições em torno da Estrutura de Missão para o Espaço e explica por que precisamos de terceiros.
Diário Insular - Já questionou os custos da estrutura de missão para o espaço (açoriana) que vinha do governo anterior e mantém-se. Há algo especial que desperte a sua atenção?
Nuno Barata - Claro que há! Uma questão que, logo à partida, desperta a atenção de qualquer cidadão atento é o facto de o Sr. Ministro Manuel Heitor ter vindo à Região dizer que os Governos Regionais, o anterior e o atual, foram incompetentes no que à estratégia dos Açores para o espaço concerne. Depois, a Sr.ª Secretária Regional da tutela que veio dizer que todo o processo está atrasado por culpa do Governo anterior. No entanto, a cereja no topo do bolo é a renomeação e recondução da mesma Estrutura de Missão para o Espaço que vinha do Governo Regional anterior. É, no mínimo, inusitado e obviamente isso desperta, faz soar alarmes, em qualquer mente inquieta.
Diário Insular - Há estruturas em Santa Maria relacionadas com o espaço e os marienses tardam em ver resultados palpáveis no seu modo de vida. Depois há (haverá...) o porto espacial.... Correremos o risco de darmos o espaço (físico) essencial e entregarmos o ouro a alguém?
Nuno Barata - Em qualquer tipo de investimento externo corremos esse risco, isso parece-me óbvio, mas se caminharmos permanentemente alimentando esses medos e essas inquietudes, certamente não vamos avançar e jamais saberemos se demos o passo certo ou errado. É só nesse sentido que questiono os custos da Estrutura de Missão, para tentar avaliar se são gastos ou se, ao invés, são ganhos. Há coisas que custam muito dinheiro e que não são caras, assim como há coisas onde são gastas quantias pequenas que constituem gastos enormes. Tudo depende da sua eficiência, ou seja, da sua relação com a eficácia. Por exemplo, o avião Concorde era extremamente eficaz, transportava pessoas muito rapidamente entre dois pontos do globo. No entanto, a sua operação era de tal forma onerosa que o tornou ineficiente. Esse é um excelente exemplo: um avião do outro mundo, mas isso tinha um custo incomportável. E há por aí tantas coisas do "outro mundo"...
Diário Insular - Teremos capacidade nos Açores para refletir sobre o uso do nosso espaço geoestratégico (para fins civis e militares) ou será que, pelo menos nisto, fazemos aquela figura do burro a olhar para um palácio?
Nuno Barata - Há que diferenciar a nossa posição geográfica daquilo que é a nossa posição geoestratégica e ainda a nossa importância geoestratégica e geopolítica. A nossa posição geográfica decorre das convenções internacionais que definem a nossa latitude e a nossa longitude e isso não mudará, a não ser que aconteça um cataclismo que nos faça desaparecer do mapa mundi. A nossa posição geoestratégica decorre da nossa posição geográfica conjugada com as geografias mais próximas, Estados Unidos da América a ocidente e Europa a oriente, no meio destes dois centros económicos e militares de preponderante importância para o equilíbrio das forças mundiais. E os Açores têm um pedaço da América e são espaço da Europa! A nossa importância geoestratégica e geopolítica depende da necessidade que um desses polos ou um terceiro polo venham a ter, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista militar. A importância não é aquela que nós atribuímos, mas sim aquela que terceiros nos atribuem.
Diário Insular - Fará alguém alguma ideia, mesmo com algum tempo para consultas, de quantas estruturas aproveitam o nosso espaço geoestratégico? Quem e quanto ganham com isso? E quanto (ou como) ganhamos nós?
Nuno Barata - Não! Ninguém sabe e ninguém consegue avaliar. Mas isso não é obrigatoriamente mau, bem pelo contrário. Mau mesmo é nós continuarmos a desvalorizar todas as questões de geografia e geopolíticas e não sermos competentes para desenvolvermos atividades capazes de valorizarem a nossa geografia, tendo em conta as geografias que nos são mais próximas.