29 de agosto de 2019

Rentrée politica 2019



Diário dos Açores - A rentrée política vai ser dominada pela campanha eleitoral para as legislativas. O que espera em termos de propostas pelos candidatos dos Açores?

Nuno Barata - Eu diria que as campanhas eleitorais, oficiosamente, cada vez começam mais cedo. A busca pela notoriedade permanente por parte dos candidatos assim o obriga. Nessas alturas as máquinas partidárias desdobram-se a arrebanhar profissionais da politica alocados nas máquinas governamental e do poder local para se disponibilizarem a acompanhar os candidatos a tudo quanto é sitio e a pretexto de seja o que for. Não raras vezes vemos os cabeças de lista acompanhados de agentes partidários que nem candidatos são, quando os próprios de terceira e quarta linha (quase sempre os que de facto sabem fazer qualquer coisa mais útil) estão, de facto, trabalhando. Uns mais do que outros vão lançando ideias e deixando no ar elogios ou criticas consoante a côr partidária e o local da visita. As principais corporações são sempre bafejadas nestas alturas, coisas que ainda ficaram do “tempo da outra senhora”.
São muitas e muito importantes as questões que estão pendentes entre Lisboa e as Regiões Autónomas nomeadamente com os Açores e  que ficaram numa espécie de banho-maria nos últimos quatro anos. Podemos enumerar algumas relacionadas com a segurança interna, com os tribunais, com a fiscalização da ZEE, com o património do Estado na Região e até mesmo a questão da descontaminação dos solos na Ilha Terceira que deveria ser motivo de empenho da esquerda tradicional e da chamada esquerda caviar que tanto enche a boca com as questões ambientais e que deixou esse assunto sem avanços na última legislatura, preferindo essa mesma esquerda governante deixar andar para ver se o tempo resolve. No entanto, há uma questão de relevantíssima importância que falta aclarar e que não pode continuar a ser “empurrada com a barriga”, trata-se desse conceito vago a que chamaram “gestão partilhada do mar”. É preciso saber isso o que é. Quais os limites da ação do Estado? O que compete às Regiões? Quem decide e, sobre tudo, sobre o que se decide? Neste particular assunto ainda não ouvi uma proposta. Mas nem sequer é ouvir que os Açorianos precisam, os Senhores Deputados da Nação eleitos pelas Regiões, nomeadamente os dos Açores têm obrigação de apresentar legislação nesta matéria, de resto estamos a falar de minudências.
Sim, a rentrée politica vais ser dominada pela campanha eleitoral, com o rol de promessas costumeiro e sem que o eleitorado se envolva nas questões que realmente importa discutir, aos políticos profissionais, tenham eles propensão genética ou não, também não convém agitar as águas, ou seja, vamos ter um prolongamento da  silly season.

Diário dos Açores - Se, como se prevê, o PSD nacional obtiver um dos piores resultados de sempre, Rui Rio demitir-se-á ou será demitido?
Nuno Barata - Rio não passará a prova de fogo que será o ato eleitoral de outubro próximo. Os estudos de opinião assim o indicam e a sensibilidade de quem analisa a política nacional confirma-o. O ex-autarca do Porto que parecia um político determinado e consequente, um “homem às direitas”, que chegou a criar alguma ilusão de esperança numa certa direita que se sentia órfã, acabou por se revelar um socialista travestido. Na verdade, com Passos Coelho (direita liberal) e Paulo Portas (direita mais conservadora) na cena política nacional o espaço de Rui Rio foi-se esbatendo. No entanto as suas ambições de liderar o PSD não seguiram essa tendência e mal se denunciaram os primeiros indicadores de que Passos poderia não conseguir a famigerada segunda maioria (que acabou tendo apesar de não ter sido suficiente para manter o governo) Rio partiu ao ataque interno fazendo uso da sua boa relação com a comunicação social e desferindo rudes golpes públicos sobre o governo liderado pelo PSD e pelo CDS, culpando a politica gizada pelo governo de então da situação aflitiva de sufoco financeiro em que os portugueses se encontravam quando, verdadeiramente, essa responsabilidade deve ser alocada a quem deixou o país na bancarrota pela terceira vez (nunca é demais lembrar), ao Partido Socialista. O eleitorado de direita não perdoa a Rio essa traição, apesar do PSD ter confiado a ele os seus destinos, mas essas são contas de outro rosário que já aqui desfiamos. Os partidos e as corporações em geral são instituições pouco democráticas onde quem domina as máquinas ganha eleições com mais facilidade.
Desde que se conseguiu eleger “líder” da oposição, o discurso à esquerda manteve-se e até se reforçou e foi associado a uma espécie de “namoro” ao Partido Socialista para uma eventual solução governativa em segundas núpcias de um malfadado Bloco Central.
As eleições legislativas para a constituição da Assembleia da República são o grande embate e o grande objetivo de todos os Partidos políticos com força de razão para os chamados partidos do arco da governabilidade de onde o PSD faz parte inequivocamente. Dai, num quadro espectável de grande humilhação eleitoral, Rui Rio não tem alternativa senão deixar a liderança dos sociais-democratas portugueses. Não saindo, Rui será “empurrado” porta fora da São Caetano à Lapa.



Diário dos Açores - Consequências para os Açores? Até às regionais alguma coisa mudará?

Nuno Barata – Com o PSD nacional com uma liderança a prazo e com Alexandre Gaudência irremediavelmente fragilizado pelas decorrências da “Operação Nortada”, seja qual for o desfecho desta, não se esperam grandes alterações ao xadrez político regional. As eleições legislativas do próximo outubro servirão apenas de termómetro para confirmar o estado da infeção que enferma o PSD nacional e regional. Com o CDS envolto em polémicas internas, e com um congresso agendado para o final do ano e que se espera tudo menos que seja pacifico, sem sabermos ainda o quanto vale a nível regional o Aliança que apresenta um excelente candidato nas legislativas nacionais mas que nas europeias ficou muito aquém das expectativas dos seus dirigentes, com o PCP com os seu eleitorado estabilizado e localizado, apenas se podem esperar surpresas do Bloco de Esquerda que pode crescer em São Miguel e Terceira, ou residualmente do PAN, pelo seu objeto ou do Iniciativa Liberal pela ideologia cada vez mais uma tendência europeia. De resto, pouco se pode esperar numa região onde os níveis de participação cívica têm vindo a baixar significativamente e onde a pobreza continua a gerar inúmeras dependências até de consciência há mesmo agentes políticos que fazem questão de lembrar isso aos eleitores.

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