Diário dos Açores - A rentrée política vai ser dominada pela campanha
eleitoral para as legislativas. O que espera em termos de propostas pelos
candidatos dos Açores?
Nuno Barata - Eu diria que as campanhas
eleitorais, oficiosamente, cada vez começam mais cedo. A busca pela notoriedade
permanente por parte dos candidatos assim o obriga. Nessas alturas as máquinas
partidárias desdobram-se a arrebanhar profissionais da politica alocados nas
máquinas governamental e do poder local para se disponibilizarem a acompanhar
os candidatos a tudo quanto é sitio e a pretexto de seja o que for. Não raras
vezes vemos os cabeças de lista acompanhados de agentes partidários que nem
candidatos são, quando os próprios de terceira e quarta linha (quase sempre os
que de facto sabem fazer qualquer coisa mais útil) estão, de facto,
trabalhando. Uns mais do que outros vão lançando ideias e deixando no ar
elogios ou criticas consoante a côr partidária e o local da visita. As
principais corporações são sempre bafejadas nestas alturas, coisas que ainda
ficaram do “tempo da outra senhora”.
São muitas e muito importantes as questões
que estão pendentes entre Lisboa e as Regiões Autónomas nomeadamente com os
Açores e que ficaram numa espécie de
banho-maria nos últimos quatro anos. Podemos enumerar algumas relacionadas com
a segurança interna, com os tribunais, com a fiscalização da ZEE, com o
património do Estado na Região e até mesmo a questão da descontaminação dos
solos na Ilha Terceira que deveria ser motivo de empenho da esquerda
tradicional e da chamada esquerda caviar que tanto enche a boca com as questões
ambientais e que deixou esse assunto sem avanços na última legislatura,
preferindo essa mesma esquerda governante deixar andar para ver se o tempo
resolve. No entanto, há uma questão de relevantíssima importância que falta aclarar
e que não pode continuar a ser “empurrada com a barriga”, trata-se desse
conceito vago a que chamaram “gestão partilhada do mar”. É preciso saber isso o
que é. Quais os limites da ação do Estado? O que compete às Regiões? Quem
decide e, sobre tudo, sobre o que se decide? Neste particular assunto ainda não
ouvi uma proposta. Mas nem sequer é ouvir que os Açorianos precisam, os
Senhores Deputados da Nação eleitos pelas Regiões, nomeadamente os dos Açores
têm obrigação de apresentar legislação nesta matéria, de resto estamos a falar
de minudências.
Sim, a rentrée politica vais ser dominada
pela campanha eleitoral, com o rol de promessas costumeiro e sem que o
eleitorado se envolva nas questões que realmente importa discutir, aos
políticos profissionais, tenham eles propensão genética ou não, também não
convém agitar as águas, ou seja, vamos ter um prolongamento da silly
season.
Diário dos Açores - Se, como se prevê, o PSD nacional obtiver um dos piores
resultados de sempre, Rui Rio demitir-se-á ou será demitido?
Nuno Barata - Rio não passará a prova de
fogo que será o ato eleitoral de outubro próximo. Os estudos de opinião assim o
indicam e a sensibilidade de quem analisa a política nacional confirma-o. O
ex-autarca do Porto que parecia um político determinado e consequente, um
“homem às direitas”, que chegou a criar alguma ilusão de esperança numa certa
direita que se sentia órfã, acabou por se revelar um socialista travestido. Na
verdade, com Passos Coelho (direita liberal) e Paulo Portas (direita mais
conservadora) na cena política nacional o espaço de Rui Rio foi-se esbatendo.
No entanto as suas ambições de liderar o PSD não seguiram essa tendência e mal
se denunciaram os primeiros indicadores de que Passos poderia não conseguir a
famigerada segunda maioria (que acabou tendo apesar de não ter sido suficiente
para manter o governo) Rio partiu ao ataque interno fazendo uso da sua boa relação
com a comunicação social e desferindo rudes golpes públicos sobre o governo
liderado pelo PSD e pelo CDS, culpando a politica gizada pelo governo de então
da situação aflitiva de sufoco financeiro em que os portugueses se encontravam
quando, verdadeiramente, essa responsabilidade deve ser alocada a quem deixou o
país na bancarrota pela terceira vez (nunca é demais lembrar), ao Partido
Socialista. O eleitorado de direita não perdoa a Rio essa traição, apesar do
PSD ter confiado a ele os seus destinos, mas essas são contas de outro rosário
que já aqui desfiamos. Os partidos e as corporações em geral são instituições
pouco democráticas onde quem domina as máquinas ganha eleições com mais
facilidade.
Desde que se conseguiu eleger “líder” da
oposição, o discurso à esquerda manteve-se e até se reforçou e foi associado a
uma espécie de “namoro” ao Partido Socialista para uma eventual solução
governativa em segundas núpcias de um malfadado Bloco Central.
As eleições legislativas para a
constituição da Assembleia da República são o grande embate e o grande objetivo
de todos os Partidos políticos com força de razão para os chamados partidos do
arco da governabilidade de onde o PSD faz parte inequivocamente. Dai, num quadro
espectável de grande humilhação eleitoral, Rui Rio não tem alternativa senão
deixar a liderança dos sociais-democratas portugueses. Não saindo, Rui será
“empurrado” porta fora da São Caetano à Lapa.
Diário dos Açores - Consequências para os Açores? Até às regionais alguma
coisa mudará?
Nuno
Barata – Com o PSD nacional com uma liderança a prazo e com Alexandre Gaudência
irremediavelmente fragilizado pelas decorrências da “Operação Nortada”, seja
qual for o desfecho desta, não se esperam grandes alterações ao xadrez político
regional. As eleições legislativas do próximo outubro servirão apenas de
termómetro para confirmar o estado da infeção que enferma o PSD nacional e
regional. Com o CDS envolto em polémicas internas, e com um congresso agendado
para o final do ano e que se espera tudo menos que seja pacifico, sem sabermos
ainda o quanto vale a nível regional o Aliança que apresenta um excelente
candidato nas legislativas nacionais mas que nas europeias ficou muito aquém
das expectativas dos seus dirigentes, com o PCP com os seu eleitorado
estabilizado e localizado, apenas se podem esperar surpresas do Bloco de
Esquerda que pode crescer em São Miguel e Terceira, ou residualmente do PAN,
pelo seu objeto ou do Iniciativa Liberal pela ideologia cada vez mais uma
tendência europeia. De resto, pouco se pode esperar numa região onde os níveis
de participação cívica têm vindo a baixar significativamente e onde a pobreza
continua a gerar inúmeras dependências até de consciência há mesmo agentes
políticos que fazem questão de lembrar isso aos eleitores.
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