28 de dezembro de 2017

Coluna Liberal- Diário dos Açores -2017.12.22


As outrora “demoníacas” agências de notação financeira,  “agentes do neoliberalismo abjeto”, “encarnações do demo e máquinas ao serviço dos especuladores financeiros e dos mercados”, são agora citadas pela esquerda governante como as mais sérias das entidades apenas porque sobem a classificação deste pobre país “geringonçado”  uns pontinhos dizendo que já estão afastados os perigos de comprar divida publica portuguesa.

Os bancos, por seu lado, regressaram às práticas comerciais agressivas de venda de produtos tóxicos, (veja-se o caso dos Bit Coin) e crédito ao consumo e para habitação que associado ao crescimento do turismo e aos incentivos ao investimento altamente regulados e regulamentados e como tal dirigidos (dinheiro dos contribuintes)  à construção e reconstrução para alojamento alternativo vão tirando do mercado imóveis outrora dedicados  o arrendamento e fazendo subir especulativamente o preço do imobiliário para níveis muito além de 2008 . Confirma-se, vivemos num país de memória curta, que se esqueceu rapidamente das causas da anterior crise e que prefere olhar os resultados de curto-prazo do que pensar os efeitos desse seu bem-estar nas gerações que vão vir.

No entanto, esses ciclos económicos que costumeiramente eram geracionais passaram a ser mais curtos. A crise de 1929 nos Estados Unidos da América, que durou até à eclosão da II Guerra Mundial em Setembro de 1939 deveria ter ensinado ao Mundo as vantagens do liberalismo económico na recuperação da economia, bem como as grandes vantagens dessa mesma economia na construção de um mundo com menos pobreza. Mas, ao invés, a humanidade no seu geral, criou reações opostas a esse portento da economia mundial que é a América dos sonhos. Só a China percebeu essas vantagens e bem mais tarde.

Se atentarmos às grandes democracias sociais da Europa do Norte, e se tomarmos como exemplo a Noruega, facilmente percebemos que os níveis de apoio social que esses Estados garantem apenas são possíveis porque detêm um potencial endógeno enorme. A Noruega, por exemplo, além de não importar energia porque detém gás natural e petróleo para auto consumo, ainda é exportadora dessas mesmas fontes energia garantido 36% do petróleo consumido no Reino Unido, e 8% das necessidades de gás natural de toda a europa. Obviamente que assim é fácil, o estado social só é possível quando há riqueza criada a montante dele ou como dizia a “Dama de Ferro”, “o socialismo acaba quando acaba o dinheiro dos outros”
O caso português é o paradigma do inverso, primeiro destruímos valor e depois instituímos o socialismo. Depois, reagimos. Como? Da pior maneira. Criamos um sistema de incentivos aos investimento e estímulos estatais e da União à economia  para tentar criar riqueza, mecanismos esses que funcionam como inibidores da imaginação do empresariado que é uma das molas da inovação. Os sistemas de incentivos proporcionam dinheiro barato, que no caso dos países mais pobres do sul como é o nosso caso, é retirado ao estado-social, para ser investido onde e como o Estado define e direciona, os resultados estão à vista com um aumento exponencial do número de pobres e um agravamento das desigualdades nunca registado anteriormente. É necessária mais liberdade de escolha como estimulo à inovação e à renovação dos tecidos económicos e empresariais.

A emergência do estado providência do pós-guerra estabelece como seu fundamento a protecção do cidadão na educação e na doença. No entanto, o Estado deixou de estar onde deveria estar, abandonou a saúde, a educação, a segurança interna e externa,  para se dedicar a tratar daquilo que não tem vocação, transportes, industria, comércio e serviços. O Estado do pós-liberalismo falhou. No caso português falhou rotundamente.

O Estado Português, o tal que se diz social, socialista e social-democrata, demitiu-se há muito dessa função (a verdadeira função social) de apoiar os que mais necessitam, pobres, doentes, abandonados, desempregados, deficientes, e pessoas em profunda solidão, para usar os parcos recursos que detém a entreter-se a distribuir "benesses" aos ricos apelidando-as de incentivos ao investimento. O resultado está à vista: lares de idosos clandestinos e sem condições (milhares); IPSS engordadas com corruptos e deslumbrados (são o 3º sector, imagine-se); Populações abandonadas à sua sorte no interior do país e na periferia (milhares); Fogos, mortes, listas de espera nos hospitais, fome, desemprego, destruição de valor; Desaparecimento da indústria sem renovação; Fim das pescas; Agricultura insuficiente e mais um “ror” de coisas que poderiam "fastidiosamente" aqui desfilarem.

O Estado deixou de exercer as suas verdadeiras funções para se transformar num alimentador de gamelas.

Nuno Barata

Diário dos Açores 2017.12.22

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