Diário dos
Açores - Olhando para este 2017, o que considera de mais
positivo e negativo que se passou nos Açores?
Nuno Barata -
No que concerne aos pontos mais positivos do ano que agora finda destaco, sem
margem para qualquer dúvida, a afirmação dos Açores como destino turístico rumo
à consolidação como mercado recetor de origens diferentes e diferenciadas.
O aumento do turismo e consequentemente da população flutuante trouxe um
novo fôlego à economia Açoriana em especial na Ilha de São Miguel, relançando
novas bases para o crescimento da construção civil, promovendo um abaixamento
da taxa de desemprego em sectores que muito haviam sofrido com a crise de 2008
. Mas, mais do que tudo, permitiu um novo modo de estar e de evoluir com imaginação
e empreendedorismo em áreas como o alojamento, a restauração, os produtos
lácteos, compotas e conservas bem como no artesanato.
Paralelamente e porque a Região nunca será um destino de natureza
mas sim um destino em que a paisagem
humanizada se confunde com a paisagem natural num equilíbrio quase perfeito,
saliento as posições de força tomadas pelo Governo dos Açores, nomeadamente
pelo seu Presidente, no concernente à descontaminação dos solos na Ilha
Terceira. De facto, este é um assunto que merece da nossa parte, da parte de
todos os Açorianos, um enorme empenho e se os Estados Unidos não dão ouvidos às
nossas reivindicações (e não dão) pois então que seja Portugal a proceder à
necessária e urgente descontaminação pois foi , sempre, o governo central quem
esteve em permanência nas rondas sucessivas de negociações e foi o todo
nacional o grande beneficiário da presença Norte-americana nas lajes.
Não é compatível uma região contaminada com turismo de valor
acrescentado que se espera e deseja. Os dados estão lançados, saibam os nossos
políticos, do poder regional e do poder local garantirem que os Açores serão um
destino de grande valor não deixando depreciar esse precioso produto.
Negativamente é de referir o encerramento, ou melhor a sua
transformação numa unidade de ensacamento (seja lá o que isso for) anunciado da
SINAGA como uma espécie de tratamento de choque para uma doença que se poderia
ter evitado antes de se gastar aos cofres dos contribuintes 26 milhões de
euros. Mesmo sabendo que o encerramento era inevitável, é de lamentar que a
meses do desfecho, a 29 de Agosto, o Secretário Regional da tutela tenha dito que “ a solução
que está a ser trabalhada pelo Governo Regional passa pela manutenção da Sinaga”.
A entrada do Governo dos Açores no Capital da centenária Açucareira Micaelense,
serviu apenas para resolver os problemas dos acionistas privados, tirando assim
aos impostos dos que menos podem para dar aos que mais podem, e para,
paralelamente e consequentemente, salvar a Fábrica de Cervejas e Refrigerantes
João de Melo Abreu Ldª da qual a SINAGA é atualmente uma das maiores credoras.
Toda a estratégia (ou falta dela) económica e financeira da região
na última década é calamitosa para as gerações que agora estão a entrar no
mercado de trabalho e que num futuro muito próximo serão os novos pobres numa
região ainda mais pobre.
A estratégia para a pobreza anunciada por Vasco Cordeiro é só o
corolário desse falhanço. É um médico a tentar a mesinha para a doença que
ajudou o paciente a contrair. O Rendimento Social de Inserção, que é o único
instrumento de combate à pobreza existente no momento, não é contudo suficiente
para combater a exclusão social e as cada vez mais gritantes desigualdades
socias e de oportunidades.
Se quisermos fazer uma análise séria, estratificada, territorial,
regional e local, sobre a pobreza falta informação à distância de um click isso significa uma de duas coisas: ou o Governo anda a esconder-nos a verdade dos
factos ou ele próprio não sabe ao certo que que se está a passar.
Diário dos
Açores - O que é que perspetiva para 2018?
Nuno Barata –
A entrada no mercado de uma grande companhia de transportes aéreos com cinco
voos regulares entre os Estados Unidos da América e Ponta Delgada, trará,
certamente, um redobrado folego ao sector do turismo e aumentará a população
flutuante para níveis já muito próximos do desejável. Prevejo um crescimento
económico acima dos anos anteriores e a consolidação do destino Açores a médio prazo.
O tipo de turismo que vem dos Estados Unidos, seja ele étnico ou
não, é o melhor turismo que podemos almejar, quer pelos seus hábitos de consumo
quer pelo seu nível de exigência. Um cliente exigente ajuda a prestar um melhor
serviço.
O sufoco financeiro em que se encontra o Governo dos
Açores e o sector empresarial regional não augura coisas boas para 2018 pois
ainda há muita economia dependente do investimento e da despesa pública. No
entanto, o crescimento esperado para o sector do turismo e consequentes
reflexos noutros sectores da economia podem atenuar alguns dos problemas que se
apresentarão. Na verdade, estes anos difíceis para as finanças públicas
regionais e o necessário reajustamento podem funcionar como uma espécie de “desmame”
dos sectores mais dependentes da economia o que até certo ponto pode ser
salutar a médio e longo prazo para os próprios agentes económicos. Tornar-se
menos dependente da despesa pública só pode ser bom.
Há no ar um clima de insatisfação, de suspeição e de
permanente escrutínio da atividade e das tomadas de posição, dos autarcas, dos
governantes, das polícias, dos tribunais, dos professores, das agremiações, das
misericórdias, das corporações, das organizações de classe, dos condóminos do
3º esquerdo, dos funcionários e de tudo o que mexe à nossa volta.
A rua fala e
isso não é de todo desprezível embora não seja coisa de se dar grande crédito
é, no mínimo, de manter a gente alerta por que causa desconforto. A falta de
informação e o facto da pouca informação ser apenas oficial saída dos gabinetes
de imprensa ou dos assessores, não conforta quem tem que lidar diariamente com
esse clima de permanente insegurança face às instituições. Temo que entraremos
numa fase da vida na polis em que todos seremos alvo de desconfianças e isso é
dolorosamente pernicioso para a liberdade de cada um.
Este segundo ano do segundo mandato de Vasco Cordeiro
na presidência do Governo Regional dos Açores é o ano derradeiro, a última oportunidade,
do Secretário-geral do PS-Açores se afirmar como líder do Governo e
consequentemente líder dos Açorianos. Na verdade, tal como venho dizendo há
algum tempo, apesar de Vasco Cordeiro ser a figura mais importante da
hierarquia regional, isso não significa que lidere o processo governativo
outros o fazem, uns de forma velada outros de forma descarada e propagandeada.
Vasco Cordeiro beneficiou, na preparação das eleições de
2012, de um enorme apoio, ruidoso e silencioso. Na realidade, muita gente houve
que depositou largas esperanças no jovem político Açoriano apesar da sua parca
experiência fora de cargos dirigentes e políticos. O correr do dias trouxe mais
desilusão do que ilusão e muitos foram os que se afastaram da vida pública por estarem desiludidos não
só com o PS mas sobretudo com o estilo de governação de Vasco Cordeiro e pelo facto deste se deixar enredar em teias
de poder que vão desde Lisboa ao Corvo.
As anunciadas auditórias externas para o início do
ano, (apesar de não ser compreensível que Vasco Cordeiro ponha no mesmo “saco”
O IROA e a Portos dos Açores à mistura com entidades de direito privado como
são a ATA e as Misericórdias) se não se tratarem apenas de medidas
administrativas para tentar mostrar que se está a fazer alguma coisa, podem ser
um bom presságio de mudanças que o Presidente do Governo pretenda operar na
Região.
Espera-se uma remodelação governamental na Educação,
na Agricultura e Florestas e no Turismo e Ambiente e espera-se que o Governo se
reorganize por forma a que o seu Presidente tome as rédeas do mesmo e se rodeie
de gente daquela tempera dos que estiveram com ele na primeira hora sob pena
de, não o fazendo, ficar para história dos Açores pelos piores motivos.
Ponta Delgada, 29 de Dezembro de 2017