As resistências europeias, depois
da revolução Francesa, ao Novo Regime foram muitas. É até compreensível, à
época, que as chamadas potencias absolutistas da Europa - Áustria, Prússia e
até a Rússia- tenham oferecido resistência às ideias desse novo regime burguês.
Em países como Portugal, Espanha ou a França saída da revolução de 1789, essa
resistência torna-se menos compreensível. No entanto, sabemos, a origem da
cisão da França em duas metades religiosas e a enorme resistência que Napoleão
de Bonaparte impôs à igreja de Roma.
Ora, em sociedades impregnadas de
catolicismos muitas vezes barrocos, as resistências a esse novo regime haveriam
de ser ainda maiores e como tal mais visíveis.
No entanto, o rastilho estava
acesso desde a tomada da Bastilha e a sucessão de acontecimentos políticos e
sociais na decorrência das guerras Napoleónicas haveriam de potenciar esse Novo
Regime. Mesmo assim, Portugal permanecia um Pais resistente.
No dealbar de XIX Portugal era um
pais essencialmente do Antigo Regime. Governado por um príncipe com capacidades
intelectuais de duvidosa estirpe e por uma rainha louca, era um reino
essencialmente agrícola que comerciava, incipientemente, com os seus parceiros
tradicionais essencialmente vinhos e cortiça. O bloqueio continental e as
invasões francesas poriam por terra esse mesmo que reduzido comércio.
O quadro político europeu, e a
deslocalização da Corte para o Brasil ludibriando assim Napoleão, as invasões
Francesas o acordo de comércio com a Inglaterra e mais uma mão cheia de razões
ajudam-nos a compreender o processo histórico de construção desse novo regime
em Portugal no primeiro quartel de XIX.
Hoje, no entanto, na era da comunicação digital, do conhecimento
cientifico, do avião supersónico, das viagens espaciais, do web summit e da
inteligência artificial, ao invés de nos tentarmos libertar das peias do Estado
perdulário e endividado, “controleiro” e omnipresente, cavamos ainda mais o
fosso entre as liberdades individuais e aquelas que cedemos a essa tal entidade
absoluta que não olha a limites de ação.
Cada vez mais, as nossas liberdades
individuais, vão diluindo-se quanto mais o Estado vai avançando nos limites da
sua acão. O Estado de hoje constrói narrativas falaciosas sobre necessidades
que não temos nas quais se entretém a destruir riqueza que o obriga depois a
contrair empréstimos externos para satisfazer os seus compromissos. O
endividamento externo do Estado compromete o bem-estar da nação a médio e longo
prazo mas garante a uns poucos a manutenção de pequenos poderes no imediato.
Esses temem o Estado Democrático Liberal porque temem a liberdade dos seus
iguais.
A resistência às ideias liberais de
hoje não tem a ver com ameaças externas ou com guerras internas. A resistência
ao estado liberal de hoje tem a ver com a manutenção do poder entre uns poucos
e entre sempre os mesmos, sejam de que fações forem.
Já por várias vezes aqui me
debrucei sobre o grande fosso entre ricos e pobres, entre os poucos que têm
muito e os muitos que têm pouco. Esse fosso está cada vez maior, ou seja cada
vez são menos os que mais têm e mais os que menos têm. Alguns dos que deviam
defender o Estado Liberal, culpam-no desse fosso. Fazem-no gratuitamente,
cegamente, por convicção doutrinária quase como se de uma religião se tratasse,
sem tentarem perceber as suas causas passadas e presentes e os seus reflexos
num futuro muito próximo.
Ao invés do que dizem as esquerdas
habilidosas, os Estados liberais e
neoliberais não produzem pobres. Bem pelo contrário. São os estados
excessivamente reguladores e excessivamente regulamentadores que condicionam as
funções económicas e as restringem a alguns grupos os que mais contribuem para
essa assimetria na concentração da riqueza.
Como já aqui escrevi num passado
recente, o acesso aos meios de financiamento da economia, nos dias de hoje,
fazem-se, por decreto, apenas por parte
de quem já tenha um histórico e uma boa parte do capital a investir. Ironia das
ironias, o restante capital que vem do Estado é fruto do trabalho e dos
impostos daqueles que não terão jamais acesso quer ao investimento quer ao bens
e serviços que alguns desses investimentos proporcionam ou disponibilizam.
Desde a revolução de 1820 que a
resistência às ideias liberais é uma constante. Não se compreende bem o
“argumentário” assim como muito menos se
entende a origem dessa resistência por vir das forças politicas e sociais que
melhor e mais deveriam acolher essas ideias. Hoje ser liberal está conotado com
ser de direita, ser neoliberal é quase um sacrilégio.
1 comentário:
" As resistências europeias, depois da revolução Francesa, ao Novo Regime foram muitas."
Depois da revolução Francesa, as resistências europeias ao Novo Regime foram muitas.
Muita cera queima a igreja. Simplicidade é sinónimo de elegância.
As monarquias opuseram-se à revolução mas os ideais da revolução permearam todos os povos europeus. Aliás, foi precisamente por esta razão que as monarquias opuseram-se à ideologia revolucionária. Uma ideologia provinda do exterior que implantou-se profundamente no íntimo da civilização europeia.: a democratização.
As revoluções não são inteiramente determinadas pelas ideologias que as inspiram. A ideia de que a revolução francesa degenerou em totalitarismo é apenas parcialmente plausível. A raiva irreprimível dos recentemente formados citoyens teve muito mais a ver com as condições políticas e sociais pré-revolucionárias do que com as ideias propriamente ditas. Há que questionar o antropocentrismo. Curiosamente, esta ideia de que a realidade é constituída de cima para baixo (das ideias par
é o mais importante atributo do pensamento totalitário. O "racionalismo lunático" criticado por Popper, Collingwood, Oakeshott e muitos outros. Não deixa de ser interessante cometeres exactamente o mesmo erro de Robespierre enquanto o criticas.
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