Diário Insular - No espectro político açoriano, a que
deveremos estar muito atentos no ano de 2022?
Nuno Barata - Desde logo à concretização (ou não) do discurso do Governo Regional de coligação. Está mais do que na hora de se evoluir do discurso da mudança de paradigma, para a efetiva mudança de paradigma. Importa maior arrojo na privatização de serviços e na libertação dos Açorianos do peso das empresas públicas perdulárias e da máquina administrativa burocrática; sermos mais exigentes na forma como os apoios sociais são concedidos e utilizados; sermos mais eficientes e eficazes nas políticas económicas, quer no apoio à recuperação da pandemia, quer na gestão dos recursos da saúde e da educação. Há longos caminhos a percorrer, mas sem anúncios de vãs paixões, porque dessas estamos cansados. A última “paixão pela educação” conhecida redundou na taxa mais alta de abandono escolar precoce e o desígnio regional “da saúde para todos” culminou nas mais longas listas de espera de sempre (para consultas e cirurgias). Em síntese, importa estarmos atentos ao efetivo fim das políticas socialistas que durante 24 anos conduziram a Região aos piores patamares sociais e económicos do País.
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Diário Insular - Os sinais já dados pela coligação a 3 e
com outros 3 apoios parlamentares, podem sossegar alguém ou, pelo contrário,
serão indiciadores de problemas a caminho?
Nuno Barata - A Iniciativa Liberal (IL) conhece o seu lugar no espetro político regional. É na oposição, construtiva, dialogante e que sabe (hoje e no futuro) aproveitar a abertura do Governo para debater e implementar políticas liberais que conduzam a Região para um novo patamar de desburocratização, descomplicação, despartidarização e de sustentabilidade social, económica e ambiental. Tudo o que aliviar o cidadão do peso do Estado/Região e lhe devolva a Liberdade de escolha e de ação são sinais de tranquilidade; tudo que o que sejam políticas socialistas a prosseguir serão sinais de “problemas a caminho”.
Diário Insular - A Europa terá de dizer alguma coisa
sobre a SATA... Dada a dimensão do problema, poderemos estar perante a gota de
água que faz transbordar o copo (com um orçamento retificativo, por
exemplo...)?
Nuno Barata - Se esperam continuar a meter milhões de euros dos nossos impostos numa empresa em insolvência técnica, terão de procurar outro parceiro. Contra o esbanjamento de recursos que fazem muito mais falta em setores como a saúde, a educação e a qualificação profissional. O que é fundamental preservar é a SATA Air Açores. Ao contrário de alguns que só se preocupam com “umbiguismos” sectários e assomos de bairrismo serôdio, materializados em obrazinhas de paróquia, nós estamos atentos à sustentabilidade deste Povo e desta Região.
Diário Insular - Lisboa é historicamente centralista e,
de quando em vez, foge-lhe a boca para a verdade, como acaba de acontecer com o
ministro Manuel Heitor.,. O que poderemos fazer a partir dos Açores para ao
menos amainar os ventos centralistas?
Nuno Barata - O Estado Português não cumpre com os
cidadãos da Região e PS e PSD têm cedido em todas as matérias em que a
República passou por cima dos interesses da Região. A 30 de janeiro, os
Açorianos vão a votos pela 17.ª vez, para eleger 5 Deputados à Assembleia da
República. Arrisco a dizer que vamos voltar a ouvir os mesmos discursos e reivindicações
de sempre. PS e PSD já não têm cara de exigir à República absolutamente nada. Partilham
o poder desde 1975 e foram sempre cúmplices. É preciso mais Liberdade e menos amarras
político-partidárias. Esta liberdade só se encontra na IL. A Autonomia falhou, não
por falta de poderes, nem de recursos; falhou porque exerceu esses poderes e
consumiu esses recursos de forma errada, despesista e incapaz de gerar a riqueza
que nos tirasse do fosso da pobreza resiliente, que nos transformou num bando
de remediados. Custe a quem custar, os Açores são uma manta de retalhos
geográfica, presos por pinças de euros e engalfinhados em bairrismos bacocos. Urdiu-se
a Autonomia nos gabinetes, em vez de a discutir nos cafés, nos adros das
igrejas ou nos arraiais festivos. Ora, se falhámos internamente, jamais soubemos
ser suficientemente convincentes na defesa do nosso sistema, deixando o caminho
livre para que o espírito centralista pulule no espetro partidário luso. Em 45
anos de Autonomia, PS e PSD nunca foram capazes de inverter esta teoria em
Lisboa, pelo que só uma efetiva mudança de protagonistas e de forças políticas
será capaz de iniciar o processo de sensibilização dos centralistas. Deixar de
pedinchar a Lisboa e passar a exigir de Lisboa, fazendo ver a todos os partidos
que damos ao País mais do que qualquer financiamento que o País nos possa
conceder. Só gente livre dos aparelhismos e das visões carreiristas que os
mesmos de sempre têm da política pode alterar o status quo. Está nas mãos do
Povo Açoriano a 30 de janeiro!