A liberdade de um povo é a soma das liberdades de cada uma de nós.
Uma das minhas frases preferidas:
“Nem a V. Majestade lhe cabe querer que eu o sirva como vassalo, nem a mim convém obedecer como súbdito”.
Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, Corregedor dos Açores em 1580, em resposta a Filipe II:
28 de novembro de 2017
25 de novembro de 2017
Coluna Liberal-Diário dos Açores-2017.11.24
As resistências europeias, depois
da revolução Francesa, ao Novo Regime foram muitas. É até compreensível, à
época, que as chamadas potencias absolutistas da Europa - Áustria, Prússia e
até a Rússia- tenham oferecido resistência às ideias desse novo regime burguês.
Em países como Portugal, Espanha ou a França saída da revolução de 1789, essa
resistência torna-se menos compreensível. No entanto, sabemos, a origem da
cisão da França em duas metades religiosas e a enorme resistência que Napoleão
de Bonaparte impôs à igreja de Roma.
Ora, em sociedades impregnadas de
catolicismos muitas vezes barrocos, as resistências a esse novo regime haveriam
de ser ainda maiores e como tal mais visíveis.
No entanto, o rastilho estava
acesso desde a tomada da Bastilha e a sucessão de acontecimentos políticos e
sociais na decorrência das guerras Napoleónicas haveriam de potenciar esse Novo
Regime. Mesmo assim, Portugal permanecia um Pais resistente.
No dealbar de XIX Portugal era um
pais essencialmente do Antigo Regime. Governado por um príncipe com capacidades
intelectuais de duvidosa estirpe e por uma rainha louca, era um reino
essencialmente agrícola que comerciava, incipientemente, com os seus parceiros
tradicionais essencialmente vinhos e cortiça. O bloqueio continental e as
invasões francesas poriam por terra esse mesmo que reduzido comércio.
O quadro político europeu, e a
deslocalização da Corte para o Brasil ludibriando assim Napoleão, as invasões
Francesas o acordo de comércio com a Inglaterra e mais uma mão cheia de razões
ajudam-nos a compreender o processo histórico de construção desse novo regime
em Portugal no primeiro quartel de XIX.
Hoje, no entanto, na era da comunicação digital, do conhecimento
cientifico, do avião supersónico, das viagens espaciais, do web summit e da
inteligência artificial, ao invés de nos tentarmos libertar das peias do Estado
perdulário e endividado, “controleiro” e omnipresente, cavamos ainda mais o
fosso entre as liberdades individuais e aquelas que cedemos a essa tal entidade
absoluta que não olha a limites de ação.
Cada vez mais, as nossas liberdades
individuais, vão diluindo-se quanto mais o Estado vai avançando nos limites da
sua acão. O Estado de hoje constrói narrativas falaciosas sobre necessidades
que não temos nas quais se entretém a destruir riqueza que o obriga depois a
contrair empréstimos externos para satisfazer os seus compromissos. O
endividamento externo do Estado compromete o bem-estar da nação a médio e longo
prazo mas garante a uns poucos a manutenção de pequenos poderes no imediato.
Esses temem o Estado Democrático Liberal porque temem a liberdade dos seus
iguais.
A resistência às ideias liberais de
hoje não tem a ver com ameaças externas ou com guerras internas. A resistência
ao estado liberal de hoje tem a ver com a manutenção do poder entre uns poucos
e entre sempre os mesmos, sejam de que fações forem.
Já por várias vezes aqui me
debrucei sobre o grande fosso entre ricos e pobres, entre os poucos que têm
muito e os muitos que têm pouco. Esse fosso está cada vez maior, ou seja cada
vez são menos os que mais têm e mais os que menos têm. Alguns dos que deviam
defender o Estado Liberal, culpam-no desse fosso. Fazem-no gratuitamente,
cegamente, por convicção doutrinária quase como se de uma religião se tratasse,
sem tentarem perceber as suas causas passadas e presentes e os seus reflexos
num futuro muito próximo.
Ao invés do que dizem as esquerdas
habilidosas, os Estados liberais e
neoliberais não produzem pobres. Bem pelo contrário. São os estados
excessivamente reguladores e excessivamente regulamentadores que condicionam as
funções económicas e as restringem a alguns grupos os que mais contribuem para
essa assimetria na concentração da riqueza.
Como já aqui escrevi num passado
recente, o acesso aos meios de financiamento da economia, nos dias de hoje,
fazem-se, por decreto, apenas por parte
de quem já tenha um histórico e uma boa parte do capital a investir. Ironia das
ironias, o restante capital que vem do Estado é fruto do trabalho e dos
impostos daqueles que não terão jamais acesso quer ao investimento quer ao bens
e serviços que alguns desses investimentos proporcionam ou disponibilizam.
Desde a revolução de 1820 que a
resistência às ideias liberais é uma constante. Não se compreende bem o
“argumentário” assim como muito menos se
entende a origem dessa resistência por vir das forças politicas e sociais que
melhor e mais deveriam acolher essas ideias. Hoje ser liberal está conotado com
ser de direita, ser neoliberal é quase um sacrilégio.
11 de novembro de 2017
Coluna Liberal-Diário dos Açores-2017.11.10
1. Uma nota particular: Em época de discussão dos orçamentos regional e do
Estado, é agora que mais se impõe responder à ameaça deixada pela rota do Ophelia. Ao facto de 6 dos 10 verões
portugueses mais quentes desde 1931 serem deste século (IPMA). Em cuja segunda
metade o aquecimento global médio poderá colocar o pesqueiro de Ponta Delgada onde agora é a avenida marginal (Climate
Central)…
No próximo mês faz dois anos que, na minha série de
crónicas sobre ciência, tecnologia e sociedade que o Correio dos Açores tem facultado aos três leitores delas, publiquei
“Os dois porquinhos mais novos e a COP21”. Como não corro o risco de alguém se
lembrar dessa crónica (até o Ophelia
subitamente rumar a norte creio que também nunca mais me tinha lembrado dela), regresso
aqui ao porquinho mais velho da fábula e a uma sua leitura dos sucessivos
relatórios do IPCC, e do artigo do Financial
Times (30/11/2015) de introdução à Conferência do Clima de Paris.
Esse jornal inglês, que não costuma ser propriamente acusado
de ambientalismos cegos a quaisquer interesses económicos, traçava duas linhas
que vêm convergindo num desastre anunciado: de um lado, o reconhecimento pela
esmagadora maioria dos climatologistas da aceleração de alterações climáticas
adversas, com responsabilidade humana. Do outro lado, o relativo fracasso das
COP de Kyoto e de Copenhaga não prenunciava nada de bom sobre a probabilidade
de um acordo eficaz (e à época, além dos Simpsons,
ninguém adivinhava ainda que Donald Trump pudesse ser o próximo presidente dos
EUA).
Nos Açores – se os climatologistas do
Intergovernmental Panel on Climate Changes da ONU falharem apenas tantas vezes
quanto, por exemplo, os seus colegas da Organização Mundial de Saúde
relativamente aos benefícios das vacinas, etc. – os anos vindouros deverão pois
ser em média mais secos e quentes, com mais tempestades e mais violentas.
Perante a possibilidade de num próximo outubro, antes
de ir matar pessoas na Irlanda, algum furacão passar 180km. a oeste do trajeto
do Ophelia, pergunto-me então se os
nossos deputados na Horta estarão sendo porquinho mais velho, ou porquinhos
mais novos, na dotação orçamental para reforço de estruturas públicas, da
segurança civil… Para o abastecimento de água às explorações agrícolas em
verões secos…
2. Uma nota geral: Em época de discussão do orçamento do Estado, passei
os olhos (apesar de aqui tentar resistir, um certo fastio político não me
deixou mais que isso) sobre o parágrafo “Estratégia orçamental”, em
contabilidade nacional, da Análise da UTAO ao OE2018.
E comecei por me sentir logo menos mal, pois,
porquinho mais novo dos três, serão apenas os eleitores do BE. E os do PCP. E
os do PS que ainda não perceberam que menos e piores serviços públicos, pelas
cativações orçamentais, são apenas uma certa outra forma de fazer austeridade –
aquela que mais fere quem, com um aumento médio real de 0,6% dos salários
(2016), continua a não ter dinheiro para comprar serviços privados.
A mim não parece justo, mas do mal o menos. Pois os
representantes dos primeiros e dos segundos eleitores acima referidos, enquanto
com uma mão os excitavam antes com promessas de saída do euro, de renegociação
unilateral da dívida… com a outra, agora, continuam a sustentar o respeito pelo
Pacto de Estabilidade e Crescimento traçado por quem, através do BCE, nos
aguenta os juros. Que isso de jangadas de pedra à deriva rumo à Venezuela são
boas mas em romances, fora destes queremos continuar a comer três vezes ao dia.
Já os representantes dos eleitores socialistas são simples e transparentes: depois
da semana a seguir às últimas legislativas, sabemos que farão apenas tudo o que
for preciso para se aguentarem no poleiro. Menos mal.
E só não digo “Até bonzinho” porque, entre o
desmiolado porquinho mais novo e o prudente mais velho, há o bem intencionado
mas insuficiente porquinho do meio. Aquele que se põe a caminho, mas nunca
chega lá. Exatamente o que se teme na Análise da UTAO: “as medidas de política
orçamental apresentadas no relatório da Proposta do OE/2018 (…) podem vir a ser
consideradas insuficientes” (p. 23)…
Mas esperemos que esses técnicos estejam enganados. E
que os nossos governantes e seus apoiantes do BE e PCP, embora sem o mérito de
terem contribuído para a grande variação positiva de 5,8% da evolução do PIB
entre 2012 e 2015, desde o crescimento negativo de –4% ao crescimento de +1,8%, não dificultem a variaçãozinha de 0,7%, ou de
0,4%, entre 1,5% em 2016 e 2,2% ou 1.9% previstos para 2018 (gráfico 1).
Miguel Soares de Albergaria, Diário dos Açores edição de 10 de Novembro de 2017
10 de novembro de 2017
No centenário da Revolução Russa.
Contemporâneo da revolução vermelha, “O Sol dos Mortos” é um testemunho directo de quem viveu a agonia da tirania bolchevique. Quando se assinalam 100 anos sobre a revolução de Outubro, evocar o livro de Ivan Chmeliov é recordar mais um capítulo do livro negro do comunismo. Ao contrário dos “10 dias que abalaram o mundo”, no qual John Reed santificou a acção comunista, “O Sol dos Mortos” permaneceu obscuro. Nunca importou à cultura e aos média dominados pela esquerda. Sintomática dessa censura do “gauchismo” é o facto de, em Portugal, só ter sido traduzido e editado em 2015. O livro, dolorosíssimo de ler pela mensagem de perda e desesperança, relata a guerra civil russa, alimentada pelo comunismo bolchevique, depois de o Czar ter abdicado e de o partido de Lenine ter sido rechaçado nas primeiras eleições para a Duma. A revolução russa e as suas mimeses deixaram a memória de “milhões de desaparecidos debaixo da terra com as bocas famintas”. O holocausto vermelho não tem rival na contabilidade de óbitos e misérias. Em 1989, com a queda do muro de Berlim, a estrela vermelha colapsou e no seu lugar ficou o imenso buraco negro do maior crime contra a humanidade. A data da revolução homicida é uma efeméride que convém lembrar, mas nunca celebrar.
João Nuno Almeida e Sousa, hoje no Açoriano Oriental
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