19 de setembro de 2022
Endividamento zero e privatização da Azores Airlines em 2023
17 de setembro de 2022
"Populismo de Esquerda"
Nuno Barata –
Neste assunto há que ter, tal como em todos os assuntos da governação, uma
atitude ponderada e séria. Ninguém pode dizer que estas medidas, que não passam
de uma esmola, vão garantir a mitigação dos efeitos da Inflação nas pessoas e nas
empresas. Podem eventualmente acudir a uma necessidade urgente das classes mais
desfavorecidas e isso é bom. No entanto, aplicadas de uma forma igualitária e
transversal podem ser pouco para uns e demasiado esforço do estado para outros.
Dizer que estas medidas vão mitigar os efeitos da inflação é mero populismo de
esquerda, vindo daqueles que se dizem preocupados com o renascer dos populismos
e dos totalitarismos na Europa.
Diário
Insular - Seria
preferível agir ao nível dos salários? Porquê?
Nuno Barata - Agir
ao nível dos salários poderia ser uma solução, mas não garante que não haja outra
escalada inflacionista ainda maior, subir o rendimento disponível pode gerar uma escalada de preços atendendo a
que pode determinar um aumento do consumo ou seja da procura. A única forma de
mitigar os efeitos da inflação e de o fazer transversalmente na sociedade
portuguesa, sem que a disponibilidade por parte da procura desperte apetites do
lado da oferta, é baixar a carga fiscal significativamente, ao nível do IVA, principalmente
este imposto que afeta, diretamente, os mais fracos, ao nível do IRS e do IRC e
ainda do ISPP mas isso nós já sabemos que um governo socialista nunca fará. A
técnica socialista é sempre a mesma: retirar muito com uma mão para dar pouco
com a outra.
Diário
Insular - Na sua
opinião, o que deveria ser feito em relação aos chamados lucros excessivos das
empresas que parecem, derivar da crise em curso?
Nuno Barata - Mais
uma vez o populismo de esquerda e o complexo com a riqueza e o lucro a tomar conta
do debate político. Enquanto este país e a União Europeia no seu todo tiverem
esse tipo de preconceito relativamente às empresas, aos lucros e à criação de
riqueza, seremos cada vez mais pobres e seremos ultrapassados, como temos sido
no último século, pelos países que continuam a ter o lucro e a produção de
riqueza como um desiderato nacional. Esse conceito de “lucros excessivos” é uma
falácia que poucos conseguem sustentar racionalmente e que se desmonte em três atos.
Diário
Insular -estará a
inflação que sentimos ligada a fenómenos incontroláveis ou sobretudo a
especulação?
Nuno Barata – Esta inflação, no meu entender, tem várias
origens: Tem a ver com o a quebra das
cadeias logísticas internacionais pelas medidas de combate à COVID-19; tem a
ver com alguns mercados de bens de primeira necessidade que estão a ser
enviados para a frente de combate. Mas, tem sobretudo a ver com a necessidade
do mundo todo se ajustar face a um desequilíbrio criado nas margens de
comercialização que estiveram a ser comprimidas durante os últimos 20 anos.
Esse mecanismo é fácil de perceber se pegarmos numa meia dúzia de produtos e
fizermos o exercício simples de compararmos o respetivo preço de há 20 anos com
o preço de há uma ano. São bons exemplos o óleo alimentar, os detergentes
domésticos, o Arroz, as massas alimentares, o leite e alguns eletrodomésticos.
O paradigma disso é o preço da carne ao produtor que era de 500 escudos há 30 anos
e era de 2,5 euros há um ano e meio. Precisamente o mesmo preço.
Mini Entrevista
In Jornal Diário Insular, edição de 17 de Setembro de 2022
16 de setembro de 2022
O Livreiro de Ponta Delgada
Fotografia com créditos de: Eduardo Costa
A figura do vendedor de livros está
cheia de misticismos e foi, ao longo dos séculos, alvo de visões mais ou menos
apaixonadas, românticas ou até sombrias do Homem por trás dos livros. Na
literatura, no cinema ou até mesmo nas artes plásticas a relação do Homem com
os livros está presente. Durante a ditadura e o tempo dos livros proibidos
todos tínhamos a ideia de que os livreiros eram todos conspiradores. A obra
recente (2006) da jornalista norueguesa Asne Seirstad “O livreiro de Cabul”
retrada a vida da classe média do regime taliban. Seirstad poderia ter
escolhido outro qualquer artífice ou lojista. Mas, não. Ela própria mais tarde
vem a confirmar numa entrevista que a escolha do livreiro Sultan Kahn ( na
obra) foi propositada para fazer ver o resto da humanidade que apesar do mais
elevado nível cultural, a classe média Afegã está rendida ao regime. A figura
do livreiro não significa o mesmo que se tratando de açougueiro ou retalhista.
Esta obra originou uma outra da autoria de Muhammad Rais “ Eu sou o livreiro de
Cabul” e que aparece em reação à obra da jornalista norueguesa. Há muitos mais,
uns interessantes outro nem por isso, O “livreiro Inglês” de Renato Abilleira,
por exemplo, é uma história simples e desconcertante de um Inglês que vende
livros que ninguém procura numa loja de Paris. Ainda na literatura “ O
livreiro” de Mark Pryor, é o mais entusiasmante romance sobre a vida de um
livreiro sobrevivente do holocausto e que se dedica à “caça” de nazis. A
história seria igual se em vez de um livreiro Pryor tivesses escolhido um
ourives? Não, não seria certamente a mesma coisa. Ainda recentemente (2014) , a
RTP trouxe à tela uma realização do José Medeiros (Zéca) intitulada “ O
Livreiro de Santiago” que conta a história de um corvino emigrado e que se tornou
livreiro e editor de nomes famosos da literatura da ibero américa como Pablo
Neruda e Gabriela Mistral. No cinema, Hugh Grant imortalizou William Thacker um
livreiro de Londres que vendia livros de viagens em Notting Hill.
Ponta Delgada tem o último Livreiro, o
José Carlos Frias, um coração cheio de bondade, mas pragmático e uma dedicação
aos Livros que conheço desde sempre quando entrava na Livraria do Sr. Gil em
busca de mais uma novidade ou daquele clássico da literatura ou da filosofia
que a coleção Livros Bolso Europa América permitia ao porta-moedas de um
estudante liceal. O último Livreiro de Ponta Delgada hoje (2022.09.15) completa mais uma
volta ao sol, a sua 56ª. Parabéns José Carlos e que tenhas um dia muito bem passado com
a Tua Maria Helena, a melhor Editora do mundo e arredores.
Haja saúde
14 de setembro de 2022
Sector cooperativo do leite em cuidados paliativos
As opções erradas na construção de fábricas com dimensão desadequada às capacidades produtivas das próprias ilhas foi o grande erro do passado. Hoje, toda a gente diz que não escolheu aqueles projetos e aquelas opções. Na altura, todos calaram as suas vozes. A fábrica da Cooperativa Ocidental, nas Flores, estava dimensionada para uma produção que a ilha nunca conseguiria alcançar, assim como aconteceu no Pico com a Lacto Pico, C.R.L., cuja fábrica, hoje explorada pela Cooperativa Leite Montanha, foi vocacionada para receber muito mais leite do que toda a produção da Ilha e produzir queijos de baixo valor acrescentado, quando, na verdade, a vocação da Ilha do Pico foi e será sempre a produção de queijo do tipo prato e a manteiga quase artesanal “Rainha do Pico” que consegue atingir no mercado valores muito interessantes. Até mesmo em São Jorge, cujos produtos finais, o Queijo de São Jorge e o São Jorge DOP, que poderiam ser o nosso ex-libris e o produto âncora dos nossos lacticínios, se vai evidenciando que as fábricas foram sobredimensionadas. A Uniqueijo, outro projeto megalómano, debate-se, há anos, com um passivo financeiro que não lhe permite remunerar os cooperantes de forma satisfatória, apesar da melhor gestão dos últimos anos. Salva-se, neste quadro desolador, a FINISTERRA por ser um bom exemplo de equilíbrio e gestão financeira e cuja autonomia financeira anda à volta dos 75%, o que dá garantias de estabilidade à cooperativa.
Em algumas das nossas ilhas, já são bem poucos os produtores que se querem dedicar à produção de leite e não é por outra razão que não seja a baixa de rendimentos das explorações, aliada à subida dos fatores de produção e à falta de mão-de-obra.
O sector cooperativo não pode ser uma extensão do Governo Regional dos Açores, nem pode ser sustentado indefinidamente. Seja na área da transformação dos produtos da agricultura e da agropecuária ou da transformação de produtos das pecas, o sector cooperativo tem que ser gerido com regras de gestão rigorosas e autossustentável que mais não seja porque esta é a forma de poder continuar a prosseguir com a sua missão de regulador do mercado e servir os cooperantes. Ora não é isso que tem acontecido nos Açores, bem pelo contrário, o sector cooperativo não tem sabido acautelar os interesses dos cooperantes ou cooperativistas, nem estes têm sabido estar à altura da sua responsabilidade limitada ou ilimitada, conforme seja o caso, levando a que o sector não consiga atingir o desiderato de regular os mercados onde desenvolve as suas atividades, bem pelo contrário, como se tem visto quer na Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial e Flores, foi o sector cooperativo que, por exemplo, mais contribuiu para fazer baixar o preço do leite à produção, isso apesar dos enormes apoios recebidos dos sucessivos governos, algumas dessas cooperativas tiveram mesmo já vários processos de saneamento financeiro.
A Agricultura Açoriana, nomeadamente a agropecuária de leite, atravessa um período muito difícil, mas não é tratando as cooperativas doentes como se tratam doentes terminais com paliativos que se resolve esse problema até porque esses contaminam ainda mais os que estão saudáveis.
Haja saúde
7 de setembro de 2022
Dar sem chegar a dar
Urge rever a questão da avaliação de desempenho na administração regional e local. Caso contrário de nada servirá descongelar carreiras.
Ilhas periféricas
O título desta semana parece uma epígrafe gasta, um assunto esfarrapado, um
tema que recorrentemente é usado para capitalizar simpatias e votos. É sim
Senhores, mas não pode continuar a ser!
As periferias criam-se ou combatem-se. Aos entes públicos cabe definir as
orientações estratégicas e as políticas prioritárias. Nos últimos anos
estimularam-se, politicamente, o surgimento de mais periferias dentro da
periferia. Importa reverter ou inverter esse caminho. Para tal importa que seja
dita a verdade às pessoas e é fundamental que essa verdade se consubstancie em
mudanças efetivas, não apenas em “conversa para boi dormir”.
A classe política está a esgotar os seus créditos, o
Povo tem a paciência a esvair-se e os populismos crescem como cogumelos, por
via disso mesmo, porque os moderados, os que prometeram quase tudo a quase toda
a gente sem lhes dizer a verdade não resolveram os seus problemas,
perpetuando-os no tempo de tal forma que os cidadãos, também eles agentes do
governo da polis e, por isso, também eles políticos, se fartaram de quem os
governa e os dirige. Cansado, o Povo parte para a escolha de outras soluções. É
por isso, só por isso, que os populismos emergem. Não por culpa de si próprio,
mas sim por culpa, precisamente, daqueles que mais os criticam, mas não souberam
usar as oportunidades que tiveram para resolver os problemas das pessoas.
Nos últimos meses visitei, profunda e intensamente,
quatro ilhas dos Açores. Visitei empresas, cooperativas, associações, centros
de saúde, escolas, explorações agrícolas, fábricas, unidades hoteleiras,
instituições de serviço social, creches, lares de idosos, cafés, restaurantes,
artesãos e mais coisas que já nem sei. Fi-lo porque foi isso que prometi aos Açoreanos
de todas as Ilhas. Prometi não os visitar apenas na altura de lhes ir pedir o
voto. É isso que estou a fazer!
Vou visitar todas as Ilhas dos Açores e tentar
contribuir para o seu desenvolvimento e para a melhoria das condições de
crescimento das suas populações, mesmo daquelas onde a Iniciativa Liberal não
concorreu e não tem implantação local. É isso que estou a fazer, não deixarei
seja quem for de fora, nem mesmo aqueles que, numa primeira abordagem, evitam o
contacto.
Visitei já, para além de São Miguel e Terceira, o
Corvo, a Graciosa, as Flores e São Jorge. Na periferia da periferia encontrei
problemas diferentes, idiossincráticos, mas também problemas transversais a
todas as ilhas, a todas as atividades, a todas a especificidades. Um desses
problemas transversais é a falta de não-de-obra qualificada e até sem
qualificações. Milhões de euros depois da nossa entrada na então CEE, depois de
uma mão cheia de quadros comunitários de apoio, não fomos capazes de construir
uma comunidade política qualificada, capaz de fazer face às necessidades das
empresas e dos serviços. Afinal, o empresariado fez o seu trabalho, aproveitou
bem as oportunidades dos sucessivos sistemas de incentivos, mas depara-se agora
com a escassez de trabalhadores, que, no fundo, são o argumento para o Estado/Região/União
financiarem esses mesmos investimentos. Essa questão ficou mais patente com o
crescimento do sector do turismo que aumentou significativamente a procura pelas
nossas ilhas por parte de forasteiros e até de turismo interno. Cada vez mais
faz sentido aquela máxima de que esta Região apenas se mantém a funcionar
graças a muitas boas vontades. Isso acontece, na saúde, na proteção civil, na
educação, na logística, na construção e, muito particularmente, no poder local.
Ou seja, esta Região vai-se autogovernando apesar da classe política incapaz
que tem dirigido estes nove torrões de terra dispersos no meio do Atlântico Norte.
Na periferia da periferia vim encontrar, uma economia
a estagnar por falta de gente para trabalhar, mas, por outro lado, vim
encontrar uma estrutura de serviços do Estado e da Região obsoleta e incapaz de
contribuir para a fixação de famílias jovens nos espaços geográficos mais
remotos. Contudo, é nessa periferia das periferias que ainda é possível
encontrar algum equilíbrio ambiental e onde se pode falar de sustentabilidade.
No entanto, há um longo caminho a percorrer na área social para garantir
equidade e humanidade nas populações isoladas. Passados 24 anos de governos
socialistas fui encontrar, na Fajã dos Vimes, dois seres humanos a viverem numa
situação de absoluta desumanidade que, sinceramente, achei que já não existia
nos Açores. Mas existem ainda algumas… e com quase 2 anos de um novo Governo
era já tempo dessas situações terem sido ultrapassadas e resolvidas. Não basta
nomear delegados de ilha disto e daquilo, é preciso que esses mesmos façam o
seu trabalho, no terreno, metam “a mão na massa” e não façam, como num passado
ainda recente, de conta que não é com eles a ver se o assunto se resolve por
si.
É preciso fazer diferente para que os resultados sejam
diferentes.
Haja saúde.
In Jornal Diário Insular, edição de 6 de setembro de 2022
30 de agosto de 2022
António, Bispo de Angra
Ainda
antes da criação da diocese que ocorre em 1534, remonta ao tempo do designado
“grande castigo” em Vila Franca do Campo, outubro de 1522, o início de uma
manifestação de fé inigualável entre as gentes da ilha de São Miguel – as
Romarias Quaresmais. Desde então, todos os anos, ranchos de homens de quase todas
as freguesias, percorrem, durante uma semana os caminhos da ilha rezando em
todas as igrejas. Este fenómeno religioso de pendor popular, com 500 anos de
existência, nem sempre foi bem aceite pelo clero. D. António foi um dos seus
grandes defensores, apenas
privei com o Bispo de Angra uma vez e por pouquíssimo tempo, mas jamais poderei
esquecer o momento em que, humildemente se juntou a um rancho de romeiros de
São Miguel na sua caminhada de fé e esperança. Só quem vive uma romaria por
dentro pode aferir da sua importância e do seu potencial evangelizador, alguns
Padres já o fazem e já o entendem, mas isso só acontece de há poucos anos a esta parte.
Sem nunca perdermos de vista as questões
que se prendem com a história das Romarias Quaresmais da Ilha de São Miguel,
sem sequer negarmos a sua origem na inexplicabilidade dos fenómenos telúricos
de então e que hoje se explicam pelo conhecimento científico, devemos olhar as
nossas romarias sempre concentrados na espiritualidade, na religiosidade, na fé
que nos guia e menos no facto de estarmos a cumprir uma tradição, era assim que
D, António pensava a Romaria Quaresmal dos Romeiros de São Miguel.
Nós açorianos, enquanto Povo perseverante,
que foi capaz de se manter nestas ilhas de cujas entranhas arrancou as pedras,
as ervas daninhas e as silvas em busca do solo arável num trabalho colossal, também fomos e somos capazes de arrancar de
dentro de nós as pedras da inveja, as ervas daninhas da avareza e as
“silvas do pecado” para encontrarmos na nossa mente a paz desejável e a
capacidade de partilha e de caridade que faz da nossa comunidade um lugar
melhor. Nós, Povo eleito, que foi capaz de enfrentar os desafios da natureza,
suportou, ventos, chuvas e demais tormentas, para produzir e alimentar o seu
corpo, saberemos também reunir as nossas forças para encontrar através da
oração o alimento que tanto necessita a nossa Alma.
Foi, certamente,
ciente do potencial evangelizador das romarias quaresmais que, D. António de
Sousa Braga as acarinhou como nenhum outro bispo de Angra alguma vez o havia
feito. Na verdade, nos tempos que correm,
mais do que uma penitência, mais do que o cumprir de uma promessa por
agradecimento por uma graça recebida, a Romaria Quaresmal é um instrumento
fundamental para a evangelização. A fé que, ao longo de uma semana, ao longo
das estradas e caminhos aqueles que se cruzam com um rancho de romeiros nele
depositam é enorme. Dai que, algum clero que, durante muito tempo se arredou
das Romarias, recentemente se tenha aproximado e acarinhado esta gigantesca
manifestação de fé popular. Diz-nos o evangelista Mateus: "Como
é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! E são poucos os que o
encontram". Para um romeiro é essa busca do caminho da vida, da porta
de entrada nesse lugar de paz que o leva à estrada todos os anos, é essa
evangelização diária, permanente, que tem obrigação de fazer junto daqueles que
em nele depositam fé e esperança, D. António foi um Bispo, foi Romeiro e por isso foi o Bispo Evangelizador.
Haja saúde
In Jornal Diário Insular, edição do dia 30 de agosto de 2020
Mini entrevista ao Jornal Diário Insular 2022.08.26
25 de agosto de 2022
A tirania da mediocridade
Haja saúde
In Jornal Diário Insular, edição de 23 de agosto de 2022
17 de agosto de 2022
Da ética e da lei.
Sou um herdeiro seguidor do polemismo de oitocentos, um
admirador de Voltaire, Erasmo e Maquiavel, de Camilo, Garrett e Antero, o Santo
Antero. É, contudo, em Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão que me revejo e cuja
escrita revisito e admiro, pela coragem, pela fineza da critica de costumes tão
mordaz como atual, pela certeza das suas convicções e pela sensatez da sua perseverança.
Sobre a perniciosa omnipresença do Estado na vida da gente, sobre as derivas
totalitaristas do PPD-PSD de Mota Amaral, e o caciquismo vigente na região
desde o Estado Novo até ao advento da Nova Autonomia em 1996, podem ser lidos
textos meus nos jornais Diário dos Açores, com Silva Júnior e Correio dos
Açores, com Jorge Nascimento Cabral, andava ainda nos bancos do Liceu e
escritos na velha máquina Royal portátil que, dizia meu avô, já tinha mais de quarenta
anos de África. Polemista que se preza não deixa os seus créditos por mãos
alheias e como tal não esperava certamente o caro leitor que o Professor Félix
ficasse sem resposta ao seu artigo do passado dia onze nas páginas deste mesmo
jornal. Lá das pedras dos fenícios saberá ele bastante ou talvez não, do que
não sabe quase nada é mesmo de ética. Pois não é que o tal que se tornou má
companhia do secretário da Ambiente também vem em defesa dos seus antigos e
presentes correligionários de partido por terem feito só coisas legais. Claro
que só fizeram o que a lei permite, a tal norma positivada onde cabe quase tudo
o que eles criticavam num passado ainda recente. Aliás essa é a minha grande
critica a este governo em especial aqueles que militaram no mesmo partido em
que eu militei e que não perderam ao longo dos anos uma única oportunidade de
lembrar precisamente que algumas decisões, por serem legais, nem sempre são as
decisões mais acertadas. É o velho dilema entre a norma da lei e a norma ética.
Mas, para o Professor Felix, desde que seja legal está tudo bem mesmo que
amoral. É obvio que compete ao Governo nomear e renomear, organizar-se e
desorganizar-se, mais isso do que aquilo, e isso não traz mal nem ao mundo nem à
politica. O episódio a que me referi criticamente e que o professor Felix
defende acérrima e militantemente é aquele que aconteceu na Ilha do Corvo com a
criação de um departamento da Vice-presidência do governo e que apenas onze
meses e vinte dias depois foi extinto. Apenas é bizarro pelo facto de ter sido
anunciado como muito relevante a sua criação e menos de um ano depois, por
circunstâncias nunca explicadas mas que, localmente toda a gente conhece, o
cargo ser extinto por alteração da orgânica do mesmo Governo. É legal diz o
Professor Felix, obviamente que é. E ético será? Obviamente que não, digo eu. E
não é ético desde logo porque se tratou de uma tentativa de criar clientelas políticas
numa ilha que pode resolver as eleições nos Açores e ter terminado no dia em
que as pessoas envolvidas se recusaram a ser meros clientes e caciques. Mas o agravante é ter sido um episódio protagonizado
por um membro do Governo que, enquanto oposição e muito bem, durante muitos
anos e com veemência, criticou precisamente os “Boys for the jobs” do PS e esse
tipo de manobra legal, mas pouco moral. Não tenho vergonha de ter pertencido ao
CDS, parece que agora gostam de lembrar isso aos eleitores como se eu alguma
vez o tivesse escondido e isso fosse uma mancha no meu passado de político e
cidadão ativo. Aderi ao CDS em 1993 depois de ter sido eleito como independente
para a Assembleia Municipal de Ponta Delgada e contribuí, mais do que muitos
que hoje estão na política ativa e dela se servem em lugar de a servirem, para
a queda do então “Império Amaralista” coisa que poucos, mesmo muito mais
velhos, podem inscrever nos seus parcos currículos políticos e cívicos. É
vastíssimo o rol de ações em que participei e promovi, algumas com sacrifícios
pessoais e até materiais grandes, sempre na luta pelos ideais da democracia e da
justiça social. Em relação ao CDS não guardo qualquer rancor (isso parece óbvio
à vista de qualquer observador político mais atento) mas não tenho qualquer
pena de o ter abandonado aquando da sua deriva totalitarista, autocrática e antidemocrática,
já o professor Felix, também um crítico desse sistema, sempre gostou mais de
estar com Deus e com o Diabo ao mesmo tempo para ver se calhava alguma coisa, e
calhou.
Haja saúde.
In Jornal Diário Insular, edição de 17 de agosto de 20229 de agosto de 2022
Só e mal-acompanhado!
O atual Governo Regional dos Açores é o tal que deveria ter tido a coragem de cortar com as políticas do passado, mas preferiu cortar apenas com as pessoas. Temos pena. Na verdade, essa não é a via que entendemos como reformista. Nós entendemos - e foi isso que dissemos aos açorianos durante a campanha eleitoral de 2020 - que não importa mudar as pessoas e os cargos, importa sim mudar as políticas, em particular mudanças na forma de fazer as coisas para assim se alterarem os resultados. Fazer igual traz resultados iguais. Este governo do PSD-CDS e PPM, entendeu precisamente o contrário, preferiu substituir pessoas em vez de mudar de políticas. Entendeu fazer mais do mesmo e mais forte, mais socialismo, mais estatismo, mais parcerias perdulárias, mais administrações públicas carregadas de aprendizes de políticos (abre-se o Jornal Oficial e é um rol de nomeações todos os dias), mais ingerências nas empresas públicas, mais incompetentes alcandorados ao poder por via do cartão partidário, mais perseguições descaradas sobre quem ousa pensar diferente e corajosamente toma posições publicas contrárias às “birras” do caciquismo local e eleiçoeiro, tudo isso em vez de mudar o rumo das políticas que nos trouxeram à pobreza e à exclusão. Tudo isso era criticado pelos principais protagonistas deste governo quando, num passado ainda recente, eram oposição. Tudo isso é feito e preparado nos bastidores de uma “trupe” sem ter maioria estável no parlamento, imaginem só os Açorianos se essa gente, impreparada moralmente para governar, algum dia chega a ter uma maioria absoluta.
Já nem o direito é respeitado, mesmo com o governo pejado de
juristas e advogados, continuam a tomar medidas por portaria que violam os mais
básicos princípios constitucionais dos direitos, liberdades e garantias,
fazem-no depois de a terem jurado, a sua palavra vale menos que um “tostão
furado”.
O ambiente não foi exceção. O atual Secretário Regional do
Ambiente e Alterações climáticas, entendeu, tal como tem feito com outros
processos mal encaminhados, dar seguimento ao que vinha do Governo anterior e
prosseguir com a construção de um “bunker” de betão no alto da serra para
garantir o controlo de acessos à Lagoa do Fogo, parece-me que esse aprendiz de
qualquer coisa com assento em primeira praça já em general, mal sabia onde ficava
a dita reserva natural e a mais edílica lagoa dos Açores e arredores.
A Lagoa do Fogo além de ser uma reserva de água fundamental
para o abastecimento das populações de Ponta Delgada, Lagoa e Vila Franca do
Campo, é um lençol de água, à superfície, capaz de gerar outros tantos metros
cúbicos de água em lençóis freáticos que ninguém saberá a verdadeira dimensão
dos estragos que poderia causar uma contaminação ou o colapso da caldeira. Há
muito trabalho a fazer na zona da caldeira, mas é trabalho que não dá lugar a placas
de inauguração com nomes e datas, e que
não é visível para caçar votos, por exemplo a destruição ou a inviabilização
dos ovos das gaivotas que se tornaram uma praga e um perigo para a saúde
publica, ou a monda manual de infestantes como a conteira, o incenso e a silva.
Isso sim, seriam coisas importantes de serem feitas na Lagoa do Fogo, mesmo que
em propriedade privada, desde que com a anuência dos seus proprietários.
Em defesa da reserva natural da Lagoa do Fogo já se
manifestaram inúmeras pessoas, individualidades, instituições, associações
ambientalistas, associações de profissionais de turismo, partidos políticos e
autarcas.
Em defesa do aprumadinho Secretário da tutela e do tal “bunker”,
tem saído da “toca” onde se remetera ao estudo da passagem dos Fenícios pelos
Açores, o Sr. Professor Félix Rodrigues cujas competências académicas me escuso
a classificar por não ter estudos para isso, mas que os seus pares, lá na
academia talvez um dia o façam. Tal proeminente figura, por sinal cunhado do
Senhor Secretário do Ambiente e cujo filhote já ocupa lugar de relevo na
assessoria do grupo parlamentar do CDS, é também, já administrador de uma
empresa pública na área das energias renováveis, corroborando o que no inicio
desta crónica se expunha e na semana passada nesta mesma coluna se falava sobre
caciquismo, clientelismo político e nepotismo. O professor Félix tem sido
exímio e o único defensor das “pategadas” do ilustre aprendiz de Secretário Regional.
É caso para dizer que o senhor do ambiente está, neste e noutros processos,
sozinho e mal-acompanhado.
In Jornal Diário Insular, edição de 9 de Agosto de 2022
3 de agosto de 2022
Das clientelas e do caciquismo no século XXI
Nos nossos Açores, de há anos a
esta parte, o exercício da construção de clientelas políticas (mais até do que
a pequena corrupção, também ela existente) tem sido um dos mais perniciosos problemas
da democracia. Aliás, as clientelas caciques são uma prática que tem destruído
a confiança dos cidadãos eleitores em relação aos seus eleitos e,
principalmente, em relação ao seu Governo, que decorre do Parlamento, mas que,
muitas vezes, não o respeita.
O clientelismo “caciquista” tem
sido confundido com a própria corrupção. O prosseguimento dessas práticas e
desse desrespeito pela Assembleia é também um desrespeito pelo espírito em que
o Povo elege os seus legais e legítimos representantes, os Deputados. Muitos
dos eleitos, uma vez no poder, alteram a sua forma de atuação em relação àquilo
que apregoavam para cativar o voto dos eleitores, quando estavam na oposição. Há
mesmo quem faça o contrário do que apregoa. E, por isso, diz o Povo, do alto da
sua sabedoria, que “bem prega Frei Tomas, faz o que ele diz, não faças o que
ele faz”.
São essas más práticas que levam
a outra frase tantas vezes ouvida da boca de quem alimenta esperanças e as vê
perdidas em vãs quimeras: “são todos iguais”! Lamento mas não, não são todos
iguais. E essa é a desculpa que muitos usam, ora para não cumprirem o seu dever
cívico de votar, ora para continuarem a votar nos mesmos do costume, porque
chegam à conclusão que mudar para ficar tudo na mesma, mais vale que fique
assim como está.
Há pouco mais de um ano, o
Vice-presidente do Governo Regional entendeu criar uma delegação do seu
departamento na Ilha do Corvo. Acreditamos todos que não seria apenas uma
necessidade de criar clientelas políticas, mas sim uma questão operacional. Muitos
duvidaram da boa-fé. Os que melhor conhecem a figura logo desconfiaram que
seria para criar um lugarzinho para servir a alguém que o servisse a ele
próprio e aos seus intentos. Mas parece que a nomeada, afinal, não era assim
tão disponível a servir o chefe. Na verdade, um ano e meio depois, o lugar foi
extinto e a tal não cliente despedida. Dizem as más-línguas que o caso ocorre,
depois da mãe da tal não cliente ter apoiado a manifestação a favor do médico
António Salgado. Pois, então, eu que não acredito em coincidências, nem em
bruxas, fico perplexo com a velocidade com que o Sr. Vice-presidente mudou de
opinião sobre a necessidade dos departamentos da sua responsabilidade na mais
pequena ilha do arquipélago. Bastou ano e meio para o Sr. Vice-presidente do
Governo, Dr. Artur Lima, ter percebido que o Corvo não necessitava de uma
delegada dos seus serviços. Mais lesto do que Paulo Estevão, muito mais lesto,
mas não menos malévolo.
Todo esse episódio aconteceu, ao
mesmo tempo, que o Sr. Secretário da Saúde, através de uma mensagem numa rede
social, se regozijava, em tom de reclamação, dos vira-casacas e do excesso de
liberdade de expressão desses mesmos vira-casacas. Vivemos numa Região onde as
pessoas podem falar à vontade. Era o que mais faltava!
O clientelismo político é um dos
mecanismos mais perniciosos da nossa democracia e quando os Açorianos foram às
urnas, em 2020, disseram que esta era uma das coisas com que queriam acabar.
Interrogam-se muitos, com
certeza, por que razão faço esta interpretação dos votos dos Açorianos?
Precisamente, porque alguns dos principais protagonistas dessas eleições viram
reforçadas as suas posições. Foram os que mais combateram essas práticas, num
passado ainda recente, que, na prática, e chegados ao poder, fizeram tudo
aquilo que criticavam no partido que governou os Açores nos últimos 24 anos.
Por este andar muitas mais coisas
destas sucederão nos próximos tempos, porque alguma dessa gente não estava
preparada para governar e não tem estrutura moral para ter poder.
Será que vamos ter mesmo que continuar
muito mais tempo a ser governados por gente desta?
Numa coisa o povo tem razão,
quando diz que "são todos iguais": nos votos, o povo tem mantido uma
tendência igualitária de votar sempre nos mesmos... Depois não nos podemos
queixar!
Haja saúde.
in Jornal Diário Insular, edição de 02 de Agosto de 2022
29 de julho de 2022
27 de julho de 2022
Uma questão de equilibrio
Em quase tudo nas nossas vidas há um
ponto de equilíbrio que procuramos, ou deveríamos tentar encontrar. Equilíbrio que
permita soluções, não só consensuais, como, acima de tudo, razoáveis.
Na economia, em especial na gestão e quando
temos que fazer opções de investimento na esfera pública, essa busca do que é possível,
do que é equilibrado e do que é razoável deve ser permanente. As opções erradas
(que todos tomamos nas nossas vidas privadas e com os nossos recursos) tarde ou
cedo são pagas, mas isso acontece à nossa custa, à custa dos nossos mais
diretos familiares e ninguém tem absolutamente nada que ver ou a haver com
isso.
Porém, no domínio da gestão da coisa pública
exigem-se escrupulosas escolhas e assertivas opções; que não sejam perdulárias,
pois os erros são pagos por todos e, quase sempre, esses erros beneficiam
alguns, quase sempre, uns poucos… muito poucos!
É, por isso, importante um permanente
escrutínio e uma escrupulosa avaliação do custo versus benefício de uma medida
– o que em gestão se chama: equilíbrio. Este equilíbrio é sempre difícil, particularmente
entre a eficácia e eficiência. Semanticamente semelhantes, tais substantivos
têm, economicamente, significados bastante diferentes. Um dos exemplos que uso,
recorrentemente, para explicar tal distinção é o do avião Concorde (os mais
novos façam o favor de googlar). Essa aeronave transportava à velocidade mach2,
passageiros entre a Europa e a América e era capaz de fazer um voo de Paris
para Boston em metade do tempo de um Boeing 747 (Jumbo) que, à altura, era
considerado o avião mais avançado desde sempre construído. Ora, o objetivo de transportar
passageiros de forma rápida entre um ponto e o outro do planeta foi conseguido
com o Concorde. Era, pois, um avião eficaz. No entanto, o custo da operação e o
próprio custo da construção destas aeronaves vieram a revelar que este projeto
não tinha qualquer viabilidade económica porque não era eficiente… Aquilo que
proporcionara em eficácia não era obtido em eficiência. O projeto, que se
iniciou em 1965, foi assim abandonado em 1978 e os últimos aviões construídos
operaram até 2003.
Por cá, nestas ilhas abençoadas pela Natureza,
mas tantas vezes maltratadas pelos Homens, a relação entre eficácia e
eficiência torna-se ainda mais relevante, atendendo a que a Região é muito
parca em recursos, para não dizer mesmo pobre.
A grande maquia dos recursos que
consumimos, quer para investimento, quer para despesa corrente, provem de uma
espécie de esmolas recebidas, por um lado, da “mão amiga” de Lisboa, através da
Lei de Financiamento das Regiões Autónomas, e, por outro lado, ao abrigo do
designado estatuto de ultraperiferia.
Quando damos uma esmola na rua e a vemos
mal utilizada pelo recetor pensamos de imediato que não a merecia. Essa é a
forma com que, quer os centralistas de Lisboa, quer os burocratas de Bruxelas,
olham para uma Região como a nossa, porque passados muitos milhões de esmolas
não conseguimos sair da situação de mão estendida. Isso porque os poderes de um
passado ainda recente e os de agora se comportaram e comportam como aquele
indigente que circula na baixa de Ponta Delgada, que pede para comer, mas gasta
em bebidas ou drogas; que diz que tem fome, mas, na verdade, tem vícios.
Ora uma Região cujos governos se
perderam e perdem nas eficácias imediatistas do eleitoralismo, em lugar de
prevenir as eficiências de longo prazo; uma Região onde foi mais rápida a
preocupação de substituir uns, de um Partido, pelos outros, dos outros três
partidos, do que reformar a administração pública; uma Região onde foi mais
fácil determinar encerrar empresas públicas sem estudar as soluções futuras,
para fingir que se reforma; uma Região onde se derrama dinheiro nos problemas
em lugar de o usar a prevenir esses problemas… será sempre uma região de pedintes,
cada vez mais olhados com desconfiança por quem ainda vai dando as tais
“esmolas”.
Assim, estamos como antes, mais do
mesmo, com uma subtil diferença: os executantes são diferentes, mas que parecem
pensar muito pior.
E se o socialismo é uma impossibilidade,
o socialismo disfarçado é uma impossibilidade ainda maior.
In Jornal Diário Insular, edição de 26 de julho de 2022
19 de julho de 2022
Entre São Bento e o Raton.
Desculpem-me os mais sensíveis, mas para o peditório de
diabolizar os juízes do Tribunal Constitucional eu não dou. Por uma razão
simples e que quem me lê e ouve há anos já terá percebido. Não temos outro
texto constitucional que nos proteja dos apetites autoritárias e das derivas
fascistas, sejam elas de que tipo forem e mesmo que sanitárias, como temos
vindo assistir (Já agora, era tempo de acabar com as máscaras nos transportes
públicos).
Goste-se ou não, é no Palácio Raton que residem as nossas
garantias da separação de poderes, e é também nesse Tribunal que nos podemos
estribar para vivermos, de facto e de direito, num Estado liberal, democrático
e do direito. Os Juízes do Tribunal Constitucional são os fiscais da
constitucionalidade das leis, são por isso o nosso último reduto, a nossa
última guarda. Já bem basta a enorme quantidade de portarias e despachos que
não lhes passam pelo crivo e que atropelam, diariamente, os nossos direitos,
liberdades e garantias. Na realidade, zurzir nas decisões desses magistrados,
sem antes fazer uma análise do processo legislativo, é a parte mais fácil e a
que todos os politiqueiros e fazedores de opiniões fáceis, sem exceção, recorreram.
Na verdade, o centralismo está um pouco por todo o lado nas
instituições, é um tumor que corrói o sistema político português. Desse
centralismo, queixam-se as autonomias como se queixam outras regiões do país,
assim como reclamam, dentro das Autonomias constitucionais insulares, os de umas
ilhas em relação aos de outras ilhas. A ideia - muito europeia – da aplicação
do princípio da subsidiariedade dos poderes e dos apoios, que derrama por cima
para que chegue abaixo - como escrevi aqui a semana passada - está
absolutamente errada, por ser ineficaz e até ineficiente. Os resultados estão à
vista de qualquer um mais ou menos atento.
No caso em apreço, o da gestão partilhada do mar português, a
questão a discutir, é mesmo o centralismo plasmado no texto constitucional. De
nada serve “espernear” contra os juízes se eles apenas interpretam a lei
fundamental, mesmo que tenha levado voto de vencido o seu Presidente, o que diz
muito mais da figura em causa do que do conjunto dos seus pares, isso nunca
pode servir de argumento para responsabilizar o Tribunal Constitucional. A
nossa constituição é, de certo modo, centralista em relação a muitos aspetos
que importam às autonomias constitucionais, que assim se chamam precisamente
por serem decorrência desse texto.
O centralismo está, como se pode comprovar, no texto
constitucional a autonomia que nos deram não foi uma concessão, foi apenas um rebuçado
embrulhado em papel colorido reluzente com o qual nos contentamos mas que já
não serve - se é que alguma vez serviu -
convenientemente os interesses do Povo Açoriano. É, por isso, urgente rever a
constituição para conferir mais e melhores poderes às regiões autónomas. No
entanto, isso só se faz com o acordo do PSD e do PS, esses são, na verdade, os
dois partidos responsáveis pela existência de travões e entraves às autonomias,
esses são os verdadeiros centralistas e disso não se podem esconder nem escapar
por mais que queiram ou que lhes dê jeito eleitoralista. Viram-se contra os
juízes. Pois é levar!
O verdadeiro e mais pernicioso centralismo está nos Deputados
do PSD e do PS na Assembleia da República, os únicos que já podiam ter mudado o
rumo de Portugal, mas não o fazem. O centralismo está em São Bento não está no
Palácio Raton,
Haja saúde.
13 de julho de 2022
E vergonha Sr. Ministro?
António Costa e Silva foi apresentado à nação como uma
espécie de guru que nos ia salvar a todos, de todos os males do “lock down
covidesco”. Corria ainda o mês de junho de 2020, três meses apenas passados e
já os estados-membros da União Europeia - essa organização internacional
esdruxula - se apercebiam do preço que todos iriamos pagar pela cómoda decisão
do “fique em casa pela sua suade”, tarde ou cedo essa máxima se transformaria
no fique sem casa, sem emprego, sem trabalho. Rapidamente trataram de desenhar
um programa de assistência económica e financeira que redundou naquilo que
sempre redundam esses planos da União. Derramar dinheiro nos problemas, mas
sempre de cima para baixo e bem peneirado que é para fazer jus à tal teoria da
subsidiariedade que a Europa tanto propala, mas que não passa de um sistema de
distribuição pelos que mais têm para tentar chegar à base depois de bem
joeirado. Até mesmo a subsidiariedade nas competências tem tido esse resultado.
Mas nas questões financeiras e económicas, a joeira tem a malha tão fina que na
base os remediados estão a chegar ao ponto de serem quase indigentes. É um
facto, apesar dos triliões de euros que os Estados-membro têm distribuído em
apoios ao investimento e até à perca de rendimento, na base da pirâmide está um
conjunto alargadíssimo de cidadãos para quem esses euros não passam de uma
miragem e uma promessa vã.
O plano de Recuperação e Resiliência não é exceção a esse
processo de dependência e redutora distribuição de recursos no seio da União
Europeia.
Em debate radiofónico no Programa 2 Margens da Açores TSF,
decorria junho desse ano 2020 sobre o PRR, Eu e o Pedro Arruda, na altura
dissemos precisamente que ia acontecer isto que agora está a acontecer. O
dinheiro do PRR não chegará sequer às empresas e muito menos às famílias. Apenas
2% das verbas não foram, até agora, gastas pelo Estado. Somos governados por
medíocres porque os melhores não estão disponíveis para participar na vida
pública.
Este Plano de Recuperação e Resiliência é um logro, uma
mentira, é um plano de recuperação para uns poucos e de resiliência para a
grande maioria dos portugueses onde se incluem os açorianos.
O tal António Costa e Silva, guru dos planos extraordinários
que nos iriam fazer recuperar e que agora é ministro da economia veio dizer, entretanto,
aos açorianos que o PRR foi desenhado sem ter em conta a dimensão das nossas
empresas e a realidade das nossas Ilhas. Obrigado, António Costa e Silva por
assumir o erro. Mas isso não nos traz mais pão para a boca, bem pelo contrário,
retira algum.
Esse foi que mesmo António Costa e Silva que desenhou o PRR. Foi
o incompetente, o incapaz que nos “venderam” como se fosse uma águia da gestão
e da administração. Aliás esse facto,
mais comercial do que real, seria, de imediato, razão para a desconfiança de
todos os Portugueses. Na verdade, os poderes, têm andado a “vender-nos” Dons
Sebastião desde Alcácer Quibir e cada um é sempre pior que o outro.
Haja saúde.
In jornal Diário Insular, edição de 13 de julho de 2022
5 de julho de 2022
Uma tempestade perfeita
A escalada das taxas de juro, a subida
das matérias-primas e a quebra das cadeias logísticas internacionais são
fatores que, associados à estagnação do rendimento das famílias, constituem
aquilo que se pode chamar de uma conjuntura potenciadora de instabilidade em
uma boa parte da humanidade. Há depois ainda uma parte dela – dessa humanidade –
que não sente os reflexos destas crises e conjunturas: é o mundo mais pobre, habituado
a viver com pouco, a viver com quase nada daquilo que consideramos básico; é o mundo
que sobrevive muito abaixo dos nossos padrões de pobreza extrema. É aquela
parte do mundo que conta muito nos discursos dos altos-comissários e dos secretários-gerais
das organizações internacionais, mas que, no fim das contas e desses
palavreados fáceis e bonitos, conta com poucos recursos, os que deveriam chegar
para essa gente ter um pouco mais de alimento e esperança. As organizações
internacionais gastam-se nas suas estruturas burocráticas de tal forma que não
lhes resta para cumprir o objeto da sua existência. Certo é que neste mundo
ocidental em que vivemos, com especial atenção para a Europa que vai da
Lusitânia aos Urais, isso pouco interessa desde que se mantenham as prebendas
do status-quo. Dois fatores vieram revirar do avesso a vida pacata e ilusoriamente
próspera em que vivíamos até 2008: a crise do subprime, com um abalo estrondoso
do Bears Stearnes, um gigante do crédito
hipotecário Norte americano e o colapso do Lehman Brothers e a crise das dívidas
soberanas. O banco criado no século XIX pelos irmãos Lehaman era o 4.º maior
dos Estados Unidos da América. A regulação internacional decorrente dos acordos
de Basileia tinha imposto aos bancos centrais regras de concessão de crédito
que limitavam muito os mercados, incentivando o garantismo das hipotecas imobiliárias.
Ora se só havia no sistema financeiro dinheiro disponível para a habitação e
consumo e para as dívidas soberanas foi precisamente aí que os bancos privados
investiram. Ao invés do que ousam dizer os defensores da regulação, não foi por
falta de regulação que o setor imobiliário cresceu especulativamente, nem, por
isso, que os bancos faliram. Foi precisamente porque os bancos centrais os
encaminharam para esse beco.
Na decorrência da crise financeira e na
esteira da falta de liquidez dos mercados andavam os estados mais pobres a
gastar por conta do futuro e a crise financeira rapidamente pôs a nu as
chamadas dívidas soberanas. Desde então, aquilo a que chamamos mundo ocidental não
mais recuperou, pois da crise financeira foi preciso tratar e a escolha dos
estados foram medidas cada vez mais reguladoras e impostos, em vez de liberdade
de empreender. Nalguns casos, como o português, aumentar impostos é como
ordenhar uma vaca já seca: o que dela mais se pode esperar é um coice!
Foi mesmo isso que aconteceu. Os
mercados não aguentaram as empresas e da crise financeira rapidamente passamos à
crise económica e dai à crise social. Perderam-se milhares de postos de
trabalho de cidadãos que hoje estão a produzir riqueza em países mais liberais
como os Estados Unidos, o Canadá ou a Reino Unido. Dessa crise, de 2008, ainda
não nos safamos, inventamos alguns bodes expiatórios, é certo, mas sair dela
ainda não saímos – se bem que agora não estamos na fase financeira da crise, já
chegamos à fase económica o que é muito mais difícil de resolver. O que se
espera dos governos de hoje é rigor nos gastos e seriedade nas políticas
laborais, de modo a recuperarmos a gente que perdemos e com isso fazermos
crescer a nossa economia. Sem crescimento económico não há riqueza e sem
riqueza não há estado. E é ao estado a que todos clamam nas horas difíceis.
Haja saúde!
In Jornal Diário Insular, edição de 05 de Julho de 2022