24 de março de 2015

19 de março de 2015

Ficção na economia dos encaminhamentos.

Na história que se segue todos os personagens são pura ficção mas as contas são reais.
Raquel (nome fictício) Engª Aeronáutica pelo IST é controladora de Tráfego Aéreo em Santa Maria tem um bom ordenado. José e Maria, pais de Raquel (serrana bela) são naturais e vivem na ilha das  Flores, ele é técnico da PT reformado antecipadamente mas bem remediado. Ela é reformada dos CTT, tiveram sorte estes dois, vivem desafogadamente. A sua grande preocupação  é a filha única do casal estar tão longe. De vez em quando lá vão passar uns dias a Santa Maria, matam as saudades da "Raquelinha", alugam um "carrito"  numa rent'a car local que a pequena precisa do seu para ir trabalhar fora de horas que aquela gente trabalha por turnos. Dão uma volta pela Ilha.
A Maria encontra sempre alguma coisa para comprar apesar do comércio local estar cada vez mais pobre e ter cada vez menos o que vender. Comem umas alheiras, abastecem-se de biscoitos de orelha que o Inverno há-de consumir com chá de erva cidreira da Fajã Grande e regressam à sua ocidental Ilha das Flores já com saudades da sua "Raquelinha".

Outras vezes é Raquel que, aproveitando umas folgas acumuladas, vai de viajem até às Flores com o Tiago, namorado que é de Beja e também é controlador em Santa Maria, conheceram-se no técnico. Nas Flores, para não incomodar o Pai que pode precisar do carro para ir até ao Porto das Poças ver os pescadores a descarregarem o resultado da faina, Raquel aluga uma "carrito", dão as suas voltas pela Ilha, vão todos Jantar ao Por-do-sol degustar um belo repasto e vão à festa que o José Rogério preparou para o serão de Sábado. regressam a Santa Maria com a saudade  na mala, queijo da Uniflores e aquela deliciosa manteiga que não há outra igual.
José, não fossem essas passagens tanto caras e podíamos fazer uma visita à nossa à Raquel, recuperar o stock de biscoitos e comer aquela bomba calórica das alheiras fritas com ovo a cavalo no restaurante do Ângelo, disse a Maria enquanto "corria" um lençol, alvo,com um olho no ferro outro na novela da SIC.

Qual quê Maria, retorquiu José, "a gente vamos" mas é a Lisboa com a pequena, é mais barato, compramos 4 passagens numa dessas companhias novas por 30 ou 40 euros, vamos à borla todos até São Miguel onde nos encontramos e vamos passar esses 4 dias a Lisboa, aproveito para ir ao Sporting pagar as cotas e ver um jogo e tu vais mais a tua filha para as compras na baixa e no Colombo enquanto o Tiago vai a Beja ver a família, coitado vai gastar mais no comboio do que no avião.
Pagamos todos para o dinheiro ser gasto na Capital do Império. Sim que o José não passa sem ver o Terreiro do Paço para se recordar dos tempos em que Portugal era um Império.

Feliciano, outro nome fictício, trabalha na Junta da Fazenda de Santa Cruz, até não ganha mal se comparado com outros. Feliciano tinha o sonho de conhecer o estádio da Luz, mas com o ordenado que tem e com os impostos que paga, ainda agora recebeu o aviso do IMI da casa que ainda está a pagar com muito poupar  ao banco que foi resgatado com dinheiro desses mesmos impostos, dois rapazes para estudar e a sua Odilia que nem sempre tem casa onde servir, mesmo com essas coisas das passagens baratas não pode sonhar sequer com avionetas quanto mais com aviões, para o Feliciano até de borla é caro. 

O mesmo se passa com o Hélio, oriundo da Bretanha na Ilha de São Miguel, emigrado na "cagarrolândia" onde é condutor de pesados na Câmara de Vila do Porto  e cuja mulher, a Odete, trabalha no Bar do Aeroporto, ambos empregados portanto, mas a pagar a casa e o automóvel que à hora que a sua Odete entra e  sai do serviço ou ainda não há ou já não há transportes públicos,  rapaz mais velho vai para a Universidade em São Miguel e a bolsa mal dá para os gastos, o que vale é que a tia que vive por lá e está empregada a fazer limpezas  numa repartição de finanças vai ajudar. Além disso, ainda teve que pagar para registar a casa que herdou do pai na Bretanha  e paga o IMI daquela coisa sem préstimo que apenas serviu para que visse negado o apoio social à aquisição de casa própria, tanto malandro que teve uma casinha e o Hélio só porque o pai lhe deixou aquela porcaria que nem consegue vender por causa da crise que os ricos provocaram, "nicles batatoides". Mas para irem a São Miguel estar com a rapaz e tratar de limpar as ervas do beirado da casa da Bretanha,  vai custar, para os dois mais de 180 "aéreos". Vão de barco quando começar a época, sempre são apenas 120 euros a diferença já dá para a comida.

Os impostos dos muitos Felicianos e Hélios  desta terra vão pagar as Viagens de lazer das Raquel, dos Josés e das Marias e dos Tiagos.
As suas Santa Cruz e Vila do Porto ficam cada vez mais pobres porque  quem ainda pode gastar algum, chamam-lhe consumir, vai  gastar agora o dinheiro todo em Lisboa.

Há quem chame a isto um contributo para maior justiça social, direitos das ilhas mais pequenas e outras "boutades". Eu nem sei bem o que lhe chame, acho é que está tudo doido.

18 de março de 2015

O Hiper Estado.

Eu não esperava que esta gente que nos governa tivesse lido Hobbes, Rousseau ,Helvétius, Fichte, Hegel ou Saint-Simon. Mas pelo menos que lessem Locke e Max Weber, uns bons resumos  era bastante para essa gente perceber para que serve o Estado e os seus recursos. Já agora podem ler umas coisinhas mais caseiras, Agostinho da Silva ajuda bastante e Eduardo Lourenço dá-lhe "sempre em quente".
Ainda há gente em lista de espera para cirurgias importantes, faltam médicos de família, há escolas sem computadores, há tanta coisa importante para fazer na saúde, faltam 77 médicos no Serviço Regional de Saúde, na  educação, entre a paixão e a desilusão, ainda há turmas de 30 alunos na mesma escola onde no mesmo ano os filhos dos escolhidos pelo regime estão em turmas de 15 para garantir as boas notas. Na  justiça social falta fazer tanta coisa, falta segurança e protecção de  pessoas e bens, falta uma verdadeira preservação da propriedade privada e de elementares  direitos humanos. Há fome, há muita gente ainda a passar fome. 
Enquanto assim for eu não entendo que o Estado/Região gaste os seus escassos recursos em passagens aéreas para o bem-estar de alguns.
É a total confusão entre bem-comum e o bem de alguns.

17 de março de 2015

Nunca tantos desejaram viajar para São Miguel.

 Andam todos (nas outras ilhas) eufóricos com os encaminhamentos gratuitos. Eu percebo a euforia, afinal alguém (talvez a troika) vai pagar, ainda mais,  para os mais favorecidos viajarem ainda mais barato. Essa gente só não percebeu é que essa intervenção estatal além de anular todos os ganhos que se poderiam ter obtido com a liberalização, ajuda a enterrar a companhia aérea regional ainda mais do que já está por via de decisões "politiqueiras" sucessivas e contraditórias que já levaram ao afastamento de dois bons presidentes de CA, o Eng. Manuel António Cansado e o Prof. Doutor António Gomes de Menezes. O fim da SATA, pelo menos da Internacional, só pode ser o objectivo de curto prazo. Caso contrário, não se compreende que o accionista único promova a concorrência com a sua própria empresa.
O que essa gente, das outras ilhas, esquece é que, com essa euforia toda,  está a contribuir  para o mais vil dos centralismos "uma placa giratória"  em São Miguel. A TAP já abandonou o Faial e Pico, a Internacional vai à insolvência e pronto, fica naturalmente resolvida a questão da chamada "Hub Aérea do Atlântico". 
Desde que seja à borla, qualquer centralismo se suporta. Ou como dizia o meu querido e saudoso amigo Alceu Cabido Carneino. "Puta já temos só nos falta o dinheiro". Esse será dos Alemães, esses maus-de-fita de sempre. Claro.

16 de março de 2015

Uma ficção com direitos.

A Easyjet  está  a vender Lisboa/Genebra por 21€.
Se eu quiser apanhar um voo desses na Portela de Sacavém acham que tenho direito a ir até Lisboa gratuitamente?

15 de março de 2015

Socialismo nos rótulos da "Farinha Amparo"

Só para que conste e para memória futura deixo aqui a minha opinião sobre o novo modelo de transportes que prevê o encaminhamento gratuito de passageiros. Esta coisa  (encaminhamentos a custo zero) é tremendamente injusta socialmente ( dizem que eles que são socialistas, eu acho que eles nem sabem o que isso é) e constitui uma descriminação social  incomparável a qualquer outra coisa que tenha sido feita nos Açores nos últimos 50 anos. Além disso irá provocar ainda mais desertificação e empobrecimento nas Ilhas mais pequenas do Arquipélago. Não faz sentido uma Região pagar para exportar capital. Disse!

Post scriptum: Essas passagens vão ser pagas pelos impostos de muita gente que nem pode sonhar com aviões.

13 de março de 2015

O idiota clássico é o anti-politico.

Pelo que ouvi hoje por aí, sim eu ando por aí, houve interpretações duvidosas sobre as minhas palavras de ontem. Na verdade, quando falo de idiotas no sentido clássico do termo, estou a referir-me à antiga Grécia de onde é originária a palavra que servia para designar aqueles que não faziam parte das decisões politicas, que não estavam integrados na polis e que apenas se ocupavam dos seus apetites e dos seus interesses pessoais. A participação  e envolvimento nos assuntos políticos, na antiguidade clássica grega, revestia-se, tal como hoje,  de enorme importância.

12 de março de 2015

Uma pedrada num charco de águas podres

O  Senhor Secretário Regional da Educação disse no plenários dos Jovens. que "(...) “A política e os políticos definem o essencial do nosso futuro, por isso, se todos vocês pretendem um futuro melhor, possuem então a obrigação de fazer política e de serem políticos”. Ora aí está uma coisa sensata dita por um individuo que, ora na academia ora no poder executivo esteve sempre ao serviço da polis ou seja fazendo politica, algo que deve ser ressalvado e motivo de orgulho para o próprio. Disse ainda uma  verdade "lapaliciana",  e cito: “os mais novos não acreditam quase nada nos políticos”, assumindo em seguida que  a “culpa é necessariamente nossa".

"A culpa é, por exemplo, de todos aqueles que mensalmente, eu também, se sentam neste hemiciclo e que, não raras vezes, servem a todos vocês o mais triste dos espectáculos, ou seja, o espectáculo da vitória do interesse pessoal sobre a conveniência colectiva, do insulto sobre a decência, da estupidez sobre a inteligência”.
“Por tudo isto, paira hoje um grande desencanto sobre o funcionamento da Democracia, contudo, na História da Humanidade, a Democracia é a melhor forma de governar seres humanos”. Disse parafraseando Winston Churchil.

Ora fiquei sabendo pela Mariana Matos, de quem tirei algumas das palavras acima transcritas, que o PSD se ofendeu com as palavras sábias de Avelino Menezes e que o PS e restantes bancadas, como se diz agora, se ficaram. Pois eu acho que o Professor de História da Universidade dos Açores que desempenha as funções publicas de Secretário Regional ao serviço da polis, além de atirar uma grande pedrada num charco de lamas podres e mal cheirosas acabou explicando aos seus pares que a politica é mais do que o hemiciclo e que políticos somos todos nós sendo que é esse o nosso dever,  sermos cidadãos, seres da polis e não nos resignarmos à condição de idiotas no sentido clássico ( cultura da antiguidade clássica) do termo. 

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