22 de setembro de 2015

Que vergonha

"Este editorial do Diário Insular é uma vergonha," diz o Nuno Mendes no Facebook  acerca do texto abaixo transcrito e que vem  hoje publicado no matutino Terceirense. Reafirmo Eu aqui que além de ser uma vergonha explica muito o que vai nas cabeças ( ou o que não vai) das supostas elites da Ilha Terceira de Nosso Senhor Jesus Cristo . Não, a culpa não é dos políticos, é precisamente dessas supostas elites  que pensam dessa maneira e que vivem numa cegueira contra São Miguel que nem percebem que cavam as suas covas que depois clamam que alguém as venha fechar  e ateiam os seus fogos clamando que outrem os venha apagar.

Um editorial deste teor roça a xenofobia. Tenho pena de não ter lido um único cidadão da Ilha Terceira se insurgir contra tal bestialidade.

Por fim quero deixar aqui uma nota  apenas. As forças politicas e a sociedade Micaelenses nada fizeram para que os seus reclusos fossem enviados para uma outra Ilha ou para o Continente. Bem pelo contrário. Vimos, nos últimos 30 anos, a nossa cadeia superlotada e sem condições e vimos  os investimentos nessa área em São Miguel preteridos em favor de outros, pelo visto, pouco desejados. Há mais de 30 anos que os Micaelenses clamam por uma nova cadeia, já foram cedidos terrenos e edifícios para o efeito e o Ministério da Justiça e a Direcção Geral dos Serviços Prisionais nunca deram ouvidos a essas pretensões.

Por outro lado, ao primeiro clamor de reclamação vindo da Terceira, Zás! aqui vai um novo estabelecimento prisional para a Terra Chã. Até nisso a Terceira está dependente de São Miguel, não fora o sacrifício redobrado dos prisioneiros micaelenses terem de ir para longe das suas famílias e “ecossistemas” ter servido de fundamento para a construção de uma nova cadeia em Angra e a cadeia da Terceira estaria a menos de metade da sua ocupação ou nem teria sido construída. As “elites” da Terra Chã insurgiram-se contra essa construção mas a restante “inteligência” da Ilha queria uma cadeia nova primeiro do que em São Miguel. Conseguiram.

Aliás, como disse o Dr. Moreira das Neves, um daqueles que não precisou de aqui nascer para aqui viver e saber aqui morrer, “a cadeia da ilha Terceira não pode substituir a construção de um novo estabelecimento prisional na ilha de São Miguel”, foi o primeiro micaelense (com sotaque continental é certo mas com alma Micaelense) a dizê-lo.

A seguir transcrevo o referido editorial (eufemismo)  com as necessárias anotações entre parêntesis, a negrito  e a azul.

Dormir na forma dá nisto... (e não andaram sempre a dormir à sombra dos feitos das tropas de D. António o Prior do Crato?)
Enquanto a Terceira anda entretida a discutir o sexo dos anjos - por exemplo, transformar uma base militar norte-americana numa alavanca de desenvolvimento da ilha...( sempre na esperança que alguém resolva os problemas com pós de perlimpimpim) -, São Miguel vai aproveitando para exportar para a cadeia situada na Terra-Chã, arredores de Angra do Heroísmo, alguns dos seus piores criminosos. Com cerca de oitenta por cento de toda a população criminal açoriana e com uma cadeia a abarrotar, São Miguel não coloca os seus presos no continente, aproveitando as boas condições da cadeia da Terceira para aqui concentrar os indesejáveis. (São Miguel não coloca presos, essa é uma competência do Governo Central, da justiça e dos serviços prisionais e até de alguns serviços como é o caso da reinserção social que tem muitíssimo mais peso na Terceira)
Faz uma enorme diferença colocar os presos de São Miguel na Terceira ou no continente - sendo, porém, certo que os reclusos micaelenses deveriam ficar em São Miguel, junto das famílias e do ecossistema (ecossistema?)que tão bem conhecem e do qual são produto. Mas acabando por sair de São Miguel - o que não deveria acontecer, note-se -, tais reclusos só poderiam ir para o continente. Porquê? A questão tem a ver, em boa parte, com as saídas da cadeia. Os reclusos saem por pequenos períodos, por liberdade condicional e por fim da pena. Já está percebido que os reclusos micaelenses que aportam à Terceira vão ficando por cá, sem famílias, habitando bairros sociais que por si só já são um problema. Perceba-se que eles já representam outro tanto dos criminosos locais condenados (uma rotulagem inadmissível, depois de ordem de soltura o individuo, civilmente, é um cidadão de plenos direitos e requer apoio da sociedade para a sua reinserção, e regresso à vida cívica, não precisa de rótulos para tal). Ou seja, o potencial de crime na ilha duplica quando eles são postos em liberdade provisória ou definitiva. Já no continente, se eles decidirem por lá ficar a sua presença diluir-se-á em dez milhões e não nas cinquenta e poucas mil pessoas que vivem na Terceira. O impacto nem sequer é comparável. É a diferença entre zero e uma colónia penal e pós-penal.

Tudo isto ocorre com silêncios cúmplices. Aliás, só nos começamos a aperceber da dimensão do problema quando - imagine-se! - um amigo norte-americano, militar, nos telefonou avisando que um avião militar que estava nas Lajes com prisioneiros era português, o destino era a Terceira e não Guantánamo. (Claro que percebemos a piada...) (que não tem piada nenhuma). Até os nossos inquilinos dão pelo que se passa, mas os nossos políticos, esses estão a leste do paraíso. A Terceira pode ser transformada numa colónia penal; os bairros sociais podem transformar-se no apêndice da cadeia; a ilha pode arder... Eles continuam a viver no seu estranho mundo. Nem sequer se lembraram de levantar a voz. De perguntar "Porquê?" e de dizer "Não!, nós não queremos!", "Isto não pode acontecer!"

6 de setembro de 2015

O inverno no Verão.

Era eu ainda uma criança quando num chuvoso dia de agosto no edílico Vale das Furnas ouvi, pela primeira vez, da boca da D. Rosa Quental que as Furnas encanta de tal maneira que até o Inverno vem passar o Verão para o Vale.

Pois, parece que o Verão quer continuar o seu Inverno nos Açores.

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