30 de abril de 2005

Cavaleiro Andante

Eu gostei do Cavaleiro Andante. Um novo blogue sustentado com textos e fotografias do André Bradford, do Francisco Botelho e do Mário Roberto. Gostei porque estes são três dos melhores escritores da Blogosfera. Sim da Blogosfera em geral escrita em Português, não apenas da Açoriana.
Gostei do Template, não gostei do relógio e não gostei do facto de não ter links para outros blogues. Parece-me importante a questão dos links, mais não seja como forma de divulgar estes espaços de debate e de opinião, do pensar contemporâneo e que vão senda cada vez mais e melhores entre nós. Boa sorte para vocês. Vou ficar atento.

Coisas que só eu vejo

Vão longe os anos em que me passeava pelo arraial do Senhor Santo Cristo, pela Avenida, pelo Campo, pelos Retiros Académicos. Há muitos anos que escolho sair da Ilha nesta altura, este ano porém, não foi possível, refugiei-me no edílico Vale da Furnas, onde vivi nos meus primeiros anos de casado.
Da infância recordo o ?Cantinho Vicentino?. Era ali na Avenida Conselheiro Luís Bettencourt, onde hoje está o horripilante edifício Costa Dias. (assunto tratado pelo Dr. Carlos Falcão no Indispensáveis)
Recordo as carrocinhas de madeira atreladas a um cavalo com uma roda. Hoje vi um ancião a vender dessas carrocinhas, numa banca a monte e a competir com as inúmeras bugigangas made in China que os Ciganos vendem nas sofisticadas barracas, globalizadas, mesmo ali ao lado.
Recordo os novelos de algodão doce, também conhecidas por Rocas de Açúcar.
Hoje ela estava ali, no mesmo sítio de sempre, frente às escadas que dão acesso ao lado sul do Campo de São Francisco. A inquilina da barraca ainda é a mesma. Era linda, de cabelos longos negros e escorridos, com um busto bem fornecido e firme, parecia uma Princesa Charazade de carne e osso, olhos negros , grandes e brilhantes de tanta esperança no futuro prometido pelo seu Príncipe encantado. Ele era o Nez Perces em pessoa, seco de carnes, cabelo igualmente negro e escorrido, grande como um tronco de árvore e parecendo ser forte como um toiro bravo. Sem sorrisos, na barraca ao lado da dela, vendia pipocas (freiras), simples com sal ou vermelhas com açúcar, era o seu Príncipe das mil e uma noites.
Eles ainda lá estão, vão de festa em festa, de vila em vila de terra em terra e tudo começa com o Senhor Santo Cristo dos Milagres e vai acabar não sei onde e quando lá para o Outono. Estão Velhos a beleza escultural dela deu lugar a um monte de banhas desmazeladas, os cabelos frisaram e esbranquiçaram, deixou de ser a minha Charazade, os seus olhos já não brilham, estão agora baços e fixados num horizonte distante. Ele está grizalho e igualmente desmazeladamente farto de sebos.
Igual mesmo está apenas a sua barraca de vender "Rocas da sucar" uma preciosidade digna de um Portugal no seu melhor.

28 de abril de 2005

Cortejo de vaidades

Estou grande parte do meu tempo no escritório, no Campo de São Francisco. Da minha janela vejo o Campo, a Igreja de São José e a do Santo Cristo, o Santuário da Esperança. Nestes dias que antecedem a festa em honra do Senhor, vejo centenas de pessoas numa azáfama "formiguenta", dum lado para o outro, acartando, pregando, colando, atarrachando, cuspindo para o chão e até mijando contra a parece que serviu de pano de fundo ao suicídio do grande, do verdadeiramente Santo, Antero. Nestes dias vejo gente, supostamente de bem (serão de bem longe) gente fina (de canelas e pulsos) numa roda-viva de entrar e sair para assegurar um lugarzinho mais aqui ou mais ali no cortejo das vaidades. São todos muito crentes! Porque razão só os vejo nesta zona da cidade nesta altura do ano? No resto do ano são descrentes? Pois como diria a minha amiga Juvenália, é "cagança" senhor, "cagança".

25 de abril de 2005

25 de Abril

25 de Abril de mil novecentos e sempre
O 25 de abril diz-me muito mais hoje do que quando tinha catorze anos, estávamos num intervalo das aulas no Externato de Vila Franca e o Mário Fernando Brandão, mais velho do que eu dois ou três anos, veio a correr e a gritar que o Marcelo Caetano tinha sido afastado do poder. Eu não tive naquela altura a noção precisa do que estava a acontecer, nem nos dias seguintes. E nos meses que se seguiram irritavam-me as manifestações populares, o bulício. Disposição que não melhorou em 1975, 1976 quando qualquer coisa continuava a ser pretexto para um comício. Eu odiava comícios, quase tanto como odeio hoje o alarido à volta do futebol. Então porque raio é que eu tenho de achar que os putos de hoje têm de saber alguma coisa sobre a revolução dos cravos? Que já aconteceu há 31 anos? Eles já nasceram em democracia. Mas quando falo com alguém sobre o 25 de Abril, vem logo, ligeira, a remocada: os putos não sabem nada sobre o 25 de Abril, nem querem saber?.Claro que não querem saber. Para que é que querem saber que um punhado de militares levou a cabo um golpe de estado. Capitães de Abril da Maria Medeiros? ?Nunca vi. Ah, já sei. Aquela cena de guerra com uns tanques em Lisboa que a gaja mete um cravo na G3 dum soldado?? Pronto, é suficiente. Não será. Mas a eles basta-lhes saber o essencial. Que foi preciso o esforço e o sacrifício dum grupo de homens e mulheres para que hoje vivam em liberdade. Não têm de saber de que cor era a gravata preferida do Otelo Saraiva de Carvalho. Nem de que marca eram os tanques comandados por Salgueiro Maia. E que Marcelo Caetano tinha uma verruga no dedo grande da mão esquerda com a qual brincava quando estava nervoso.Por essas e por outras é que me odeio. Por achar que até sou um tipo culto que sabe coisas que pouca gente sabe. É mentira. Estou solidário com os rapazes e raparigas que têm dezoito anos. Eles têm é de saber coisas do seu tempo. Por exemplo com quantas carlsberg se pode atingir um estado de embriaguez absoluto.Isso sim, são conhecimentos práticos e úteis. O que eles têm de saber é que para se atingir algo de consistente é preciso trabalhar para isso. Tenho um filho com dezoito anos a quem tento fazer perceber essa evidência. Ele parece não compreender. Mas tenho a certeza que compreende. E que há-de fazer uso dessa compreensão a seu tempo.Entrevistei Gabriela Ataíde Mota que foi casada com Ernesto Melo Antunes, considerado o ideólogo da revolução de Abril. Uma senhora duma simplicidade desarmante que me manifestou a sua desilusão porque os jovens de hoje não sabem do que se passou. E garantiu-me que os militares eram pessoas generosas com uma vontade imensa de mudar as coisas.Acredito. E para mim, a melhor homenagem que podemos prestar a esses militares é que não se deve deixar esquecer que foi preciso uma revolução para mudar o estado das coisas. E que devemos fazer pequenas revoluções quer na nossa vida pessoal, quer na nossa vida enquanto membros duma comunidade. A revolução de Abril deveria servir para não nos esquecermos da urgência constante de revolucionar.
MR
Terça-Feira, dia 19 de Abril de 2005
in Digital Azores e Entramula

23 de abril de 2005

Bárbaro iletrado

"Não sabia que gostavas de literatura! É mais uma das tuas facetas que eu não conhecia!" Disse-me ela com um ar reprovador como naquele dia em que o pescador disse ao a um certo filósofo que sabia que ele era paneleiro mas que não sabia era que o tipo era escritor, essa coisa abjecta.
É verdade, nunca me senti tão mal, ela achava estranhando encontrar-me no lançamento de um livro. E eu também achei estranho. Eu sempre fui homem de poucos pudores. Falo dos meus sapatos, dos meus defeitos, dos defeitos dos outros dos romances, das aventuras, mas raramente, muito raramente, falo dos meus livros. Mostro a minha casa, abro a porta a todos sem me arrepender, mas nunca lhes mostro os meus livros. Os meus livros são meus e guardo-os só para mim. Ela achou que eu não gostava de livros.
Será porque não vou a lançamentos? Então também não gosto de artes plásticas ou de teatro. Não gosto de música, nem de cinema. Não vou a estreias ou a inaugurações de exposições. Os meus gostos culturais não são de ordem sócio-estética, não são para aparecer na revista cor-de-rosa da semana seguinte. Para isso, eu prefiro que ela continue a pensar que eu sou um bárbaro iletrado.

22 de abril de 2005

Ponto final

Hoje não posto.
Há dias assim.
Começam cedo e parecem que nunca mais acabam.
Hoje não posto.
Amanhã quem sabe.
Amanhã talvez. Ponto.
Ponto parágrafo.
Ponto final.

21 de abril de 2005

Só para chatear

O Açoriano Oriental de Hoje traz um flagrante igual ao que foi publicado num blogue anteontem.


Já não é a primeira vez que isto acontece com este mesmo jornal e este mesmo blogue. Coincidência?

20 de abril de 2005

Justiça lenta ?

A frase "a justiça em Portugal é lenta" deve ser o maior mito que conheço. Só se é com os outros, comigo ela é sempre rápida, seja contra seja a favor. Terei eu azar ou sorte?
O Sr. Primeiro-ministro anunciou como uma das primeiras medidas deste governo a redução das férias judiciais. Provavelmente fê-lo sem ponderar os prós e contras da medida, mas ponderando bem os efeitos "eleiçoeiros" e populistas da mesma. O Cidadão pode dizer, muitas vezes, que apresenta queixa à policia sobre um certo furto continuado ou sobre uma certa situação e nada acontece. Todos nós já o dissemos centenas de vezes na vida. Contudo, isso não é o mesmo que dizer que a justiça não funciona ou é lenta. Se as policias não funcionam bem, se o sistema penal e judicial permite sucessivas fugas, se o ladrão é conhecido e a policia não o pega, isso não significa que a justiça não funcione.
Pelo contrário, muitas vezes, é porque o sistema judicial funciona que não se prende um indivíduo só porque a vizinha se farta de telefonar à polícia a dizer que ele lhe rouba as galinhas e lhe chamou aquele nome que se chama às vizinhas que encornam os maridos. Não se olvidem que impera no nosso sistema jurídico o princípio sagrado (para mim pelo menos) da presunção da inocência. Outro princípio sagrado (para mim pelo menos) é o "in dubio pro reu", princípio pelo este que leva a, que muitas vezes, ouvimos os senhores agentes da PSP dizerem, "nós prendemo-los mas os juízes põem-nos cá fora". Precisamente por isso, porque na incerteza não se condena ninguém, em caso de falta de garantias mais vale que fique em liberdade.
O cidadão desinformado não acredita mas o sistema funciona, e o Senhor Primeiro-ministro devia sabê-lo. Assim como devia saber, o Senhor Primeiro-ministro, que as férias judicias são aproveitadas para por em dia alguns processos mais morosos e complicados. A redução desse período fará acumular os processos nos tribunais, pois ao invés do esperado os processos poderão continuar a entrar mas não serão despachados convenientemente porque o pessoal gozará as suas regulamentares férias.
Esta foi uma medida só para o povinho ver, tal como a dos medicamentos e a da limitação de mandatos, o tempo irá dar-me razão.

Vem este tema a propósito do número de juristas e advogados que frequentam este blogue, gostaria de vos ouvir (ler).

19 de abril de 2005

Abaixo o especialista

Eu até nem gosto muito de citar frases de outras pessoas, gosto de ouvir alguém citar as minhas. Lembro-me de um dia, depois de um professor de filosofia ter feito um reparo sobre a minha abordagem pouco académica ao pensamento de Kant eu ter respondido arrogantemente: Os grandes Homens fizeram-se com as suas grandes ideias, não com as ideias dos outros grandes Homens. Dai que alguns me chamem de filósofo, coisa que nego. Mas serei muito mais filósofo do que sei de filosofia. Há anos que manifesto a minha ira contra os especialistas, eu detesto especialistas, sabem de uma coisa e nada mais, e quase proíbem os outros de pensarem sobre esse mesmo assunto. Eu gosto de pensar sobre tudo e sobre nada, sobre a macroeconomia, a fome no mundo, os comportamentos estranhos dos Homens e tantas e tantas outras coisas. Por isso, me auto classifico como um especialista em generalidades, não há nada menos especializado do que isto.

"Estou fazendo uma campanha contra o especialista, sabia? Abomino o sujeito que só sabe algo relacionado com a profissão dele. Cheguei a um ponto da minha vida em que não admito mais o especialista."

Oscar Niemeyer, em entrevista a Eduardo Graça, Sexta-feira 15 de de Abril na revista Sábado

Teaser sem teaser

Por constrangimentos vários, resultantes da greve dos funcionários da RTP - e por isso alheios à equipa de moderador, comentadores e cronistas -, não terão lugar as emissões do Choque de Gerações previstas para 19 e 26 de Abril. O programa volta a 3 de Maio, prosseguindo depois, ao ritmo normal de um por semana (terças-feiras à noite, repetição às quartas-feiras ao final da tarde), até ao final da temporada.

18 de abril de 2005

Parabéns a você...


170º aniversário do mais antigo jornal Português. Parabéns a todos os que ao longo destes quase dois séculos nos trouxeram as notícias a casa.

17 de abril de 2005

Pequenino. Muito pequenino

PSD antecipa limitação de mandatos.O PSD vai antecipar-se ao Governo e agendar para o seu debate potestativo do dia 28 a discussão um projecto-lei que introduz a limitação de mandatos autárquicos... Pois é. É aquilo a que poderíamos chamar de política da terra queimada. Nem mais. O Sr. Marques Mendes mostra como, afinal, não é um pequeno grande Homem, mas confirma ser um pequeno e minúsculo homenzinho.
Ou talvez não, até pode ser um acto de coragem, mas para isso bastava votar a proposta do Governo.Afinal, segundo o estudo publicado no EXPRESSO deste fim-de-semana, é o PSD que sai mais prejudicado com a presente lei. Na verdade, dos 40% de mandatos em risco, 62% são do PSD. O que também nos pode levar a pensar que o PS quer ganhar as autárquicas de 2009 por decreto. Aqui de El Rei! Se fosse ao invés e fosse a direita a falar nisso pela primeira vez. Cairia o Carmo a Trindade e mais o Castelo e a Mouraria.

16 de abril de 2005

Pois pois...

Blah Blah Blah
Pois e os lucros anúnciados com pompa e circunstância? Também se deveram à subida dos preços do ouro negro?
Porque razão nunca nos dizem a verdade?
"merecemos politicos melhores" MUITO MELHORES!!!

13 de abril de 2005

Acomodados 2

Para continuar o debate que, no fim das contas é o que interessa, vem este post em jeito de resposta ao comentário do PJG (que parece toda a gente sabe quem é menos eu) no post "acomodados". Espero que os Bloggers participem mais neste debate, sei que alguns têm opiniões muito próprias sobre este assunto mas não as quiseram discutir aqui. Valia a pena fazer mais um esforço
Antes de passar à resposta propriamente dita gostava de lançar mais um tema ao debate ainda sobre a lei da limitação dos mandatos dos políticos ou de alguns politicos. O Dr. Jorge Coelho anunciou ontem que a lei, em alguns casos, terá efeitos retroactivos. Não sou jurista nem advogado, andei por lá mas sei pouco do assunto. Contudo, sempre me disseram que a retroactividade é um principio que se deve evitar quando se legisla e que este mecanismo só deverá ser utilizado em casos extremos de flagrante injustiça decorrente da aplicação da lei nova. Ora não me parece que a aplicação destas novas regras para os detentores de alguns cargos políticos promova qualquer injustiça retroactiva.
Caro JPG
É bem verdade que o anonimato decorre do direito à privacidade. Mas no caso das opiniões politicas, o anonimato, em meu entender, é um sinal de medo. Aqueles que sentem necessidade de opinar sobre as questões de interesse público devem fazê-lo usando o seu nome, sob pena das suas opiniões anónimas serem relevadas por isso mesmo. Não se trata de buscar as "luzes da ribalta" os holofotes da TV ou os flash dos fotojornalistas, trata-se de uma obrigação de cidadania. Não podemos generalizar. Nem toda a gente que opina o faz por ânsia de aparecer, muitos o fazem com sentido de servir o bem comum. É redutora a leitura de que quem dá a cara o faz só para aparecer. A imagem pública também se desgasta e isso tem um preço muito alto, devemos ser um pouquinho mais puros e acreditar que os que o fazem só para o retrato são a minoria.
Um silogismo é verdadeiro se as suas premissas também o forem. Ora o anonimato bloguista é, em meu entender, um reflexo do medo de debater de discutir de questionar o poder instituído que atravessa a sociedade portuguesa, essa atitude permite a proliferação do caciquismo e da prepotência. Se o cidadão comum não tiver pejo em pensar e em opinar, quem está no poder terá por ele muito mais respeito e logo muito mais cuidado na forma como exerce esse poder. Foram esses abusos e esse caciquismo que estiveram no espírito do legislador quando pensou esta lei. Dai a meu raciocínio dedutivo.

"Longe de Manaus"

É o novo romance do Francisco José Viegas, companheiro de outras andanças, vai ser lançado em Lisboa terça-feira 19 e eu vou estar lá.

12 de abril de 2005

Porque Hoje é Terça-feira

...a partir das 21.30 (hora dos Açores), Maria Graça da Silveira, Nuno Costa Santos e Armando Mendes discutem a nova tendência para a instalação nos Açores de casas de striptease, alterne e prostituição e ainda a suprema importância que a fama e os famosos cada vez mais assumem em Portugal e nas ilhas.A apresentação é de Joel Neto, enquanto Nuno Costa Neves tem a cargo a reportagem e Luís Filipe e Alexandre Borges tomam conta das habituais rubricas Ódio e Amor de Estimação. É a edição número 23 do Choque de Gerações, programa exibido semanalmente pela RTP-Açores e acessível também através do site acores.net (basta ter uma versão recente do programa Real Player).

Acomodados

Nos últimos meses apareceram dezenas de blogues Açorianos. Foram tantos que perdi a capacidade de os consultar diariamente e até de os classificar na lista de links aqui ao lado que, como se pode constatar, está bastante desactualizada. Essa "diarreia" de blogues é um bom prenúncio para uma Região onde a letargia e o comodismo imperam há séculos. Contudo, infelizmente, a grande maioria destes novos blogues e os comentadores dos mesmos são anónimos. Este facto, além de me irritar (as coisas que só me irritam a mim), deixa transparecer que existe nos Açores uma certa opinião envergonhada.
Os Açores, Portugal a Europa, a Humanidade em geral, precisam de debate, de discussão de ideias e se estas são boas pouco interessa, de facto, de onde são provenientes. Mas este medo de dar a cara de ser frontal de mostrar que se existe, esta atitude de ter pejo de pensar constitui um perigo enorme para a consolidação da nossa democracia, com a agravante de que estamos a falar de cidadãos de uma faixa etária bastante jovem.
Os déspotas nascem pelo medo que conseguem criar na sociedade. Só uma sociedade cobarde, medrosa e acomodada permite a criação de sistemas totalitários.
Desta reflexão, concluí, as razões de tanta gente estar de acordo com a limitação de mandatos dos detentores de cargos políticos, é uma questão de medo e de falta de confiança na capacidade de reacção da sociedade, porque somos um grande número de acomodados.

11 de abril de 2005

Ela partiu.

O Príncipe encantado

Muitos militantes do PSD terão ficado sentados à espera que António Borges avançasse na corrida à liderança do Partido, a tal terceira via de que se falava nas vésperas do congresso. Mas não, ainda não foi destas que o PSD repetiu o feito da famigerada reunião magna da Figueira da Foz que elegeu, inesperadamente, um militante de Boliqueime que aproveitou o Congresso para ir rodar o seu novo Citroën BX .
Existe uma enorme diferença entre António Borges e Anibal Cavaco Silva, é que este último queria ser líder do PSD e Primeiro-ministro e foi, enquanto o primeiro apenas deseja que se fale dele. É um eterno D. Sebastião, uma espécie de Príncipe encantado que vai adiando a sua declaração de amor até ao dia em que a bela Princesa, farta, se decide por casar com outro.

Adeus ao ARDEMAR

A Mariana Matos entendeu apagar definitivamente o seu blogue . É um direito que lhe assiste mas eu não concordo. Fico chateado! Claro que fico chateado!!!
Se eu fizesse um blogue colectivo, coisa que está fora das minhas cogitações mais recentes, convidava a Mariana para colaborar, é sempre bom ter entre nós um reaccionário de esquerda.

9 de abril de 2005

Pouco democrático! Não?

A limitação de mandatos dos políticos é, no meu entender, uma medida anti-democrática. Mesmo sabendo que essa lei traria a esperança de Alberto João Jardim sair do Governo da Madeira até 2020 e que Avelino Ferreira Torres sairia das presidência da Câmara do Marco de canaveses pelo menos até 2015 e por mais que isto me agradasse, continuo a achar que a lei é totalmente anti-democrática.
Então? O décimo mandato não é tão legítimo como o primeiro? Não são todos obtidos por eleições livres? Ou o Povo só é sábio quando da jeito?

8 de abril de 2005

Novo ciclo


A partir deste fim-de-semana o "laranjal" terá um novo ciclo.

Das legislativas às autárquicas

Ou os dramas do PS-Açores

No rescaldo das legislativas de 20 de Fevereiro e com uma maioria mais do que absolutamente inequívoca do Partido Socialista, pouco ou nada se poderá dizer. É cedo para fazer comentários à composição do Governo, é cedo para avaliar as primeiras medidas. É tarde para exigir o cumprimento de promessas eleitorais já que as não houve.
Portugal tem dez anos para ganhar a corrida e apanhar os seus parceiros da 1ª divisão da Europa unitária. O PS tem essa responsabilidade entre mãos e chega ao poder sem obstáculos de índole parlamentar e com algumas das reformas mais importantes e essenciais em andamento. Não haverão desculpas, agora é tempo de olhar para autárquicas. Um País com autarcas capazes, responsáveis e inovadores faz-se mais rapidamente do que, se ao invés, esses autarcas forem despesistas irresponsáveis, reaccionários ou bota-de-elástico e gestores incapazes.
Carlos César e o PS-Açores, ainda não tiveram uma vitória em autárquicas e desde a saída de Mário Machado da Câmara de Ponta Delgada que o PS não consegue um bom resultado na chamada Jóia da Coroa.
Se é verdade que algumas concelhias do PS reclamam sua a vitória do passado dia 20 de Fevereiro, na de Ponta Delgada isso não acontece. Essa diferença de atitude indicia que o PS não tem candidatáveis a Ponta Delgada, ninguém está disposto a fazer um sacrifício pelo Partido, eu diria que o PS do poder é bem diferente do PS oposição.
Quantos dos seus rostos mais antigos ou mais recentes estarão interessados em serem candidatos autárquicos contra a Drª Berta em Ponta Delgada ou contra José Carlos Carreiro no Nordeste ou contra José Fernando Gomes na Praia da Vitória?
Estará José Contente disposto a ir a votos em Ponta Delgada? Estará Ricardo Rodrigues disposto a disputar Vila Franca do Campo? Quererá Duarte Ponte correr à presidência da Câmara da Ribeira Grande?
Não me parece, estamos perante um Partido Socialista pleno de calculistas que se ancoraram na imagem de governação de Carlos César e que, à custa desse e agora de Sócrates, vão mantendo as suas capelinhas e nada mais. Por isso, o PS não será nunca um Partido com grande implantação autárquica nos Açores, não terá mais do que meia dúzia das 19 câmaras do arquipélago e no dia em que deixar de ser poder, os ratos fugirão como fizeram alguns dos seus actuais colaboradores no tempo em que colaboravam com governos do PSD.
A política regional começa a entrar numa zona perigosa, tal como aconteceu em 1992 com Mota Amaral. Começam a ser vitórias demasiadas. Na verdade, a entronização de Carlos César por via dos sucessivos e demasiado bons resultados eleitorais, torna o PS numa espécie de agência de emprego e de clientelas politicas. Até há bem pouco tempo o PS-Açores não tinha máquina partidária e isso era bom para a Região. Hoje, pelo contrário, o PS já tem máquina e encerra nessa mesma máquina pessoas que de socialistas nada têm, alguns são mais reaccionários do que os dirigentes mais empedernidos do CDS. Enquanto for um partido de poder, essas divergências serão atenuadas, ao deixar de o ser, passará por uma fase de purga à semelhança do que aconteceu com o PSD de Mota Amaral.
In Revista Factos nº 2

7 de abril de 2005

Factos 3

Já está disponivel na Bertrand e no Ponto FM no Centro Comercial Parque Atlântico. Amanhã nos sitios do costume.

Já andam por aí os "Bifes"

A respeito do "post" anterior e da fotografia do The Valley of the Hermit's Stream no País de Gales perguntei-me esta manhã. O que virão fazer os "Bifes" aos Açores? Ver as nossas paisagens não será certamente, disso têm eles mesmo ali ao pé.
Bem, as "Bifas", pela fama que têm e por "zun zuns" que me chegaram via e-mail, parece que já andam à procura de rapazes corpulentos o voluntariosos do tipo macho latino para lhes satisfazerem os mais imaginativos apetites sexuais. Bom negócio para os "putos" desempregados da garagem do farfalha.

O verde das Ilhas

Eu dou um doce a quem descobrir onde fica esta paisagem

6 de abril de 2005

"Futebolês" de ministro

Eu não quero viver num País em que um Sr. Ministro diga "póssamos" querendo dizer possamos.
Foi Jaime Silva, actual Ministro da "Ingri(in)cultura" hoje durante todo o dia nos noticiários.

E assunto?

Por manifesta falta de inspiração e porque há muita gente que vem ao blogue e não tem oportunidade de ler a revista Factos, aqui deixo hoje a crónica publicada no nº 1 da referida revista.

E assunto?
O dilema do título


Quando aceitei esta coluna não me passava pela cabeça que fosse tão difícil cumprir a promessa que fiz ao Rui Lucas. Escrevi e escrevinhei algumas linhas que acabaram ou publicadas no Blogue que deu o nome a esta, ou directamente enviadas para a reciclagem do Windows XP.
Com mais dois ou três textos entre mãos, com uma campanha eleitoral para preparar, dois funcionários incompetentes, três juristas sedentos de dinheiro, quatro gerentes bancários que tem medo da sua própria sombra, tudo isso feito numa argamassa consistente que não me aliviava o pensamento, deixei ir passando os dias sem me lançar na gesta de escrever a minha primeira crónica para a Factos.
Hoje entrei no escritório bem cedo, como de costume, e disse alto para que todos ouvissem e me dessem uns momentos de descanso: Hoje tenho que escrever para a Factos.
Isso o que é? Retorquiu alguém que tem estado desatento.
E assunto? Perguntou a minha colaboradora mais próxima.
Sai porta fora sem dizer nada e voltei no mesmo instante, meti a chave à fechadura entrei de rompante e gritei. E assunto? Vai ser este o tema da minha primeira crónica.
Quando se escreve por gosto ou por sistema há sempre assunto. Quando se é um generalista ou, um especialista em generalidades, como uso dizer que sou, escreve-se sobre tudo e sobre nada. Escreve-se apenas porque se gosta de escrever.
Poderia ter escolhido inspirar-me numa queda que vi uma senhora dar num resto de carpete das ornamentações de Natal das ruas de Ponta Delgada, sobre um velho que vi beber uma garrafa de vinho de qualidade duvidosa, duvidosa não, de má qualidade mesmo sentado numa soleira de uma artéria nobre da Cidade, sobre o Bruce Lee e a vitrina do Domingos Vieira, sobre as obras no café Royal e a falta que me faz aquela sandes (prefiro Sandwich) de Queijo de São Jorge com um café duplo logo de manhã, podia escrevinhar sobre tanta coisa que se passou neste lapso de tempo entre a minha decisão de escrever este texto hoje e ter-me sentado em frente ao computador.
Mas não! Todos esses casos não foram indutores do meu entusiasmo. Por outro lado aquele E assunto? Dito assim, a seco pela minha colaboradora mais próxima, fez-me logo sentar em frente ao teclado e desatar a debitar leves e simpáticas dedadas nas teclas com letras.
A crónica tem sempre a condicionante do tempo, do "cronos" e esta tem também o seu tempo. O tempo do nascimento desta nova revista de grande informação e opinião.
Esta nova publicação tem todos os ingredientes para trazer aos Açores uma nova forma de estar na comunicação, na vida e na vivência das Ilhas, sem brumas, sem estarmos condicionados pelo mar, pela gaivota, pelo rochedo ou por xailes negros. Sem barcos de partida ou de chegada, sem amarras, sem mantos roxos de saudade.
Não esperem muito de mim nestas crónicas mensais. Contudo, esperem o desassombro com que vos habituei noutras funções e esperem acima de tudo muita coragem, e determinação, muita dedicação e reflexão sobre o que se passa nas nossas Ilhas. Serei Eu. Aqui, como ali, como acolá, eu apenas, pouco preocupado em pensar demasiado no que digo e dizendo sempre o que penso.

5 de abril de 2005

O Furo é intocável

José Fócrates o tal da vida que é uma soda, anunciou ontem a intenção do Governo da República Queiroziana de Portugal, acabar definitivamente com os furos entre as aulas. Acabar com a mais secular instituição da juventude estudantil Portuguesa? Isso é inadmissível! Não há direito de acabar com o furo.
Então? Heim!? Como é que vai ser? E aqueles namoricos e marmelanços entre as aulas? E as corridas corredor fora depois do segundo toque rumo ao campo de Basket? E as "peladinhas" porque o chato do professor de história, graças à praga que lhe rogamos, teve uma diarreia?
Mobilizem-se, jovens! Fócrates que se sôda" E o Jogo da mosca e do lencinho. Acabar com o furo é acabar com essas tradições estudantis todas.
Sôda-se, não permitam que vos roubem essa oportunidade, que vos tirem essa prerrogativa, que vos roubem essa liberdade.
Sôda-se.

Só para lembrar

O " teaser" costumeiro só para lembrar que hoje é dia de Choque de Gerações, não de gera cães, como insinua o Professor Vamberto Freitas.
Joel Neto será o condutor de um debate que levará os seus convidados, Pedro Arruda, Miguel Monjardino e o autor deste post pelas estradas do mais recente pensamento açoriano sobre o processo sucessório no PSD, no CDS e no PCP e ainda o novo plano de Tony Blair para África.
Não perca, já sabe é hoje pelas 21h30 minutos com repetição amanhã ao final da tarde ou ainda em http://www.acores.net/.
Lembrei-me, a respeito da busca incessante que o CDS tem feito por um nova liderança que seria bom convidarem a Marisa Cruz com aquele excelente par de mamas silicone, e pedir emprestada uma tômbola da Santa Casa à Zézinha Nogueira Pinto, colocarem lá dentro todos os cartões de militantes e assistirmos, todos, em directo, à escolha do novo Presidente do CDS sem PP. Era bom não era?
Lindo!!!!

3 de abril de 2005

A Cigarra e a Formiga

Vivemos uma era em que a economia marca as mudanças e condiciona as atitudes dos cidadãos, marca o compasso do desenvolvimento e das esperanças da humanidade.
A Sociedade Açoriana, até aos finais do século XX, era essencialmente aforradora, mercê da condição de ilhéus, distantes e sistematicamente fustigados pela fúria dos elementos naturais, criamos hábitos de formiga, da formiga da fábula "A Cigarra e a Formiga". Em 1990 existiam, em contas a prazo nos bancos dos Açores, cerca de 200 milhões de contos, mais cerca de 30 milhões em diversos outros sistemas de poupança. Esse dinheiro era, essencialmente, canalizado para financiar investimentos de empresas de fora da Região. Vivíamos também uma época de grande emigração. Os Açores exportavam, assim, uma das maiores riquezas que um povo pode ter, massa Humana trabalhadora e capital.
Por um lado, os que cá viviam, poupavam com todo o seu esforço. Por outro, os que não conseguiam sequer ganhar o suficiente para viver com o mínimo de dignidade, procuravam novas vidas em terras do tio Sam.
Da América dos filmes de "ariuane" e "endezap" ( corruptelas de wath You want e hands up), vinham noticias de grandes "moles" (malls) onde se comprava de tudo a preços muito bons. Os "candiles", os "alvaroses de ganga" e as botas de biqueira de aço, faziam as delícias de pequenos e graúdos lá da terra em dia de chegada de barril da américa. No mesmo barril vinha um envelope com uma nota de 5 ou 10 dólares. As "dolas", naquele tempo, valiam alguma coisa e resolviam, por algum tempo, os problemas do fiado na "loje do sô chique ou da Sóra Sofia", os merceeiros da aldeia. Ter um filho, um Pai ou um tio na América era razão suficiente para ter fiado.
Hoje na euforia desbragada das compras no "shoping" e no hipermercado, os Açorianos parecem ter perdido o respeito pelo dinheiro. Isso trouxe vantagens à nossa economia e ao nosso bem-estar. Desde logo, as Açorianas passaram a andar na rua muito mais bem vestidas e perfumadas, deixaram de usar uns trapinhos fora de moda vindos nos barris da América para vestirem elegantemente "zara" e "stradivarius", deixaram no canto mais recôndito das cómodas os velhos vaporizadores da Avon e usam perfumes franceses com a chancela victor's, Maviripa ou Perfumes & cia, são autênticas bonecas Barbie de carne e osso, frescas e cheirosas pavoneando-se pelos corredores do Centro Comercial.
E se falta alguma coisa, não faz mal, vai-se pedir ao Governo, que o governo dá.
Os Açorianos deixaram de ter contas a prazo e prazo para pagar as contas.

1 de abril de 2005



Tinha pensado não escrever nada sobre esta memoria de mis putas tristes, achei que era uma presunção da minha parte fazer qualquer tipo de critica a uma obra de Gabriel García Marquez, prémio nobel da literatura em 1982.
Os pudores e os despudores de um velho sábio de noventa anos e a sua relação com uma velha meretriz e uma adolescente virgem.
Este é o que eu chamaria um romance light, very light, too much light. Não diria que é do tipo Margarida Rebelo Pinto e I'm in love with a pop star, mas está próximo. Apesar disso, gostei.

Peta ou não peta

Pois é. Passei uns dias sem postar e parece que houve malta que descansou dos choques desassombrados do Foguetabraze. O sossego acabou mesmo.
Da leitura dos comments aos post anterior, em 1 de Abril, parece ninguém acreditou que o BOOM! deste blogue fosse a sério. E não é! Não se livram de mim com tanta facilidade, aqui estarei até que ma obriguem a pagar para ter um Blogue.

Não se esqueçam que amanhã estará, nas bancas do costume, o nº 16 da :ILHAS, com apresentação na livraria Solmar às 21 horas numa sessão cultural intitulada Eh Atolêmáde, isse é Consumo (Cultural)...!

Não percam, se for na linha do Eh Atolêmáde, isse é política, será uma noite, certamente, para relembrar.

Havia mas...

Havia por aqui um blogue! Mas.... BOOM!

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