23 de abril de 2005

Bárbaro iletrado

"Não sabia que gostavas de literatura! É mais uma das tuas facetas que eu não conhecia!" Disse-me ela com um ar reprovador como naquele dia em que o pescador disse ao a um certo filósofo que sabia que ele era paneleiro mas que não sabia era que o tipo era escritor, essa coisa abjecta.
É verdade, nunca me senti tão mal, ela achava estranhando encontrar-me no lançamento de um livro. E eu também achei estranho. Eu sempre fui homem de poucos pudores. Falo dos meus sapatos, dos meus defeitos, dos defeitos dos outros dos romances, das aventuras, mas raramente, muito raramente, falo dos meus livros. Mostro a minha casa, abro a porta a todos sem me arrepender, mas nunca lhes mostro os meus livros. Os meus livros são meus e guardo-os só para mim. Ela achou que eu não gostava de livros.
Será porque não vou a lançamentos? Então também não gosto de artes plásticas ou de teatro. Não gosto de música, nem de cinema. Não vou a estreias ou a inaugurações de exposições. Os meus gostos culturais não são de ordem sócio-estética, não são para aparecer na revista cor-de-rosa da semana seguinte. Para isso, eu prefiro que ela continue a pensar que eu sou um bárbaro iletrado.

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