6 de abril de 2005

E assunto?

Por manifesta falta de inspiração e porque há muita gente que vem ao blogue e não tem oportunidade de ler a revista Factos, aqui deixo hoje a crónica publicada no nº 1 da referida revista.

E assunto?
O dilema do título


Quando aceitei esta coluna não me passava pela cabeça que fosse tão difícil cumprir a promessa que fiz ao Rui Lucas. Escrevi e escrevinhei algumas linhas que acabaram ou publicadas no Blogue que deu o nome a esta, ou directamente enviadas para a reciclagem do Windows XP.
Com mais dois ou três textos entre mãos, com uma campanha eleitoral para preparar, dois funcionários incompetentes, três juristas sedentos de dinheiro, quatro gerentes bancários que tem medo da sua própria sombra, tudo isso feito numa argamassa consistente que não me aliviava o pensamento, deixei ir passando os dias sem me lançar na gesta de escrever a minha primeira crónica para a Factos.
Hoje entrei no escritório bem cedo, como de costume, e disse alto para que todos ouvissem e me dessem uns momentos de descanso: Hoje tenho que escrever para a Factos.
Isso o que é? Retorquiu alguém que tem estado desatento.
E assunto? Perguntou a minha colaboradora mais próxima.
Sai porta fora sem dizer nada e voltei no mesmo instante, meti a chave à fechadura entrei de rompante e gritei. E assunto? Vai ser este o tema da minha primeira crónica.
Quando se escreve por gosto ou por sistema há sempre assunto. Quando se é um generalista ou, um especialista em generalidades, como uso dizer que sou, escreve-se sobre tudo e sobre nada. Escreve-se apenas porque se gosta de escrever.
Poderia ter escolhido inspirar-me numa queda que vi uma senhora dar num resto de carpete das ornamentações de Natal das ruas de Ponta Delgada, sobre um velho que vi beber uma garrafa de vinho de qualidade duvidosa, duvidosa não, de má qualidade mesmo sentado numa soleira de uma artéria nobre da Cidade, sobre o Bruce Lee e a vitrina do Domingos Vieira, sobre as obras no café Royal e a falta que me faz aquela sandes (prefiro Sandwich) de Queijo de São Jorge com um café duplo logo de manhã, podia escrevinhar sobre tanta coisa que se passou neste lapso de tempo entre a minha decisão de escrever este texto hoje e ter-me sentado em frente ao computador.
Mas não! Todos esses casos não foram indutores do meu entusiasmo. Por outro lado aquele E assunto? Dito assim, a seco pela minha colaboradora mais próxima, fez-me logo sentar em frente ao teclado e desatar a debitar leves e simpáticas dedadas nas teclas com letras.
A crónica tem sempre a condicionante do tempo, do "cronos" e esta tem também o seu tempo. O tempo do nascimento desta nova revista de grande informação e opinião.
Esta nova publicação tem todos os ingredientes para trazer aos Açores uma nova forma de estar na comunicação, na vida e na vivência das Ilhas, sem brumas, sem estarmos condicionados pelo mar, pela gaivota, pelo rochedo ou por xailes negros. Sem barcos de partida ou de chegada, sem amarras, sem mantos roxos de saudade.
Não esperem muito de mim nestas crónicas mensais. Contudo, esperem o desassombro com que vos habituei noutras funções e esperem acima de tudo muita coragem, e determinação, muita dedicação e reflexão sobre o que se passa nas nossas Ilhas. Serei Eu. Aqui, como ali, como acolá, eu apenas, pouco preocupado em pensar demasiado no que digo e dizendo sempre o que penso.

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