7 de setembro de 2022

Ilhas periféricas

 

O título desta semana parece uma epígrafe gasta, um assunto esfarrapado, um tema que recorrentemente é usado para capitalizar simpatias e votos. É sim Senhores, mas não pode continuar a ser!

As periferias criam-se ou combatem-se. Aos entes públicos cabe definir as orientações estratégicas e as políticas prioritárias. Nos últimos anos estimularam-se, politicamente, o surgimento de mais periferias dentro da periferia. Importa reverter ou inverter esse caminho. Para tal importa que seja dita a verdade às pessoas e é fundamental que essa verdade se consubstancie em mudanças efetivas, não apenas em “conversa para boi dormir”.

A classe política está a esgotar os seus créditos, o Povo tem a paciência a esvair-se e os populismos crescem como cogumelos, por via disso mesmo, porque os moderados, os que prometeram quase tudo a quase toda a gente sem lhes dizer a verdade não resolveram os seus problemas, perpetuando-os no tempo de tal forma que os cidadãos, também eles agentes do governo da polis e, por isso, também eles políticos, se fartaram de quem os governa e os dirige. Cansado, o Povo parte para a escolha de outras soluções. É por isso, só por isso, que os populismos emergem. Não por culpa de si próprio, mas sim por culpa, precisamente, daqueles que mais os criticam, mas não souberam usar as oportunidades que tiveram para resolver os problemas das pessoas.

Nos últimos meses visitei, profunda e intensamente, quatro ilhas dos Açores. Visitei empresas, cooperativas, associações, centros de saúde, escolas, explorações agrícolas, fábricas, unidades hoteleiras, instituições de serviço social, creches, lares de idosos, cafés, restaurantes, artesãos e mais coisas que já nem sei. Fi-lo porque foi isso que prometi aos Açoreanos de todas as Ilhas. Prometi não os visitar apenas na altura de lhes ir pedir o voto. É isso que estou a fazer!

Vou visitar todas as Ilhas dos Açores e tentar contribuir para o seu desenvolvimento e para a melhoria das condições de crescimento das suas populações, mesmo daquelas onde a Iniciativa Liberal não concorreu e não tem implantação local. É isso que estou a fazer, não deixarei seja quem for de fora, nem mesmo aqueles que, numa primeira abordagem, evitam o contacto.

Visitei já, para além de São Miguel e Terceira, o Corvo, a Graciosa, as Flores e São Jorge. Na periferia da periferia encontrei problemas diferentes, idiossincráticos, mas também problemas transversais a todas as ilhas, a todas as atividades, a todas a especificidades. Um desses problemas transversais é a falta de não-de-obra qualificada e até sem qualificações. Milhões de euros depois da nossa entrada na então CEE, depois de uma mão cheia de quadros comunitários de apoio, não fomos capazes de construir uma comunidade política qualificada, capaz de fazer face às necessidades das empresas e dos serviços. Afinal, o empresariado fez o seu trabalho, aproveitou bem as oportunidades dos sucessivos sistemas de incentivos, mas depara-se agora com a escassez de trabalhadores, que, no fundo, são o argumento para o Estado/Região/União financiarem esses mesmos investimentos. Essa questão ficou mais patente com o crescimento do sector do turismo que aumentou significativamente a procura pelas nossas ilhas por parte de forasteiros e até de turismo interno. Cada vez mais faz sentido aquela máxima de que esta Região apenas se mantém a funcionar graças a muitas boas vontades. Isso acontece, na saúde, na proteção civil, na educação, na logística, na construção e, muito particularmente, no poder local. Ou seja, esta Região vai-se autogovernando apesar da classe política incapaz que tem dirigido estes nove torrões de terra dispersos no meio do Atlântico Norte.

Na periferia da periferia vim encontrar, uma economia a estagnar por falta de gente para trabalhar, mas, por outro lado, vim encontrar uma estrutura de serviços do Estado e da Região obsoleta e incapaz de contribuir para a fixação de famílias jovens nos espaços geográficos mais remotos. Contudo, é nessa periferia das periferias que ainda é possível encontrar algum equilíbrio ambiental e onde se pode falar de sustentabilidade. No entanto, há um longo caminho a percorrer na área social para garantir equidade e humanidade nas populações isoladas. Passados 24 anos de governos socialistas fui encontrar, na Fajã dos Vimes, dois seres humanos a viverem numa situação de absoluta desumanidade que, sinceramente, achei que já não existia nos Açores. Mas existem ainda algumas… e com quase 2 anos de um novo Governo era já tempo dessas situações terem sido ultrapassadas e resolvidas. Não basta nomear delegados de ilha disto e daquilo, é preciso que esses mesmos façam o seu trabalho, no terreno, metam “a mão na massa” e não façam, como num passado ainda recente, de conta que não é com eles a ver se o assunto se resolve por si.

É preciso fazer diferente para que os resultados sejam diferentes.

Haja saúde.


In Jornal Diário Insular, edição de 6 de setembro de 2022

Sem comentários:

Arquivo do blogue