(...) Tudo o que surgir para além da vaca é sempre marginal e pouco relevante para a economia regional. Em primeiro lugar, porque a área agrícola é pequena e a sua pulverização por diferentes actividades reduz, em qualquer uma delas, o acesso a economias de escala. Em segundo lugar, devido às condições climatéricas, o risco associado ao sector leiteiro, nomeadamente o de perda devido a intempéries, é muito menor do que o associado a qualquer outra actividade agrícola. Finalmente, o crescimento económico faz-se se formos capazes de produzir para exportar. No entanto, em ilhas, pequenas e afastadas dos principais mercados consumidores, a exportação tem custos de transporte elevados. (...)
Claro que eu não sou economista muito menos académico e ainda menos director de um departamento de economia e gestão da Universidade dos Açores. Contudo, permitam-me a ousadia de discordar dessa iminência que dá pelo nome de Cabral Vieira e que é um dos “contributors” por via da sua opinião, para o (mau)estado da Região.
Na verdade, mais do que incrementar as exportações, a Região precisa reduzir as importações. Basta estudar um pouquinho, um pouquinho só, o movimento de mercadorias do Porto de Ponta Delgada para perceber a urgência de medidas produtivas que permitam reduzir as importações. Antes de ter acesso a economias de escala, a Região precisa auto abastecer-se.
Enquanto, por um lado, exportamos animais vivos para abate e produtos derivados do leite de baixo valor acrescentado, importamos coisas tão ridículas como salsa, pimentos e agriões. Produtos que dão até por cima das pedras da calçada se os semearmos nas nossas Ilhas onde o clima muito mais do que tempestuoso é, na generalidade, ameno.
Mas não falemos de minudências, falemos de produções agrícolas industriais.
Para exportar uns produtos lácteos de baixo valor acrescentado, a Região investiu na agropecuária, área da agricultura que exige menos formação e menos trabalho, embora muita dedicação e submissão, é verdade. Para abastecer as fábricas e tornar as explorações minimamente viáveis e manter o nível de vida dos produtores, esses recorreram a métodos de produção intensiva que se baseiam em alimentos concentrados feitos á base de matérias primas importadas. Por exemplo, importamos, pelo menos, cerca de 100 mil toneladas de milho e soja para fazer alimentos para as vacas, transformando a nossa balança de transacções altamente deficitária.
É possível, produzir milho em grão na Região a preço inferior ao que está a ser pago neste momento nos mercados internacionais pelo milho não transgénico. Contudo, não foi feito qualquer esforço por parte dos governos e das cooperativas para aquisição de “know how”para produzir cereais com base nas novas técnicas existentes. Ao invés da dependência petrolífera que vamos ultrapassando com as energias alternativas e renováveis, não investimos na diversificação da produção agricola para fazer face à procura internacional de cereais.
Se conseguíssemos diminuir em cerda de 20 ou 30% a nossa dependência cerealífera, certamente estávamos a contribuir para o equilíbrio da nossa balança de transacções.
A Monocultura da Vaca e a nova monocultura do “camionista escandinavo” que não gosta de raves nas Portas do Mar, tem levado os Açores, ao longo dos últimos 40 anos, ao caminho sem retorno de sermos a região mais pobre da Europa.
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