25 de janeiro de 2008

Cesar corre contra Cesar.

Falta no panorama jornalístico e de opinião dos Açores gente com memória capaz de avaliar o presente e perspectivar o futuro com base na história recente.
As eleições regionais de 2004 aconteceram num cenário muito semelhante (com outros protagonistas e outros vencedores) àquele em que se desenrolaram as de 1988.
Nesse tempo, andava-se na rua e ouvia-se que o Povo estava cansado, que Mota Amaral tinha lançado para a ribalta pessoas pouco preparadas e demasiado jovens como Joaquim Machado e José Manuel Bolieiro. Dizia-se que era agora, que o PS estava reforçado. Havia um sentimento de mudança. Houve coligações secretas, apoios de bastidores, campanhas difamatórias. Em fim, erros atrás de erros que levaram o PSD a uma maioria absoluta quase tão grande como a que César obteve em 2004.
A minha memória regressiva e os diversos exercícios que tenho feito levam-me a perspectivar um resultado, para o Partido Socialista em 2008, semelhante ao do PSD de Mota Amaral de 1992. O Povo já sente e acredita nisso e quando o Povo sente e acredita, o Povo quer e se o Povo quer, mais vale o PSD não gastar dinheiro em campanha, poupe-o para pagar o resto da campanha de 2004 e para ajudar à de 2012.
Cesar também sabe disso. Sabe-o melhor do que ninguém. Contudo, tal como já o Pedro Arruda lembrou, Cesar corre em Outubro contra Cesar. Ou seja. O Presidente do Governo não deseja, não quer e não vai arriscar ter um voto que seja a menos do que obteve em 2004.
Cesar sabe que, dificilmente, vai buscar mais eleitorado ao PSD, já o esvaziou o que havia para esvaziar. Então qual é a estratégia? Ir buscar as franjas de eleitorado que votam no CDS-PP e nos outros pequenos partidos. Isolando o PSD e dando apoio a Artur Lima, Cesar adquire simpatias no eleitorado do CDS e obtém os poucos votos necessários para obter um que seja mais do que em 2004.
O que é que o CDS tem a ganhar com esta estratégia de aproximação e quase namoro de língua na boca com o PS? Nada, absolutamente nada.
Assim, a continuar nesse caminho, o CDS-PP de Artur Lima e Renato Moura, com o apadrinhamento de Paulo Portas (esse poço de virtudes governativas) arrisca-se a nem eleger um Deputado pelo círculo de compensação, quanto menos os quatro que os resultados de Alvarino Pinheiro e Paulo Gusmão em 2000 proporcionariam com o novo sistema.
As estruturas locais do CDS-PP de São Miguel e São Jorge têm um papel importante no chamar à razão do Presidente do Partido. Afinal, foi com o empenho destas duas Ilhas que Artur Lima conseguiu uma lista consensual no Congresso. Contudo, o seu comportamento enquanto presidente do Partido não tem sido o de apoiar essas estruturas de Ilha mas, pelo contrário, um comportamento traiçoeiro de morder a mão que lhe deu de comer.

NB: Cabe aqui fazer um alerta e uma declaração de interesses. Sou Presidente do Conselho Regional do CDS-PP Açores e Vice-presidente da Comissão Política de Ilha de São Miguel do mesmo partido.

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