31 de dezembro de 2004

Amanhã

Eu não gosto de balanços, são uma coisa fastidiosa e com cheiro a enterro. Quando se faz um balanço sobre qualquer coisa quer dizer que essa coisa acabou. Os anos não acabam, o tempo é uma coisa com a qual temos que lidar simplesmente como regra organizacional nada mais. Para mim os dias são todos iguais, seja Segunda-feira ou Domingo, seja dia 01 ou dia 15, acabo sempre fazendo o que me interessa, a adiar o que não me interessa, é a minha liberdade enquanto cidadão do Mundo. Já deve ter dado para perceber que prezo muito essa liberdade. Não que descure as questões de disciplina, pelo contrário, esse culto da liberdade é, por si só uma disciplina que imponho a mim próprio. O que não gosto é da disciplina imposta por outros, a disciplina de voto, a disciplina partidária, as regras que quartam a minha liberdade. Essa liberdade acaba quando começa a liberdade do ser mais próximo. Por isso, há regras e códigos de conduta que temos que cumprir.
Há um ano atribui uns prémios a algumas figuras Nacionais e Regionais, hoje não o farei embora me apetecesse atribuir o prémio de pior Televisão à TVI de pior programa de televisão à "Quinta das Celebridades", e o prémio besta arrogante e mal educada, ao negro mais presunçoso, maricas e inconveniente que a sociedade portuguesa mais despropositadamente elege como ícone, o "paneleirote de Castelo Branco".
Para mim os anos acabam e começam como se de dias normais se tratasse. Por isso, amanhã será apenas um feriado como outro qualquer, em que o Bancos estarão fechados mas os juros não deixarão de contar, as tabernas estarão abertas e cheias de homens com a garganta seca, as ruas desertas porque os guerreiros da noite descansam de guerras com copos e garrafas de bebidas espirituosas. Ressacados. Amanhã, os jornais vão chegar às bancas com as mesmas noticias sobre o maremoto ou sobre a "quinta" e será apenas mais um dia nesse país das maravilhas onde já ninguém fala dos dois governos que tivemos durante este ano e que já não temos, das duas decisões mais desadequadas do PR, da fome, dos sem abrigo, do tráfego de droga no Bairro da Serafina, dos Meninos da Casa Pia, das meninas da garagem do farfalha, de "um velho num banco dum Jardim". Ninguém falará, amanhã, das mulheres amordaçadas pelo medo das sovas que levam dos maridos, dos maridos pressionados e violentamente agredidos pelas mulheres possessivas e pelos filhos mal-educados, do tráfego de crianças, do trabalho infantil da pobreza envergonhada.
Amanhã será só mais um dia.

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