7 de setembro de 2004

20% menos

Luís Nazaré em defesa da causa deles, mostra-se indignado com as declarações do cabeça de lista por São Miguel às eleições legislativas Regionais dos Açores, nomeadamente no concernente à anunciada baixa das tarifas da SATA em 20%.
"o candidato PSD a chefe do governo dos Açores, anunciou pomposamente que, caso fosse eleito, baixaria as tarifas aéreas inter-ilhas em vinte por cento. Nem mais nem menos. Pouco lhe importa a situação financeira da SATA, as regras básicas de funcionamento das empresas, a disciplina orçamental, pública e privada, ou outras questões "menores", totalmente ausentes das preocupações do populismo e da demagogia".
Já antes de Luís Nazaré eu tinha lido noutro blog ou jornal nacional a mesma referência e indignação. Confesso que o assunto não me inspirou por se tratar de período pré-eleitoral. Enfim bocas de rapazes em campanha eleitoral onde há sempre lugar a alguma demagogia e populismo, atente-se às mais recentes acusações de César sobre alegadas queixas anónimas feitas a Bruxelas. Antes, dos comícios, esperávamos mensagens e ideias. Agora ouvem-se acusações sobre denúncias anónimas ou anúncios populistas e demagógicos que não são devidamente explicados.
Eu concordo com o Luís Nazaré. Eu sei que o "arroto" de Victor Cruz não passou de um acto populista e demagógico. Mas eu, que sofro na pele, ou melhor no bolso com o preço das passagens inter ilhas, vou explicar ao Victor Cruz e ao Luís Nazaré, do alto da minha insignificância, porque razões se devem baixar as tarifas inter ilhas e com que contrapartida orçamental. Sem demagogias e sem populismos.

Para já fiquem a saber que se esta medida estivesse em vigor só durante o mês de Agosto último eu tinha poupado 104,90 euros, o que dá para comer muitos bifes no Aliança, muitas doses de chicharros no Avião e até uma lagostinha nos Prazeres da Maia, hábitos burgueses dos quais não abdico. Parece pouco mas para uma pequena e média empresa como a minha, é nessas pequenas coisas que reside a diferença entre o lucro e o prejuízo.

Do ponto de vista da política económica da Região, em meu entender, não faz sentido exigir da República preços mais baratos no transporte de passageiros entre os Açores e o Continente, fomentando assim, a ida dos Açorianos a Lisboa gastar dinheiro em hotéis, restaurantes e centros comerciais.
Economicamente, no meu fraco entender, muito fraco mesmo, faz mais sentido facilitar a mobilidade dos Açorianos entre as suas próprias Ilhas, fazendo assim, circular o dinheiro entre nós.
Durante séculos exportamos o que de melhor tínhamos, mão-de-obra e dinheiro. Exportamos mão-de-obra para os mais diversos países onde ajudamos os autóctones a desenvolverem as suas economias, exportamos capitais porque poupamos e entregamos as nossas economias aos bancos com sede em Lisboa que os aplicaram no desenvolvimento da economia do rectângulo. Ficamos sempre com as migalhas. Este é para mim o argumento de ordem económica para que se reduzam as tarifas de passageiros inter ilhas ao invés de vivermos obcecados com as tarifas de e para o continente.
Na perspectiva do equilíbrio orçamental, também é fácil encontrar uma solução, basta aumentar as tarifas de e para o continente, reduzindo as respectivas indemnizações compensatórias, permitindo que a verba então disponibilizada passe a ser dirigida para indemnizações da mesma ordem mas pagas à Sata-AirAçores em vez de serem pagas à Sata-Internacional. A haver qualquer tipo de fomento ao transporte aéreo entre o Continente e os Açores (sei que isto é contra todas as regras da campanha eleitoral), ele devia ser pago aos continentais que pretendam vir aos Açores, para que os mesmos venham pagar Hotéis, restaurantes táxis e o que mais entenderem pagar. Se eu mandasse, até os horários da SATA eram feitos no sentido de obrigar os continentais a pernoitarem nos Açores para fomentar o seu consumo nas nossas Ilhas. Da maneira que estão feitos, os caixeiros-viajantes chegam de manhã com as malas cheias de bugigangas e vão no voo da noite com as mesmas malas cheias de dinheiro. É por isso que o tal senhor de Boliqueime não se importava de pagar passagens baratas.
Nunca os políticos, os jornalistas, os fazedores de opinião e os economistas do poder e do contra-poder nos Açores, acharam estranham a benevolência da República para com as Regiões Autónomas no caso das indemnizações compensatórias para o transporte aéreo. Mas quando a esmola é grande o pobre desconfia e por isso, sempre tive em relação a este assunto que, como podem constatar, me é caro, uma postura muito critica. Foi Cavaco Silva, um dos melhores macro economistas do nosso país, o principal impulsionador da medida. Arranjou-se assim, uma maneira airosa de, em nome da ultra periferia e da coesão Nacional, contornar as directivas comunitárias de então e injectar dinheiro na TAP-Air Portugal, companhia que, à época, efectuava o serviço público. Além disso, em 1986, a banca com balcões abertos nos Açores tinha cerca de 2,240 mil milhões de contos em depósitos a prazo e os diferentes ministros da economia e o próprio Cavaco Silva promoveram a redução das tarifas entre os Açores e o Continente para estimular nos Açorianos o gosto pelo consumo e fazer assim circular esse dinheiro que estava tradicionalmente aforrado. Facto é que a partir do final dos anos oitenta começou a ser moda ir às compras a Lisboa.

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