28 de maio de 2020

Misturas

O Diácono Remédios, essa figura incontornável da cultura pop de XX diria do alto da sua sapiência: “Não havia nexexidade”. E foi isso mesmo que pensei ao ouvir a homilia do Domingo do Senhor Santo Cristo dos Milagres pelo Reverendo Cónego Adriano Borges. Sem querer entrar no terreno da interpretação bíblica, mas fazendo-o, eu diria que a parábola da apresentação de Jesus a Caifás, nem sequer foi feliz, bem pelo contrário, mas isso é arte que o clérigo saberá melhor do que Eu. Já a condenação de uma decisão de um tribunal, roça o domínio do inadmissível e uma tomada de partido escusada. A submissão da igreja ao poder dos homens é de longa data. Precisamente Caifás, o sumo-sacerdote contemporâneo de Jesus, disso era acusado por pactuar com os abusos de Pilatos o Juiz. Por cá, desde a fundação da nacionalidade a mescla é enorme. E mesmo no tempo do Estado laico das liberdades conquistadas, não esqueço os avisos no final das missas por esses Açores fora onde os reverendos, cheios de boas intenções, apelavam ao voto naquele partido que apontava as setas ao Céu. “Não havia nexexidade”.

In Jornal Açoriano Oriental edição de 26 de Maio de 2020

1 comentário:

Açor disse...

Caro Barata.
Estou cem por cento de acordo com o seu post e penso mesmo que ele pode ser uma razão mais para acabar com esta intromissão doentia que alguma igreja regional (e não só )teima em julgar a vida social como se os codigos jurídicos fossem os codigos canônicos com a agravante que mesmo estes não serão os actuais mas os msais retrogrados já substituidos.
É necessário que a igreja se posicione no seu lugar e deixe o que é de César(não com confundir com a personagem regional)a César e à igreja o que é da igreja, ainda por cima por vivermos num estado laico (embora não pareça )...

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