17 de fevereiro de 2019

A Europa vai a votos conturbada.


A 26 de Maio próximo, domingo das festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a Europa vai escolher os seu mais diretos representantes no parlamento da União. Nunca como agora foi esta escolha tão importante. Na verdade, os dias conturbados que se vivem e que atribulam a construção do projeto europeu de Monnet, Schuman e companhia, exigem de nós cidadãos que façamos as escolhas mais adequadas.
A Europa das frases feitas, a Europa que já foi das nações, que já foi dos estados, qua já foi das regiões só sobreviverá sendo a Europa dos Cidadãos, de facto e de direito e não apenas de parangonas e de sound bites. Quase todos os processos democráticos têm sido ameaçados pelos extremismos porque não foram capazes de resolver os problemas dos cidadãos. Na França, em Espanha, na Grécia, em Itália, na Polonia, em Portugal, na Hungria  e por aí adiante, o falhanço dos regimes tem levado ao aparecimento e recrudescimento de projetos político-partidários  com discursos radicais e extremados que não auguram coisas boas para os povos europeus.
Também no seio da União existe esse sentimento de que os políticos, auto sitiados em Bruxelas, não resolvem os nossos problemas bem pelo contrário, agudizam-nos, atiram ainda mais areia para as engrenagens nacionais e traçam a régua e esquadro regras que não se adaptam da mesma forma a todos os estados-membros.
A saída, com ou sem acordo, do Reino Unido da União Europeia; O radicalismo dos separatismos Catalão e Basco; a onda crescente de nacionalismos emergentes pela chamada crise dos migrantes do norte de áfrica, são apenas 3 exemplos das maiores ameaças que a Europa irá enfrentar nos próximos anos. Destes desafios, teremos todos que tirar ensinamentos e sermos capazes de catapultar a Europa para algo diferente do que ela tem sido até agora e desde e sua fundação ainda como Comunidade Económica do Carvão e do Aço (CECA). Estas adversidades devem potenciar soluções e não mais problemas, devem ser olhadas como desafios para construir uma europa mais solida e não para carpirmos o desaire, devem ser olhadas como indutor de mais velocidade ao projeto e não como assutado travão, devem constituir vantagem e não contratempo.
Desde o chamado Plano Spinelli, aprovado por larga maioria no Parlamento Europeu a 14 de Fevereiro de 1984, decorreram 35 anos e 6 tratados, todos eles muito importantes para o funcionamento da União mas nenhum com bases fundacionais de uma alternativa federalista, ao jeito e gosto de Altiero Spinelli, em contraponto ao que  hoje conhecemos e que tomou o alcunha de OPNI (objeto politico não identificado) uma organização de estados soberanos que gosto de apelidar de esdruxula por ter as “tónicas” em lugar diferente das restantes organizações de estados e povos que conhecemos.
Uma Europa de Estados Federados capaz de resolver os problemas dos cidadãos esvaziando alguns poderes dos Estados-membros, devolvendo subsidiariamente alguns outros poderes e representatividade às regiões, capaz de transformar os regionalismos em potenciais microestados representados nos órgãos da federação parece-me o único caminho possível para sustentar um projeto económico e social que não pode esquecer ser também um projeto politico de paz na humanidade e como tal carece de política externa própria e de uma política de defesa própria.
A discussão à volta do projeto europeu tem que ir muito para além de uma conta de deve e haver, tem que extravasar o debate em redor das perspetivas financeiras, das periferias e das centralidades, tem que ser um debate em torno do que queremos que a europa seja politicamente.
Por cá, os candidatos até agora conhecidos, são dois políticos puros que terão a oportunidade de exporem aos açorianos, no decurso da pré e campanha eleitorais, os seus pontos de vista sobre o projeto europeu, espero não caiam na tentação das contas de merceeiro e do carpir as mágoas da ultraperiferia mas acentuem as vantagens da centralidade euro-atlântica e dessa vocação de séculos.
A União carece de mais e melhores políticos e de menos tecnocratas.

In jornal Diário dos Açores edição de 17 de Fevereiro de 2019.

Ponta Delgada, 15 de Fevereiro de 2019


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