29 de julho de 2018

Você sabe onde fica Malbusca?

Na costa sul da Ilha de Santa Maria entre a fajã de aluimento da Paria  Formosa, praia de areias finas, claras e de fundos visíveis pela limpidez das suas águas,   e O Barreiro da Piedade, área de basalto alterado com milhares de anos de existência e referência para os geólogos, e ainda a  Ribeira de Maloás onde se podem encontrar, a 220 metros de altitude, uma queda de água com cerca de 20 metros de altura constituída por um conjunto de formações geológicas em disjunção prismática que, nos Açores, apenas é visível naquela parte  da Ilha de Gonçalo Velho,  em zonas recônditas da costa norte da Ilha de São Miguel entre  a Lomba de São Pedro e os Fenais da Ajuda  e na conhecida Rocha dos Bordões na Ilhas das Flores ,  pelo meio fica o planalto de Malbusca.
Trata-se de um pequeno planalto, absolutamente rural com um disperso casario típico e que já foi mais habitado do que é, que em tempos teve uma Escola Primária do Plano dos Centenários mas que hoje é apenas um lugar de passagem para turistas e de habitação para uma meia dúzia de famílias locais e outra meia dúzia de estrangeiros e  filhos da diáspora açoriana.
O que tem de especial Malbusca para estar a ser notícia há já algum tempo? Tem de especial que é ali naquele lugar que Governo Regional e investidores internacionais querem instalar um vasto campo de lançamento e aterragem de foguetes para satélites.
Diz-se que a Europa carece urgentemente de entrar nesse negócio e que Portugal tem um espaço geográfico privilegiado para receber um investimento de 200 milhões de dólares para o efeito. Ora aqui os estudos que a jeito escolhem Malbusca partem de dois pressupostos absolutamente errados. Primeiro é dizer que a Europa precisa sem saber se os Açores precisam dessa base seja para o que for. A outra é dizer que Portugal possui uma posição estratégica privilegiada quando quem detém essa posição é o arquipélago das Ilhas Açores.
Quem decide esses investimentos não sabe onde é Malbusca nem quer saber quem vive e viverá perto daquele lugar. Não quer saber da  nossa “Calçada do Gigante”, da nossa Praia ou das nossas gentes. Quem decide este tipo de investimento apenas procura um otário que permita a sua instalação no seu território em troca de uma mão cheia de promessas. Procura um deslumbrado que se deslumbre ainda mais com promessas de desenvolvimento. Procura um politico ávido de cair no goto da gente desesperançada que o sustenta.
Otários há muitos e há os que acreditam nos vendedores da banha da cobra (Santa Maria sabe bem isso o que é, já caiu em muito “conto do vigário”)e há os que acreditam em regressos ao passado glorioso da aviação civil, um passado em que uns viviam muito bem para uma grande maioria crescer em casa de chão térreo e cozinha no lar em lume de lenha.
Os políticos que vão decidir sobre este centro espacial em Santa Maria não vão cheirar a pólvora queimada nem os seus filhos vão crescer contaminados pelas radiações das antenas. Vão estar muito bem resguardados nos corredores do poder e vão ter o suficiente para viverem longe e protegidos. Mas há os políticos locais que, certamente, querem ver os seus filhos crescerem e viverem nesta terra e com garantias de viverem saudavelmente e sem estarem, daqui a uma dezena de anos, a falar de índices de doenças cancerosas elevados ou em descontaminação.
Aos políticos de cá (Santa Maria) deixo um apelo, não permitam que decidam por nós e por vós. 
Aos políticos de fora faço outro apelo, digam-nos a verdade para que possamos decidir. 
Numa altura em que tanto se fala de democracia direta e em orçamentos participativos (absurdo e negação das bonomias do sistema parlamentar), tenham a coragem de debater este assunto com seriedade e abertura com todos os interessados, caso contrário, fogo vos abrase a todos no planalto de Malbusca.

São Lourenço, 27 de Julho de 2018 

Jrnal Diário dos Açores Edição de 29 de Jukho de 2018

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