9 de julho de 2018

Man Plans God Laughs



Não, este título não é por causa do álbum dos Public Enemy, vem na decorrência do Conselho de Governo temático que se realizou na semana passada na mítica, carismática, única, harmoniosa e formosa Freguesia de Furnas.

O planeamento é uma herança de longa data que os governos da Ex União Soviética usaram e abusaram para condicionar quer a economia quer as escolhas pessoais dos cidadãos. Hoje vivemos rodeados de planos e temáticas de tal forma que já nem sabemos viver sem eles.
Mesmo a mente mais livre carece de planeamento. Se planearmos pode nada dar certo mas se não planearmos, certamente quase tudo vai dar errado.

Planear é, de facto, importante mas os planos não podem ser instrumentos rígidos. Ao invés, devem ser flexíveis por forma a serem adaptados às circunstâncias. Mas, os planos também não podem servir apenas para encher prateleiras com pastas e arquivadores cheios de papeis onde se coloca tudo que o papel tudo aceita. Há linhas mestras, diretivas gerais, até bases fundacionais e filosóficas dos planos que têm que ser materializadas no terreno e respeitadas sob pena da “ideia luminosa” se transformar em fumaça.

O Estado, neste caso a Região, não pode passar a vida a plasmar  “lapalissadas” em papel e depois arquivar tudo isso no fundo de uma qualquer buraco e nada fazer.
Em matéria de ambiente, que foi o que se tratou esta semana e haverá de ser o assunto na ordem do dia dos Açorianos e da restante humanidade nos próximos séculos, os planos têm sido subvertidos de forma escandalosa. Temos as bocas cheias de questões ambientais e as mãos borradas de glifosato, plástico, cimento e ferro. Temos  resmas de papel escrito com regras e os prevaricadores (onde se incluem na primeira linha Governo Regional e Autarquias) continuam a fazer  o que bem querem e entendem sem que nada lhes aconteça.

Não basta trabalhar para a estatística. Não basta fazer com os números do ambiente o mesmo que é feito com os números do plano de médio prazo. Carece sabermos esses números que são divulgados até que ponto estão materializados, são consequentes e têm resultados na melhoria do ambiente e assim na qualidade de vida das Populações. Não basta anunciar sermos, ou queremos ser uma região sustentável e de turismo de natureza e depois termos , milhares de viaturas de aluguer a circular nas cumeeiras das Sete Cidades. Não vale a pena falar de harmonia entre a paisagem natural e humanizada e depois permitir pórticos para “selfies” na Fajã dos Cubres. Não chega falar da produção de endémicas e depois abandona-las à sua sorte ou de novo à mercê das infestantes. Não vale de nada falar dos números da mobilidade elétrica e depois carregar baterias com energia produzida com recurso a combustíveis fosseis ou mover-se em carros de alta cilindrada. De nada serve criar reservas naturais e despejar-lhes os esgotos urbanos lá dentro. Não vale de nada falar de economia sustentável e estar, ao mesmo tempo a programar lançar foguetões queimando pólvora por cima das populações. Não vale de nada falar de recolha seletiva de resíduos e estar, paralelamente, a trabalhar para a construção de uma fornalha. Não vale de nada fazer o pregão da defesa dos nossos valores culturais e das nossas raízes e depois adultera-los tomando conta deles para fins eleitorais.

“Bem prega Frei Tomaz”. Fogo-vos-abrase

Ponta Delgada 08 de Julho de 2018



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